Santos - Entre as 680 toneladas de lixo despachadas em 25 contêineres da Inglaterra para o Porto de Santos, uma sacola plástica do supermercado britânico Morrisons avisa: "Reutilizar sacolas ajuda a proteger o meio ambiente." O que os consumidores ingleses não sabiam é que, ao virar lixo, a sacolinha teria como destino o Brasil e viraria crime ambiental. Com as sacolinhas, encontradas na sexta-feira durante vistoria do Ibama, estão embalagens usadas no transporte de produtos químicos industriais da empresa britânica Albion Chemicals, bombonas plásticas para transporte de corrosivos, óleo queimado, tinta, cápsulas de gás e muito lixo eletrônico entre os quais, ironicamente, centenas de DVDs com um documentário de 2008 sobre o processo de mudança climática.
Os contêineres vieram dos portos ingleses de Tilbury e Felixstowe e estavam abandonados desde novembro no terminal Localfrio, no Guarujá, despachados pelas empresas exportadoras Worldwide Biorecyclabes Ltda. e UK Multiplas Recycling Ltda. A carga, transportada pela multinacional de navios MSC, entrou ilegalmente no país, declarada pela importadora brasileira Bes, de Bento Gonçalves (RS), como "polímeros de etileno" (plástico reciclável).
A conclusão é que na maior porta de entrada e saída de produtos no Brasil, o Porto de Santos, não há fiscais suficientes para vistoriar cargas perigosas. A equipe local, com apenas cinco fiscais, não atua nos contêineres com mercadorias importadas como nos 41 já localizados contendo 970 toneladas de lixo tóxico vindas da Inglaterra. "As empresas declaram uma coisa, mas transportam outra. Sem fiscalização, você imagina quanto lixo já deve ter passado por esse porto", desabafa o chefe de fiscalização do Ibama em São Paulo, Antonio Ganme.
Segundo Ganme, o Ibama tem 46 fiscais para todo o estado de São Paulo. "Todos os órgãos fiscalizadores no Brasil são deficitários", diz. "Trabalhamos com planos para a proteção da Mata Atlântica, de corpos dágua e projetos industriais de maior impacto."
A Bes e a MSC foram multadas em R$ 155 mil cada uma. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente do Guarujá pretende notificar o terminal e entrar com pedido para que o Ministério Público acelere o envio da carga para a Inglaterra. "O óleo hidrocarboneto é tóxico e, nesse local, próximo do Porto de Santos, pode chegar à água e afetar a biodiversidade local", afirma Ganme.
A exportação de lixo doméstico para o Brasil viola a Convenção Internacional da Basileia, da qual o país é signatário. Em Santos, outros 16 contêineres com 293 toneladas de lixo haviam sido descobertos no dia 6. Com mais essa descoberta, já chegam a 89 os contêineres de lixo inglês despachados para o Brasil.
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