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Exílio involuntário

Mãe e filha se reveem depois de 38 anos

Dona Zeni, que diz ter sido vítima de maus-tratos em Curitiba, reencontra a família no interior do estado e diz que está começando vida nova

Separação finalmente chega ao fim: Zeni abraça a mãe, Iracema, e diz que vai permanecer morando em Laranjeiras do Sul | César Machado/ Gazeta do Povo
Separação finalmente chega ao fim: Zeni abraça a mãe, Iracema, e diz que vai permanecer morando em Laranjeiras do Sul (Foto: César Machado/ Gazeta do Povo)

Laranjeiras do Sul - A história de uma separação entre mãe e filha que durava 38 anos chegou ao fim na tarde de ontem em Laranjeiras do Sul, região Centro-Oeste do estado. Iracema Pereira da Rosa, 77 anos, reencontrou a filha Zeni Za­­velinski da Rosa, 54 anos, que foi retirada da família por determinação da Justiça em 1971, quando ela tinha apenas 15 anos. Desde então, Zeni nunca mais teve contato com os familiares.

Zeni foi adotada por um casal que residia em Laranjeiras e posteriormente mudou para Irati. Mais tarde, uma nova mudança levou-a para Curitiba, onde o casal que a mantinha reside até hoje. Segundo ela, na casa onde vivia era agredida com frequência. "Ela me batia com vassoura, me batia na cabeça, no braço, me dava paulada", conta sobre a mulher com quem morava. Nas poucas vezes em que saía de casa, segundo ela, era pra ir à missa ou fazer compras. "Depois nem na missa ela deixava ir", afirma. As denúncias de maus-tratos e cárcere privado estão sendo investigadas pela polícia.

Um grupo de aproximadamente 20 pessoas, todos parentes de Zeni, aguardou com an­­siedade sua chegada a La­­ran­jeiras. A longa espera terminou quando Zeni desembarcou, às 14 horas, na cidade. A mãe, emo­cionada, não tirou os olhos da filha enquanto ela caminhava em sua direção. Um abraço tímido, sob o aplauso de familiares e curiosos, selou o reencontro.

"Achei ela mais magra", foi a primeira reação da mãe ao ver a filha. Ela lembrou o dia em que Zeni foi retirada de casa e levada em um carro vermelho pelo oficial de Justiça. Em poucas palavras, disse que agora vai cuidar de Zeni. "O quarto dela está arrumado lá em casa", disse.

De acordo com Zeni, ela sempre quis reencontrar a família em Laranjeiras, mas sempre que falava sobre os familiares o casal respondia que todos estavam mortos. "Um dia eu até perguntei pro padre: será que eu vou encontrar minha mãe um dia?", relata. "Desde 88 eu estou tentando sair de lá (da casa), mas eu não conseguia. Eu estava confiante de que iria encontrar", disse, sorridente.

A partir de agora, ela vai morar com a mãe na localidade de Rio Laranjeiras, na zona rural do município. Zeni está eufórica com a nova moradia. "Agora é outra vida, vida nova", resume. A mulher que nunca votou e mal sabe escrever o nome disfarça ao ser questionada se durante esse tempo teve algum namorado. "Tive, mas não deu certo", desconversa.

Amauri Pereira Zavelinski, 74 anos, tio de Zeni, foi até Curitiba para buscá-la junto com uma assistente social. Segundo ele, durante a viagem Zeni se mostrava alegre. "Ela falava que agora ia ter outra vida, que não iria sofrer tanto", conta.

Pedro da Rosa, 47 anos, irmão de Zeni, diz que nunca perdeu a esperança de reencontrá-la. "Eu achava que ela estaria muito mais velha", diz. Segundo ele, a família vai se unir para cuidar dela.

Indenização

A advogada Rosa Elci dos Anjos diz que vai analisar tudo o que aconteceu e posteriormente mover uma ação por indenização contra o casal que abrigou Zeni durante esse tempo todo. "Eu acredito ser cabível, neste caso, uma ação de indenização por danos morais. Além do fato de essa pessoa ter sofrido, não receber salário, tem a agressão moral e psicológica, que é o pior tipo de agressão que existe", enfatiza.

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