
Quando veste uma camisa xadrez e se põe a dançar quadrilha, Seo Zico Borghi, membro de uma das famílias pioneiras de Maringá, se sente nos anos 50. Foi quando surgiu a festa junina mais tradicional da cidade, organizada pelos primeiros habitantes da região e que hoje, quase seis décadas depois, continua viva.
"É muito bom ver todas essas pessoas aqui. Fazemos uma festa caipira de verdade, e as pessoas gostam porque todo mundo tem um pezinho na roça", disse Seo Zico durante afesta deste ano, que atraiu cerca de duas mil pessoas em uma escola rural de Maringá, na última terça-feira (23).
A celebração junina deixou de ser realizada por quase três décadas, dando lugar a outras comemorações, até que cinco famílias do bairro Gleba Pinguim, na zona rural de Maringá, se uniram e resgataram o festejo. Em 1982 foi realizada a primeira festa da "nova fase", que preserva os costumes das comemorações antigas e tem Seo Zico como principal entusiasta.
O evento mantém, por exemplo, o forte caráter religioso das décadas anteriores. Antes de dançar quadrilha, o público participa de uma missa, acompanha a oração do terço, realiza uma pequena procissão com velas e assiste ao levantamento do mastro que carrega uma bandeira de São João, São Pedro e Santo Antônio.
Um dos momentos mais esperados é a caminhada na brasas da fogueira junina, símbolo máximo da fé nos santos juninos. "Para passar pela brasa é preciso quatro coisas: fé, coragem, concentração e humildade", ensina Seo Zico.
Também há espaço para simpatias. Muita gente se reúne em volta do mastro para fazer pedidos, como a professora Ieda Tragueta. "Eu pedi muita paz e muita saúde, e como Santo Antônio também está lá, pedi uma companhia também", revela a mulher, que para ter o pedido atendido fixou uma vela no mastro.
Outro diferencial da festa é a distribuição gratuita de comidas e bebidas típicas, como quentão e pipoca. Também são gratuitos os cartões do correio elegante. O material usado na confecção dos cartões, bem como dos produtos da cozinha, vem de doações de comunidade.
Patrimônio histórico
Tantas peculiaridades chamaram a atenção da prefeitura, que em 2008 concedeu à festa o título de patrimônio histórico imaterial do município e desde então auxilia Seo Zico na organização do evento.
"Os pioneiros de Maringá viviam sem conforto e cheio de privações. E o que fazia com que eles ficassem na cidade eram as festas, inclusive a junina. Por isso esta celebração é um patrimônio histórico, que precisa ser preservado e valorizado", afirma a secretária de Cultura de Maringá, Flor Duarte.
Quem conhece a festa de outras décadas é testemunha de que ela preserva sua essência. "Eu frequento esta festa desde que ela era realizada no sítio da família Borghi e a única diferença é que hoje tem muito mais gente", conta a pensionista Fátima Adami.
Como não poderia deixar de ser, o ponto alto da festa é o casamento caipira. Os noivos são da família de Seo Zico - neste ano o noivo foi um de seus netos e a noiva, uma de suas filhas. "Eu cresci vendo meu avô fazer essa festa. É algo muito especial, que a gente vai levar em frente", conta o neto, Guilherme Borghi, 19 anos e já um símbolo da longevidade do arraiá mais tradicional e famoso de Maringá.








