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Indiferença marcou hipnose

Antes do depoimento no Sicride, Karla Cassiane Ponfrecki aceitou se submeter a uma sessão de hipnose no Instituto de Criminalística (IC) do Paraná ontem de manhã. A intenção era obter informações mais detalhadas sobre o suposto homem que teria levado Nicole – versão defendida pela moça até o depoimento no Sicride. Entre as informações que a polícia pretendia obter pela regressão estava o número da placa do automóvel, que, conforme o relato inicial de Karla, seria um Kadett preto. "O objetivo era recuperar possíveis informações que ela tivesse esquecido pelo impacto do trauma", argumenta o médico psiquiatra Rui Sampaio, coordenador do Laboratório Forense de Hipnose do IC e que comandou a sessão.

Na regressão, Sampaio afirma que Karla manteve a mesma versão, o que indica dissimulação, segundo o médico. Mesmo assim, o relato levantou suspeita. Tudo porque mesmo hipnotizada Karla manteve uma postura de certa indiferença em relação ao desaparecimento da filha. "O comportamento dela não era compatível com o de uma vítima de um trauma tão grande como esse."

Além disso, o depoimento não condizia com o lugar onde o corpo da criança foi encontrado. Segundo o relato inicial de Karla, o Kadett teria ido em direção à avenida principal do bairro em que vive, a Presidente Faria. Entretanto, o corpo estava no sentido oposto, a cerca de 500 metros de distância de onde Karla mora.

A delegada Márcia Marcondes, da Delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, confirmou que a mãe de Nicole será submetida a mais exames para se confirmar a real causa da morte do bebê. (MXV)

De vítima à ré. A mulher que há três dias foi à imprensa denunciar que a filha de apenas 40 dias fora roubada por um homem de seus braços é, na verdade, a responsável pela morte de Nicole Eduarda Pronfecki Guedes. Depois de horas sendo interrogada pela polícia ontem, Karla Cassiane Pronfecki, 19 anos, disse que derrubou acidentalmente a criança.

Na nova versão, ela amamentava o bebê e, ao se levantar para fazer a criança arrotar, Nicole teria escorregado e batido a cabeça no chão. A mãe teria tentado reanimar a criança sem sucesso. Com receio da reação da família do pai do bebê, ela teria saído de casa com Nicole já morta e escondido o corpo. O relato foi feito após o corpo da menina ser encontrado em uma valeta.

A polícia solicitou à Justiça a prisão preventiva de Karla. Ela responderá pelos crimes de homicídio, ocultação de cadáver e falsa comunicação de crime. Somadas as penas, Karla pode ser condenada a 25 anos de prisão.

Mesmo com o depoimento, o caso ainda não está totalmente desvendado. "A hipótese de homicídio doloso (com intenção) não está descartada", afirma a delegada da Delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, Márcia Marcondes.

O corpo de Nicole foi encontrado ontem, por volta das 12 horas, em uma valeta de um terreno baldio, próximo da Rua Olímpio Cardoso, a cerca de 500 metros da casa da família do bebê, no bairro São Dimas, em Colombo. Nicole foi encontrada por garotos. O bebê não estava enterrado e foi encontrado de bruços, com as vestimentas descritas pela mãe no momento do desaparecimento. Levado para o Instituto Médico Legal (IML), o corpo foi reconhecido pelo pai de Nicole, Alex Thiago Ribeiro Guedes, 20 anos. "Desde o início não descartamos a hipótese de que Karla tivesse matado a criança, pois a cada depoimento ela mudava pequenos detalhes", afirma Márcia.

Depois que o corpo foi encontrado, Karla foi levada ao Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride) para novo interrogatório. "Ela se mostrava muito fria e só esboçou reação depois que confessou, aí ficou bem emotiva", relata a delegada titular do Sicride, Daniele de Oliveira Serighelli.

O Sicride solicitou também um mandado de busca e apreensão na residência do casal. Além disso, o Instituto de Criminalística (IC) do Paraná coletou sangue dela e de Guedes para exames. Um deles é de DNA para confirmar a paternidade de Nicole.

Familiares do pai de Nicole, com quem Karla morava desde dezembro, afirmam que a moça nunca teve comportamento que a desabonasse. A sogra de Karla, Ziza Aparecida Ribeiro Guedes, diz que ela era boa mãe e que dedicava toda atenção a Nicole. Segundo Ziza, Karla também não tinha problemas de relacionamento com a família e nem apresentava indícios de tristeza. "É difícil acreditar que ela tenha feito isso, porque ela era muito carinhosa com o bebê", afirma Ziza.

De estranho, Ziza e a bisavó de Nicole, Zélia dos Santos, consideraram apenas a atitude de Karla no dia do desaparecimento. Conforme afirmam ambas, mesmo em um dia frio, ela levou pouca roupa para agasalhar a criança e a si mesma, bem como não carregou nenhuma mamadeira. "Nem frauda ela levou", aponta Zélia.

O corpo de Nicole foi velado durante esta madrugada no Cemitério São Gabriel, em Colombo. O bebê será enterrado hoje de manhã.

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