
Ponta Grossa O ritmo do trabalho dos monges beneditinos do Mosteiro da Ressurreição, em Ponta Grossa, rouba o silêncio típico do lugar e é um contraste com o período de reclusão e reflexão exigido durante a quaresma. Os religiosos alternam seus momentos de meditação e oração com a produção dos círios pascais que irão iluminar as igrejas pelo Brasil, a partir do domingo de Páscoa.
O projeto é renovado a cada ano, e começa a ser trabalhado tão logo as encomendas são entregues. Para este ano a previsão é vender mil peças. É como se todas as paróquias paranaenses ostentassem um círio beneditino. Mas as velas sagradas fazem sucesso mesmo em São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. Os monges nem fazem questão que o produto vá para muito mais longe, porque o frete é caro e há riscos. Mesmo cuidadosamente embalado em plástico-bolha, duas caixas de papelão e uma de madeira muitas vezes a vela se parte antes de chegar ao destino.
O modelo de 2007 substitui detalhes em resina por aplicações em chumbo. A mudança vai ajudar na montagem da peça, além de deixá-la mais bonita. O projeto, definido pelo conselho artístico do mosteiro, alia aspecto rústico e artesanal com recursos contemporâneos de produção e comercialização.
Os apliques de chumbo foram feitos por um químico especializado. O aumento na produção das velas no ano passado foram 800 peças forçou uma parceria com os freis capuchinhos da cidade, que ficaram com o trabalho de derreter a parafina, moldar e colocar o pigmento colorido e o pavio. Para ajudar na montagem e embalagem e assim cumprir os prazos de entrega sem precisar interromper as rotinas obrigatórias do mosteiro foi contratado um funcionário. Para completar a modernização do processo, a divulgação dos produtos é feita por folders enviados por mala- direta para as paróquias e também por meio de uma página na internet, onde é feita a maioria dos pedidos. Encomendas especiais como o de uma religiosa de Boa Vista, em Roraima. Todos os anos ela faz o pedido com antecedência para garantir a entrega a tempo de fazer a doação para a igreja que freqüenta.
Irmão Joaquim, um dos responsáveis pela produção das velas, conta que a preocupação dos beneditinos é com o enfraquecimento da simbologia. A tentativa de aproximar o rito da população leiga, muitas vezes, passa pela supressão daquilo que não é facilmente compreendido. Para os monges, esse caminho não é o melhor porque simplifica o que é complexo. "É importante que as pessoas olhem o símbolo no círio e se perguntem o que isso significa", explica.



