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Brasília – Uma dupla de agentes especiais que fala inglês e alemão, treinada diariamente desde que nasceu e com dedicação exclusiva ao trabalho desembarca em junho no Paraná. Luna e Lisa serão os cães de guarda da Polícia Federal (PF) em Foz do Iguaçu e Paranaguá. Pela primeira vez, a PF do estado contará com cachorros farejadores fixos para o combate ao tráfico nas duas principais portas de entrada de drogas no território paranaense.

As duas, de 1 ano e meio cada uma, fazem parte da elite da polícia. Nasceram e foram criadas no Serviço de Canil Central (Secan), vinculado à Coordenação-Geral de Polícia de Prevenção e Repressão a Entorpecentes da PF, em Brasília. O setor completa 20 anos de serviços no ano que vem e é referência na América Latina.

Atualmente, há apenas 30 farejadores "puros" como Lisa e Luna espalhados pelo Brasil. Ter o direito de receber um deles, entretanto, não é tarefa simples. Primeiro, é necessário construir um espaço especial para o animal e, o mais complicado, conseguir um agente que esteja disposto a treiná-lo.

"Não é qualquer um que leva jeito para agüentar o serviço", alerta o agente responsável pelo Secan, Toscanini Batista. Há vários motivos para escapar da carreira de guia. O primeiro deles é que o voluntário precisa passar por um teste de aptidão para o trato com os bichos, que dura 20 dias.

Nesse período, o policial é obrigado a fazer de tudo com os cachorros, de nadar a dormir. Se ficar comprovado que ele tem o perfil exigido, começa o treinamento de verdade. São 75 dias de programa, nos quais a convivência pode ser insuportável.

Renato Couto, agente em Paranaguá, conta que teve afinação total com Lisa. "Não teve como não gostar dela, é alegre e esperta", diz. Segundo o policial, o principal trabalho da cadela será vistoriar contêineres de navio e ajudar no combate ao crack.

O colega dele, Jean Pierre Leite, está ansioso para chegar a Foz com Luna. "É a ferramenta que precisamos para uma área em que o trabalho é difícil", afirma. Além da tríplice fronteira, o cachorro também irá atuar no aeroporto da cidade.

Esse casamento entre guia e cão é mais sério do que se imagina. Tanto que a união também vai para o papel. O agente precisa se comprometer formalmente com o trabalho e a parceria com o cachorro por pelo menos três anos.

A medida é uma maneira de evitar prejuízos, afinal os farejadores são patrimônio da União e há um custo pela manutenção do curso e do animal. Cada cão a ponto de começar os treinos vale US$ 4,5 mil dólares (R$ 9 mil). Eles são aposentados após sete anos de trabalho.

Couto e Leite ainda passarão por uma prova antes de acabar as aulas, na próxima quarta-feira, mas a possibilidade de reprovação é pequena.

O curso é dividido basicamente em duas etapas. Na primeira, é desenvolvida a empatia entre o guia e o cão. "Precisamos adaptar a personalidade da dupla: um agente agitado precisa de um cachorro calmo e vice-versa", explica Batista.

Depois dos primeiros dias começa a parte técnica de aprendizado de comandos e busca. A PF adota uma mistura das escolas inglesa e alemã. Por isso os comandos são dados nas duas línguas, como uma maneira de unificar e criar uma doutrina de adestramento no país.

Na verdade, o treinamento dos cachorros vem de berço. Eles são observados entre os irmãos e, de acordo com os primeiros traços de comportamento, selecionados. Para ser um bom agente, além de ter um bom faro o cão precisa ser corajoso para encarar o barulho de uma turbina de avião ou o vai-e-vem de uma multidão sem ficar agressivo.

Depois disso, eles passam a viver isoladamente e a se relacionar com alguns objetos. É na infância que começa a "brincadeira" com o faro. Eles são normalmente criados com jogos em que um tubo de PVC com cheiro de diferentes drogas – principalmente maconha, cocaína, crack e ecstasy – são o prêmio.

Na segunda etapa do treinamento com o guia, o que antes era diversão se transforma em trabalho. Na hora de pegar no batente, há uma série de normas. Entre elas, o cão só começa a busca após colocar o uniforme – um colete que cobre o seu peito.

Durante o caminho, é fácil de ver se a droga está longe ou perto. "O rabo serve como um radar. Quanto ele mais abana, mais próximo de cumprir o objetivo está", afirma Batista.

Se o cão cumpre a missão, vem o prêmio – o tubo de PVC, palavras de incentivo e, é claro, um cafuné. "Já quando ele se comporta mal, recebe um não. Acho que essa também é a pior palavra para um ser humano, concorda?"

Lisa e Luna, segundo Batista, colecionam mais "sim" – seja em alemão ou inglês. Nesse caso, certeza de palavra ruim para os traficantes na fronteira marítima e terrestre do Paraná.

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