
O transporte coletivo de Curitiba vai ter de passar por mudanças nos próximos anos para se adaptar ao crescimento do número de passageiros. A previsão do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc) é que, daqui a dez anos, sejam 700 mil usuários por dia somente nas linhas que ligam a região norte e sul da cidade, quase o dobro do que é hoje, 420 mil. Nesse trecho, a capacidade está no limite, com um biarticulado a cada 50 segundos e o sistema dá sinais de esgotamento. Não há como aumentar o número de ônibus que já se amontoam nas estações-tubo e nem como aumentar a capacidade de cada veículo, que hoje é de 270 passageiros.
De acordo com o Ippuc, o número de usuários do transporte coletivo do eixo sul/norte equivale ao fluxo da maior linha do metrô de São Paulo. Daí a urgência em adotar o modal. A previsão é que as obras estejam concluídas somente daqui a 6 ou 8 anos. Enquanto isso, os técnicos do Ippuc quebram a cabeça tentando resolver a equação transporte coletivo versus eficiência. O objetivo é desafogar o trânsito nos próximos anos e encontrar uma alternativa para construir o metrô sem parar a cidade.
O caminho é longo e inclui uma reforma nas estações-tubo, que custará R$ 15 milhões, para garantir a sobrevida dos biarticulados. O problema é que, com o metrô, as estações serão desativadas. Mas, de acordo com o Ippuc, a reforma é necessária. Atualmente, as estações-tubo alinham-se umas em frente das outras, impedindo ultrapassagens. Os técnicos do Instituto consideram que o desalinhamento contribuirá para desafogar o trânsito e evitar que alguns veículos, a exemplo do Ligeirão na Linha Verde, façam paradas desnecessárias.
A construção de um novo terminal também está prevista. Será o CIC-Sul, localizado próximo a Centrais de Abastecimento do Paraná (Ceasa). Outra idéia é também levar os Ligeirinhos para dentro das canaletas. Com isso, a prefeitura espera aumentar a velocidade dos ônibus de 16 para 23 km/h, que era a média registrada no início da década de 90. Essa medida começará nas canaletas que ligam o Santa Cândida ao Pinheirinho, o corredor com maior número de passageiros: 90.246 somente no sentido Santa CândidaCapão Raso.
Além do realinhamento, serão implantados também semáforos inteligentes. Os atuais ainda são da década de 70 e serão substituídos pelos que dão preferência à passagem do transporte coletivo. Os recursos para essas obras virão de uma parceria com a Agência Francesa de Desenvolvimento, que vai investir 65 milhões de euros. O dinheiro será aplicado no trânsito e em outras obras, como a despoluição do Rio Barigüi e realocação de famílias que vivem em áreas de risco.
O presidente do Ippuc, Augusto Canto Neto, afirma que não é correto dizer que o sistema está esgotado. "Quando se fala em planejamento, deve-se ter em mente que é necessária a atualização constante. Não era possível prever que Curitiba teria uma grande frota de veículos". Canto Neto reconhece a urgência do metrô. "Nossos ônibus estão com a capacidade no limite. Não há como criar um triarticulado". Para ele, ônibus extras, usados em horários de pico, ficariam ociosos no restante do dia e o custo seria pago pelo usuário.
Especialistas em trânsito acreditam que faltou investimento no setor. "Várias gestões se preocuparam apenas com o pontual, vendo só dois, três anos à frente. Ninguém quis investir a longo prazo", aponta o engenheiro civil Eduardo Ratton, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele diz acreditar que com a baixa qualidade do transporte, quem puder, vai migrar para o carro, o que deixará o trânsito um caos ainda maior.
Como solução, Ratton diz que há medidas pontuais, como a construção de trincheiras, viadutos e a sinalização inteligente. A longo prazo, deveriam ser criadas soluções para evitar o deslocamento das pessoas e descentralizar a vida na cidade, criando pólos nos bairros.
Professores da UFPR, Pedro Akishino e Camilo Borges Neto afirmam que é difícil solucionar o problema. "O metrô é caro. Para haver financiamento é preciso que as empresas tenham certeza de retorno. E o tempo de obra é muito extenso", dizem. Ao contrário de Curitiba, em Bogotá, na Colômbia, as vias exclusivas dos biarticulados permitem ultrapassagem, o que garante mais eficiência e rapidez ao sistema. "E agora, como vão alargar a República Argentina?", questionam os pesquisadores.
Já o arquiteto Clóvis Ultramari diz que há limites no planejamento. "Não se pode negar que a cidade tem um ótimo planejamento. Mas há fatos imprevisíveis", explica. "As pessoas que moram nas vias dos biarticulados deveriam utilizá-los, só que preferem usar o carro. São novos desafios que têm de ser resolvidos". Para ele, agora a dúvida é como fazer o metrô e também pensar em ações operacionais para garantir a eficiência do transporte coletivo atualmente.
O que os especialistas debatem, Sérgio Luis Santos, mecânico, vê todos os dias há muito tempo. Ele mora em São José dos Pinhais e trabalha na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Santos passa 4 horas e meia diariamente dentro de um ônibus para ir e voltar do trabalho. E, de acordo com ele, só se tiver sorte não perde mais tempo. O mecânico conta que já ficou quase uma hora esperando o ônibus no terminal do Pinheirinho. "Era tanta gente que não cabia nem na plataforma". O encarregado de obras Osni Adão dos Santos também passa horas no trânsito. "Tranqüilo aqui? Só depois das 8 da noite", diz sobre o movimento no terminal.




