
A Câmara de Comércio Exterior (Camex) concedeu aos industriais brasileiros o direito de importação de 250 mil toneladas de algodão com isenção total de impostos. A proposta foi apresentada pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), e outras entidades de setor, e visa diminuir os efeitos da alta na cotação do algodão na produção do vestuário brasileiro.
A medida adotada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior foi comemorada pelos empresários da região Noroeste, tradicional polo de vestuário do Paraná. "Mais produto no mercado vai regular o estoque e baixar o preço. Nossa preocupação era que a procura já estava ficando maior que oferta", disse o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Maringá e região (Sindivest), Carlos Alberto Pechek.
A alta no preço do algodão se deu pela quebra na safra em importantes produtores, como o Paquistão, e a decisão da Índia em suspender vendas para o mercado externo. Com isso, o algodão brasileiro tornou-se uma das poucas opções e fez com que os cotonicultores optassem pela exportação, principalmente para a China.
De acordo com o Sindivest, os efeitos da falta de matéria-prima ainda são pequenos, mas não tardariam a se agravar, caso o governo não tomasse alguma medida. A produção de peças de vestuário no Noroeste deve fechar 2010 com 10% de aumento em relação a 2009, mas esse aumento poderia ter ficado entre 15% e 17%, não fossem alguns fatores que serviram de freio, estima o setor.
Em número de peças produzidas a estimativa fica assim: Em janeiro deste ano, a região produziu em torno de 7 milhões de peças. A produção no próximo mês de janeiro (data base da estimativa) deve ficar próxima a 7,7 milhões, mas poderia passar de 8 milhões, não fossem os gargalos citados. O setor ainda aguarda que o governo passe a controlar as vendas para o exterior.
Além da alta no algodão, que incidiu fortemente sobre o valor do tecido, os empresários do ramo ainda lutam contra a falta de mão-de-obra, principal amarra do crescimento. Ironicamente, o grave problema trouxe uma aparente tranquilidade aos industriais do Noroeste. É que mesmo com o preço mais em conta, que estava sendo praticado anteriormente, as fábricas já operavam no limite, e, de uma forma geral, não havia expectativa de grandes crescimentos. A falta de mão-de-obra é tamanha, que tem forçado as facções a se instalarem em cidades menores, fora do eixo Maringá-Cianorte, tradicional polo de vestuário.
Valor tende a ser repassado
Para Pechek, a situação atual é vista com atenção, mas ele acredita que ainda não há motivo para alarmismos. Segundo o presidente do Sindvest, a decisão de repassar o aumento para os consumidores vai depender da situação de cada confecção.
Com 97% de algodão na composição, as indústrias de jeans são uma das que mais estão sentido a subida no preço da matéria-prima. "Eu precisaria colocar 11% de aumento para o preço final, mas não repassei tudo isso", contou Leandro Falleiro, dono da indústria que fabrica jeans da marca Lado Avesso, em Maringá.
"Os aumentos ocorreram em alguns momentos do ano. Primeiro trabalhamos com o estoque que tínhamos e fomos tentando negociar com o fornecedor, mas precisei repassar um pouco", disse Falleiro, que já foi informado que em janeiro deve haver nova alta, embora espere que as medidas agora anunciadas possam minimizar a elevação.



