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Comportamento

Mania de deixar para depois

O ato de adiar iniciativas é comum em uma vida atarefada e com tantas distrações, mas, quando a atitude foge ao controle, pode afetar relações sociais, pessoais e profissionais

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Fazer um check-up médico, entrar na academia, reorganizar a casa, não deixar para estudar um dia antes da prova... A lista de promessas para o ano que se inicia é imensa, assim como a vontade de mudar. Tanto o rol de obrigações quanto o desejo de agir, entretanto, podem esbarrar num grande inimigo: a mania de deixar tudo para depois, que o dicionário Aurélio define formalmente como o ato de procrastinar.

Quem é que nunca empurrou algo com a barriga? Praticamente 100% da população. A vida corrida e a enormidade de tarefas fa­­­zem com que se priorizem algumas atividades em detrimento de outras, que vão ficando para amanhã. As distrações, como redes sociais, tevê por assinatura e celular com mil e uma utilidades, contribuem. Em alguns casos, porém, tal comportamento pode afetar as relações sociais, pessoais e profissionais – e até provocar doenças.

Não há estudos a respeito de quantas pessoas procrastinam de forma crônica e prejudicial, mas uma pesquisa elaborada pelo psicólogo canadense Timothy Pychyl, autor do livro O compêndio dos procrastinadores e do blog Don’t delay (Não adie), sugere que 20% das pessoas levam o ato de adiar ao extremo e têm sérias dificuldades para mudar de atitude. O especialista é rígido e diz que a procrastinação, mesmo leve, nunca é boa, pois revela uma incapacidade de autocontrole.

E por que procrastinamos? O psicólogo explica no livro que procrastinar é semelhante ao ato de comer muito quando se está de dieta: mesmo que a pessoa tenha consciência de que o ato causará problemas a longo prazo – nesse caso, quilos a mais – , a curto prazo o prazer compensa – comer algo delicioso. "O cérebro está programado para ser recompensado a curto prazo. A recompensa imediata é mais atraente", diz ele.

Sintomas

É realmente tentador alegar que a procrastinação é inata ao ser humano e que fomos configurados para agir assim, porém, de acordo com a psicóloga Mariana Benatto Schreiber, pesquisadora do Laboratório de Psicopa­­tologia Fundamental da Uni­­­versidade Federal do Paraná, quando o ato de adiar começa a se tornar corriqueiro, ele pode ser reflexo de um problema de ordem emocional. As conse­­­quências podem ser desastrosas, principalmente na vida adulta, época em que se exige que as pessoas tenham responsabilidade e cumpram prazos.

A psicóloga explica que a procrastinação em si não é uma doença, mas pode ser sintoma de um problema maior, como o transtorno de déficit de atenção, quando a pessoa não consegue se concentrar em uma tarefa e realizá-la até o fim. Adiar constantemente uma iniciativa também pode refletir um perfeccionismo extremado – evita-se uma tarefa pelo medo de errar, levando até mesmo indivíduos talentosos a parecerem irresponsáveis – ou uma escolha profissional equivocada – a atividade não dá prazer e é sempre adiada.

Quando o hábito vira uma rotina e começa a incomodar, até mesmo aquela sensação de recompensa e bem-estar que aparece logo após a decisão de deixar tudo para depois, o tal do prazer imediato, começa a ficar rarefeita. "Quando a pessoa procrastina e sabe que aquele ato de adiar vai causar prejuízos no futuro, ela sofre duas vezes. Além de não cumprir com a obrigação e correr o risco de ser penalizada, fica se remoendo por isso. Aí o ato começa a causar angústia e é hora de mudar o comportamento", diz Mariana.

O passo a passo para a mudança

A solução para a procrastinação crônica, de acordo com os especialistas, é primeiramente reconhecer o problema, que à primeira vista parece inofensivo. Em seguida, é preciso eleger prioridades – o que é importante, tem um prazo e não pode ser deixado para depois?

Por fim, é preciso agir, nem que seja dando um passo de cada vez. Se uma tarefa é entediante, ainda assim é preciso começá-la, mesmo que seja para parar no meio do caminho. Na hora de retomá-la, o ânimo vai ser maior, pois ela não será iniciada do zero.

Força de vontade

A dica mais importante, no entanto, é se lembrar de que nem todas as tarefas da vida diária são necessariamente prazerosas, mas, ainda assim, têm sua importância. Se não se pode delegá-las a outras pessoas, é preciso seguir em frente. E no caso de elas se tornarem insuportáveis e causarem uma angústia tão grande quanto a própria culpa? "Nesse caso, é preciso repensar a carreira, o curso, perguntar-se por que a tarefa causa tanto desprazer, e, se for o caso, mudar", recomenda a psicóloga.

Interatividade

É possível vencer o desejo de deixar tudo para depois? Como?

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