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Comportamento

Mais espertas, crianças do século 21 surpreendem os pais

Valentina Zonato tem pouco mais de 2 anos de idade e já sabe ligar e mexer com o computador. O diálogo que estabelece com os adultos é comparável a uma conversa de gente grande, capaz de surpreender qualquer um com as ironias que faz. Já João Victor de Souza, 4 anos, tem no seu quarto um verdadeiro aparato tecnológico – computador, televisão e videocassete – e se diverte mais com brinquedos que não são dirigidos às crianças da sua idade. Valentina e João são exemplos de crianças do século 21 com pequenas atitudes que trazem à tona um questionamento. Seriam elas mais inteligentes do que os pequeninos de antigamente?

Dona de uma loja de decorações, Kylviane Priscila Zonato, 30 anos, se surpreeende com as atitudes de suas filhas, a Valentina citada acima, e Camila, de 11 anos. Ela acha que as meninas são muito espertas e isso não é apenas um elogio de mãe. Segundo Kylviane, Valentina consegue estabelecer conversas que não seriam próprias para a sua idade. "Ela tem umas tiradas muito interessantes e é até irônicas", diz.

Já Camila chama a atenção por ter um senso de responsabilidade de deixar qualquer pessoa um pouco mais organizada de queixo caído. "Ela sempre fez todas as suas tarefas escolares sem ninguém precisar ficar chamando a atenção", relata a mãe.

Como parâmetro para medir a "alta dose" de inteligência das suas filhas, a empresária usa o contato que teve com os seus cinco sobrinhos (o mais velho tem 22 anos) e faz uma comparação até com ela mesma, quando era menina. "Elas parecem que são mais despachadas e independentes. A gente era bem mais bobinha. A diferença é muito grande", comenta.

A percepção de Kylviane, comum a muitos pais e avós, tem respaldo científico. Uma pesquisa divulgada em julho deste ano pelo Laboratório de Avaliação das Diferenças Individuais (Ladi), do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) constatou que o Quociente de Inteligência (QI) das crianças belo-horizontinas com idade entre 7 e 11 anos é, em média, 17 pontos maior que o de meninos e meninas da mesma faixa etária que moravam na capital mineira em 1930. A pesquisa, coordenada pela professora Carmen Mendonza, foi feita com base em dados apurados em 2002.

A professora atribui a elevação da capacidade cognitiva dos meninos e meninas às melhorias nas condições de saúde, higiene e alimentação. "Hoje, a maioria das mães realiza exames pré-natal e têm a preocupação de levar os filhos ao médico. As crianças de hoje também são mais estimuladas e o acesso à informação é muito maior." A pesquisadora ainda complementou os estudos com dados coletados em 2004 entre crianças do meio rural, da mesma faixa etária, que demonstram que elas têm QI similares com os apresentados pelas crianças que moravam em Belo Horizonte, em 1930.

O estudo realizado pelo Ladi é o primeiro no mundo, segundo a UFMG, a abranger um intervalo de tempo acima de 70 anos e foi possível graças a uma pesquisa realizada pela educadora russa Helena Antipoff, que mudou-se para o Brasil em 1929. Assim que chegou a Belo Horizonte, Antipoff começou a estudar o desenvolvimento intelectual das crianças mineiras e, em 1931, publicou um livro apresentando os resultados de suas pesquisas. "Isso é uma novidade para a comunidade científica nacional e internacional. Geralmente, os estudos de ganho cognitivo entre gerações compreendem um intervalo de 30 a 50 anos", afirma.

A publicitária e professora universitária Juliana Pereira de Souza, 30 anos, mestranda em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná, realiza um estudo que defende que o imaginário infantil está relacionado com o contato que as crianças possuem com os meios de comunicação de massa. "Eu não acho que seja uma questão de ser mais inteligente, mas as crianças de hoje recebem mais informação, tem um contato maior com os meios de comunicação e isso é refletido na aprendizagem", constata.

Juliana é mãe de João Victor, citado no início da reportagem, que já acessa a internet de dentro do próprio quarto. A publicitária define seu filho como perspicaz. "Ele não é infantilizado e gosta de brinquedos que geralmente são comuns a crianças de 10 e 11 anos." Em seu estudo, Juliana aborda que os brinquedos da moda estão relacionados com a informação que é transmitida pelos meios de comunicação e alerta que eles podem criar um bloqueio no imaginário infantil. "Às vezes, eles se apegam tanto com os meios que deixam de desenvolver o aprendizado através de um livro, pintura ou outros tipos de brinquedos que não usam a tecnologia."

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