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Cerca de 50 madeireiras funcionam na cidade de Buriticupu, município de 60 mil habitantes do oeste maranhense. Lá, até os policiais têm medo de dizer de onde provém as toras recém cortadas que chegam nos caminhões.

A denúncia do desmatamento na região partiu de um internauta, que enviou um e-mail ao Globo Amazônia, e foi checada em campo pela equipe do Fantástico.

"O clima em Buriticupu sempre foi hostil. É considerado o faroeste maranhense. A cidade foi crescendo, desmatando. É comum eles [os madeireiros] extraírem a madeira deles em qualquer lugar que possam", declarou um policial que não quis se identificar.

O próprio Ibama local reconhece que entre as áreas onde ocorre a extração irregular estão terras indígenas das reservas Guajajara, Awa-Guajá, Alto Turiaçu e Gurupi. Elas somam quase 16 mil quilômetros quadrados, onde vivem mais de 10 mil índios.

A equipe do Fantástico, seguindo coordenadas passadas pelo Ibama, sobrevoou parte da reserva Guajajara, e encontrou sinais de desmatamento. A visita por terra foi desaconselhada pelas autoridades locais, pois havia risco de confrontos.

"É o alvo dos madeireiros para extração da madeira, com total apoio dos índios. Os índios formam aqueles grupos, contratam pessoas. É muita gente a trabalho do crime ambiental aqui na região", denuncia o chefe regional do Ibama, Alfredo dos Santos Filho.

O chefe local da Funai, Sérgio Murilo Rego, afirma desconhecer o envolvimento dos índios. "Eu não posso afirmar que é verdade a participação destes caciques. É possível que sim. Se existir, é bom até que a Funai e outros órgãos saibam, porque às vezes nem sempre é só o madeireiro [que desmata]", afirma.

Segundo o Ibama, pelo menos 60% da floresta que havia nas terras indígenas maranhenses já foi transformada em carvão ou acabou nas madeireiras.

Falta de estrutura

No município de Zé Doca, a cerca de 60 quilômetros dali, uma serraria lacrada pelo Ibama por não ter documentação voltou a funcionar sem autorização. Na época da fiscalização, foram apreendidas 354 toras, que acabaram ficando no pátio da empresa, pois não havia para onde levá-las. O dono do local alega que a documentação está em ordem, e por isso a serraria foi reativada.

A insegurança na região é tanta que até a polícia desistiu de lutar contra os madeireiros. No ano passado, depois de uma fiscalização em Buriticupu, policiais tiveram que fugir de pessoas revoltadas.

"O clamor da população era que a fiscalização fosse embora para que eles voltassem à rotina deles, que é desmatar. A polícia em si tem muita dificuldade para fazer o trabalho, por falta de efetivo", relata o policial que não quer se identificar. Um posto de fiscalização chegou a ser destruído por trabalhadores de serrarias, revoltados com as operações que ocorriam ali.

A situação do Ibama local não é muito diferente. "Hoje temos uma viatura e quatro pessoas para atender 37 municípios. É pouco demais. O ideal seriam três viaturas com 12 pessoas para fazer o trabalho a contento", reclama o chefe regional do órgão.

Para Urquiza Junior, delegado da Polícia Federal, responsável por investigar os crimes ambientais na região, é necessário mais rigor na punição. "A pena prevista para o crime de desmatamento é muito branda. Já tivemos vários casos em que uma pessoa, em um intervalo de 15, 30 dias foi presa cinco ou seis vezes cometendo o mesmo crime. Se nós não pudermos manter essas pessoas fora da atividade, não haverá efetividade das ações", reclama.

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