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análise

Maioridade: Tráfico e roubo qualificado são as infrações mais frequentes

Mesmo com estatísticas nacionais precárias, dados de SP indicam que esses são os atos praticados pela maioria dos menores que cumprem internação

Por falta de estatísticas oficiais, não é possível mensurar ainda o impacto que terá a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos no país. O que se pode dizer, por enquanto, é que, se a mais recente versão da proposta virar lei — excluindo da lista de delitos que levariam um menor a ser julgado como adulto casos de roubo qualificado e, talvez, o tráfico de drogas —, a redução da maioridade penal será aplicada a uma parcela menor dos adolescentes em conflito com a lei.

Os atos infracionais análogos aos crimes de roubo qualificado e tráfico de drogas respondem hoje por mais da metade dos casos de internação de menores no país, segundo os dados disponíveis. O estado de São Paulo, que tem a maior população de adolescentes infratores, serve de termômetro. O último boletim estatístico paulista, divulgado em junho, mostrou que 82% de 9.964 menores estão cumprindo internação por terem cometido um desses dois delitos. Isso representa quatro em cada cinco internos. Roubo lidera a estatística paulista (42,9%), e o tráfico ocupa a vice-liderança (39,4%).

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado este ano dá uma ideia do cenário nacional. Em 2013, 70% dos atos praticados por menores foram roubo qualificado (quando há uso de arma de fogo ou cometido por duas ou mais pessoas) e tráfico de entorpecentes. Não há estatísticas nacionais sobre a participação de menores no total de crimes praticados no país. Cada estado tem o seu próprio levantamento sobre a situação dos menores infratores e não existe uma obrigatoriedade de comunicá-lo a um sistema federal.

Outro lado dessa discussão sobre a maioridade penal é o impacto para o sistema prisional. É fato que a nova versão apresentada ontem para a PEC na Câmara diminui a sobrecarga no sistema penitenciário, já superlotado e com baixas taxas de recuperação de criminosos. Mesmo assim, os números são expressivos.

A maioria dos adolescentes internados tem mais de 16 anos. Em São Paulo, eles são 79%, um contingente de 7.945 jovens. Num sistema prisional em que o déficit de vagas tornou-se um problema crônico, eles aumentariam em 3,6% a população carcerária do estado. Muitos estados, entretanto, são simpatizantes da redução da maioridade penal porque o custo de um presidiário para o estado é bem menor do que o de um adolescente internado.

Em relação ao tráfico de drogas, se o delito for mantido na lista da PEC da redução da maioridade penal, a Câmara dos Deputados terá optado por um caminho que vai na contramão do que decidiu recentemente o Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2012, a Corte editou súmula estabelecendo que “o ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de internação do adolescente”.

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