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Depois de 19 anos, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal e Pediátrica do Hospital Evangélico de Londrina pode fechar as portas ainda neste mês. Médicos plantonistas ameaçam deixar os cargos por causa da sobrecarga de trabalho e da defasagem nos honorários. O fechamento desta, que é considerada a segunda maior unidade neonatal do estado, pode trazer graves prejuízos ao sistema de saúde de Londrina.

De acordo com o diretor médico do hospital, Fernando Mangieri, a UTI neonatal precisa de, pelo menos, dez médicos para prestar o atendimento adequado. Atualmente, a unidade funciona com cinco profissionais. Em uma carta entregue à diretoria do hospital, a equipe médica reclama também das condições de trabalho. "Estamos trabalhando irregularmente, pois a UTI vem comportando persistentemente número de pacientes que excede o recomendado e, além disso, estamos trabalhando na ausência do médico diarista, já que o cargo não é atrativo financeiramente", diz o documento.

Há problemas também nos pagamentos aos médicos. Muitos deles realizam atendimentos para convênios sem serem conveniados. Nestes casos, as empresas dos planos de saúde fazem o pagamento ao hospital, que repassa o dinheiro aos profissionais. Esse dinheiro, segundo Mangieri, é retido pelo hospital. "Desde maio ou junho temos feito reuniões apresentando esses problemas, mas existe um fosso entre o corpo clínico e a administração do hospital", afirma.

O argumento da administração do hospital, segundo ele, é a falta de recursos. A reportagem do JL tentou ouvir o diretor do Hospital Evangélico durante toda a quarta-feira (13) e a manhã desta quinta-feira (14), mas não foi atendida. Os médicos estabeleceram o próximo dia 21 como prazo para que a situação seja revertida.

O secretário de Saúde, Francisco Eugênio de Souza, tem participado das reuniões que discutem a situação e diz que a direção do hospital aponta atrasos no repasse do SUS pelos problemas. "O atraso existe e já vem de longa data. Estamos colocando tudo em dia. Mas esse recurso sempre foi usado para custeio do hospital, não com funcionários", explicou. O atraso, segundo ele, é de R$ 350 mil, valor considerado pequeno se comparado a todo o montante de repasses que a unidade recebe.

Segundo Souza, os repasses ao Hospital Evangélico receberão incrementos neste mês. Serão R$ 300 mil para custeio do atendimento de urgência e emergência – recurso que pode ser direcionado à UTI –, o recredenciamento da unidade neonatal vai aumentar o valor das diárias de R$ 500 para R$ 800 e o incentivo do atendimento filantrópico vai passar de R$ 121 mil para R$ 244 mil.

Além desses recursos, o hospital recebe R$ 26 mil mensais da Prefeitura para manter a UTI, recursos do Mãe Paranaense e dos atendimentos particulares. "Se o principal motivo é a remuneração dos profissionais, esse é um problema das relações entre a direção do hospital e o corpo clínico", avalia o secretário.

Alternativa

Se o fechamento ocorrer, a Secretaria Municipal de Saúde terá um grande problema para resolver. A UTI neonatal do Evangélico é a única na cidade e atende a toda a região de Londrina. "Se fechar, vamos ter de buscar recursos emergenciais para ativar a UTI do Hospital Universitário", pondera Souza.

O secretário lembra, no entanto, que o credenciamento do hospital com o sistema público de saúde está vinculado ao funcionamento da UTI. "Para receber os repasses, o hospital precisa mantê-la funcionando."

Ministério Público

O promotor de Direitos Constitucionais, Saúde Pública e Saúde do Trabalhador, Paulo Tavares, também acompanha as discussões. Um procedimento administrativo foi aberto por ele, pedindo que a Secretaria Municipal de Saúde e o Hospital Evangélico tomem as medidas necessárias para impedir o fechamento da unidade.

"É uma situação muito séria porque essa UTI é referência na região, tem baixos índices de mortalidade e seu fechamento traria consequências terríveis", avaliou Tavares.

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