
Moradores de dois bairros de Curitiba estão sofrendo com o mau cheiro gerado por estações de tratamento de esgoto da Sanepar. As comunidades do Jardim Acrópole, no Cajuru, e Jardim Monteiro Lobato, no Tatuquara, são vizinhas de muro das instalações da companhia e convivem com o forte cheiro de enxofre exalado durante o processo de saneamento. O desconforto é constante no dia a dia dos moradores e segundo eles chega a afetar a saúde.
No meio da tarde, o odor impregna o ar do Jardim Monteiro Lobato e é difícil de suportar para quem não está acostumado. É o famoso "cheiro de ovo podre", só que muito mais forte. Depois das 19 horas, relatam os moradores, fica muito pior. O cheiro dura até as 7 horas do dia seguinte. Dias úmidos são os mais críticos. Por outro lado, há períodos em que ele não se manifesta.
A vendedora Maria Sirlei da Silva, 45 anos, passa os dias mais complicados de janelas e portas cerradas. É assim há quase uma década, conta ela. "Mas não adianta, o cheiro acaba impregnando tudo. Parece que eles controlam o dia e a hora de soltar", afirma. O Jardim Monteiro Lobato foi loteado pela prefeitura no início da década de 1990. A estação foi instalada em 2002.
Para quem já sentiu o odor, o relato dos moradores sobre os constantes enjoos e dores de cabeça é bastante verossímil. Tem dias em que a dona de casa Fátima de Oliveira, 45 anos, não consegue sair da cama. Os sintomas somem quando ela foge por alguns dias para a casa de amigos. "No posto de saúde, o médico disse que pode ser do cheiro. Não é intoxicação, só mal estar, mas me derruba", avalia.
Os efeitos são piores nas crianças. Várias mães têm dificuldades de fazer as crianças comerem direito nos dias em que o odor está forte. O filho de 6 anos da dona de casa Liliane de Almeida, 22 anos, perde a fome e sente dores de cabeça com regularidade. "O médico perguntou se tinha alguma condição no ambiente e disse que podia ser o cheiro", diz ela.
Cajuru
As crianças também são as mais prejudicadas no Jardim Acrópole. Nessa região o odor tem, igualmente, dias e períodos críticos e outros em que dá uma trégua. O bairro, consolidado nos anos 1980, enfrenta o problema desde a chegada da estação, em 1997. Profissionais da educação chegam a relacionar o baixo rendimento escolar de muitos alunos ao incômodo.
"A maioria das crianças mora em frente à estação. Elas chegam cansadas e não conseguem se concentrar, porque não dormem direito", percebe a coordenadora do contraturno da Escola Municipal Ayrton Senna. Às 8 horas, o odor ainda é forte e a merenda servida em uma creche comunitária da região acaba desprezada pelas crianças. "Elas têm dor de cabeça, irritação no nariz e nos olhos com muita frequência", conta a diretora do estabelecimento, Ivone Magdala Souza, 47 anos.
Só promessas
Reclamações como essas chegam regularmente à Sanepar. Segundo moradores, no ano passado a Sanepar se comprometeu a resolver o problema no Cajuru. "Teve reunião com engenheiros, eles explicaram como funciona e disseram que ia melhorar. Mas até agora nada", lamenta o comerciante Paraílio da Silva, 55 anos o Borba, que preside uma associação de moradores.
No Tatuquara, a história é semelhante. "Na reunião disseram para nós avisarmos sempre que o cheiro estivesse forte, que eles teriam como controlar. Só que não tem adiantado", conta Ilário Sasinski, 41 anos, educador de uma creche municipal.



