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Transporte

Mais ciclovias seguras são desejo de curitibanos

Confira na terceira e última matéria da série sobre o presente que Curitiba deveria ganhar em 2012 porque ter mais espaço para bicicletas tornou-se um dos principais desejos dos habitantes da capital

Daniel Marques: ele fugiu do empurra-empurra do ônibus e decidiu encarar os 11 quilômetros até o trabalho sobre duas rodas | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Daniel Marques: ele fugiu do empurra-empurra do ônibus e decidiu encarar os 11 quilômetros até o trabalho sobre duas rodas (Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo)

Ganhar uma bicicleta no fim de ano é um dos principais desejos das crianças ao redor do mundo. Em Curitiba, quem já tem uma sabe muito bem o que pedir agora: uma estrutura urbana que possibilite retirá-las da garagem e tomar a cidade com as magrelas. Esse foi o resultado da pesquisa feita entre os leitores da Gazeta do Povo sobre o presente que Curitiba deveria receber em 2012.

Entre as sugestões enviadas por leitores e internautas, a ampliação da rede cicloviária curitibana ficou atrás apenas de outros dois pedidos de "presentes" para o próximo ano: políticos mais honestos e compromissados e uma cidade mais segura.

Disputando espaço diante da frota de 1,2 milhão de veículos – a maior do estado –, as bicicletas em Curitiba têm angariado simpatizantes que vão além dos usuários ocasionais. Não há estudos que calculem com objetividade o tamanho desse grupo, sabe-se apenas que ele cresce em um ritmo muito maior do que o da infraestrutura cicloviária, ainda deficiente. Assim, não é surpresa que o pedido por mais espaço e segurança para as bikes tenha se destacado entre os leitores.

Os cicloativistas podem se orgulhar de ter um discurso afinado, ancorado, muitas vezes, nos erros e acertos dos gestores públicos. Neste ano, eles viram surgir tanto um dos principais instrumentos técnicos de incentivo ao transporte sobre duas rodas, o Plano Diretor Cicloviário, quanto equívocos, como o lançamento de duas ciclofaixas: uma no Centro, de uso restrito a um domingo por mês; outra, de apenas 75 centímetros – a metade da distância adequada –, na Avenida Marechal Floriano Peixoto. Nesse último caso, a prefeitura admitiu o erro e prometeu fazer os reparos necessários.

Para 2020

Mas as mudanças radicais no trânsito da cidade só deverão ser sentidas a longo prazo. A meta do Ins­tituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc) de Curitiba é au­­mentar a rede cicloviária dos atuais 120 quilômetros para 300 quilômetros. Entretanto, a promessa é para que isso ocorra até 2020, dentro das diretrizes do Plano Diretor Cicloviário. Por outro lado, projetos mais recentes voltados à Copa do Mundo de 2014, como a requalificação da Avenida das Torres, já incluirão o espaço para os ciclistas – na Avenida Co­­mendador Franco, serão 10 quilômetros com faixas de sentido único nos dois lados da rodovia.

"Acredito que qualquer mudança só vai se concretizar no momento em que os projetos voltados à Copa começarem a sair do papel. Hoje, o pensamento (dos gestores públicos) ainda é focado e direcionado ao planejamento do transporte coletivo, negligenciando a opção pelas bicicletas", avalia o arquiteto e urbanista Rafael Sindelar Barczak, mestre em Gestão Urbana.

Mobilização

Há quem seja mais otimista. Para o coordenador do Programa Ciclovida, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), José Carlos Belotto, que, assim como Barczak também é ciclista, a forte mobilização dos cicloativistas têm forçado o poder público a dar respostas. A nomeação do advogado Marcelo Araújo para comandar a recém-criada Secretaria Municipal de Trânsito também foi vista com bons olhos pelos bikers: no fim de novembro, antes mesmo de assumir a pasta, Araújo percorreu de bicicleta alguns trechos da cidade para conferir in loco os desafios a que os ciclistas são submetidos. "Durante muito tempo, a prefeitura tentou resistir, fechar os olhos, mas esse ano ela percebeu que não dá mais para menosprezar o potencial da bicicleta como uma opção de transporte para boa parte da população", afirma Belotto.

Ele deixou o Inter 2 para não mais voltar

O engenheiro Daniel Marques tem uma relação de longa data com a bicicleta. Ao ser questionado sobre há quanto tempo se aventura em duas rodas pelas ruas de Curitiba, ele enruga a testa, pensa, olha para o alto. "Pedalo desde antes da faculdade", arrisca. Se a lembrança daquele primeiro contato é fugaz, o motivo para adotar de vez a bike como principal meio de transporte é resgatado com facilidade.

"Um dia, como sempre fazia de manhã cedo, peguei o Inter 2 (ônibus) e ele estava lotado. Era aquele empurra-empurra, eu agarrando a mochila, batendo nos outros. Comecei a passar mal. Daí decidi: nunca mais", relata Daniel.

Ele cumpriu a promessa. Largou o ônibus e ainda tenta se desvencilhar de vez do carro, que só sai da garagem duas vezes por semana, e olhe lá. Fácil não é. Afinal, são 11 quilômetros até o trabalho, da Vila Izabel à Vila Oficina, percorridos em trinta minutos, em meio a carros, caminhões, ônibus e o que mais transitar por cima do asfalto. Ciclovias no caminho? Um trecho aqui, outro ali.

Daniel não está sozinho. As reivindicações de ciclistas por mais infraestrutura e segurança em Curitiba ecoam por todos os lados, das mídias sociais até as esquinas do Centro. O barulho é alto e só tende a aumentar, garantem os "cicloativistas". O presente é pedido há tempos. Enquanto isso, haja paciência – e cuidado – na hora de pedalar.

"A bicicleta está se tornando parte do transporte dos curitibanos, mesmo com todo o risco de se locomover com esse modal. Quando houver uma boa estrutura, haverá ainda mais gente deixando seus carros em casa, em favor de uma cidade mais limpa e saudável", argumenta o engenheiro.

E se a busca por uma melhor qualidade de vida e a defesa do meio ambiente não forem argumentos suficientes para quem ainda opta pelo carro, Daniel tem outro na ponta da língua. "Ah, e andar de bicicleta emagrece também". Pronto. Quer motivo melhor que esse?

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