
A médica Neide Mota Machado, acusada de ter praticado aborto em quase 10 mil mulheres numa clínica em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, foi encontrada morta dentro de seu carro na tarde deste domingo (29). Segundo a polícia, na mão direita da médica havia uma seringa de 10 ml com agulha e contendo 2 ml de um líquido transparente. Ainda de acordo com a polícia, uma carta escrita á lápis foi encontrada no banco traseiro do Cross Fox onde a médica estava. O conteúdo da carta ainda não foi divulgado. A polícia encontrou também dentro do carro um vidro de cloridrato de lidocaína, um anestésico usado em procedimentos cirúrgicos e odontológicos.
De acordo com a polícia, Neide chegou de carro à chácara Capril Primavera, no Jardim Veraneio, e permaneceu dentro do carro. Um dos funcionários da chácara estranhou, passou pelo veículo e perguntou se ela estava bem. A ex-médica respondeu que sim e que iria sair para comprar leite. Pouco tempo depois, o funcionário passou pela porteira da chácara e viu Neide no banco do motorista, com a boca aberta e a cabeça voltada para trás, no encosto do banco. A testemunha acionou a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Corpo de Bombeiros. Quando o socorro chegou, Neide já estava morta.
A Polícia Civil recolheu manuscritos na casa de Neide para comparar a grafia da médica com a carta encontrada no carro. Todos os objetos encontrados no carro também foram apreendidos. O caso será encaminhado ao 3ºDP.
A atuação da clínica de aborto da médica Neide Mota Machado foi denunciada em abril de 2007. Na clínica da média, eram praticados abortos há mais de 20 anos. A partir da denúncia, o caso começou a ser investigado pela Polícia Civil, que com ordem judicial, entrou na clínica. Foram encontradas fichas de 9.896 de mulheres que teriam sido submetidas a procedimentos na clínica. Desse total, o juiz designado para o caso já pediu o arquivamento de 8.340, com a exclusão das investigações do crime de aborto por falta de elementos suficientes para oferecer denúncia. Com isso, apenas 1.250 mulheres deverão ser intimadas, qualificadas e indiciadas pela prática de aborto. Cerca de 200 delas já foram indiciadas e os processos remetidos ao Fórum.
No dia 22 de julho desse ano, foi publicada a cassação do direito de exercício profissional da médica, feita pelo Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM/MS). A cassação foi definida em abril e referendada pelo Pleno do Tribunal Superior de Ética Médica do Conselho Federal de Medicina, ocorrido no dia 3 de abril de 2009, por infração dos artigos 2º, 4º, 9º, 42º, 43º e 55 do Código de Ética Médica (comete infração ética o médico que publicamente confessa prática de aborto).
Neide Mota seria julgada pelos crimes em júri popular. Além dela, foram pronunciados quatro funcionários da clínica: Rosângela de Almeida, Maria Nelma de Souza, Libertina de Jesus Centurion e a psicóloga Simone Aparecida Cantagessi de Souza. A defesa dos acusados tenta evitar o julgamento em recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ).



