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Medidas para acelerar o crescimento

Desde o início dos anos 1980 não existe uma estratégia clara de crescimento para a economia brasileira. Nos anos 1980, os distintos governos sofreram com a estratégia de crescimento anterior, que resultou em acúmulo de dívida externa, piora na distribuição de renda, fechamento dos mercados e aceleração inflacionária, enquanto nos anos 1990 ocorreu uma grande preocupação em acabar com o problema da inflação alta, aplicar medidas sociais que resultassem em uma melhora na distribuição de renda, elevar a competitividade e reduzir a fragilidade externa. Já nos anos 2000, com a "casa em ordem", a economia brasileira pôde aproveitar melhor as oportunidades que surgiram. No entanto, não foi arquitetada uma estratégia clara de crescimento sustentável. Isso ajuda a explicar, em parte, a forte desaceleração recente do crescimento brasileiro em decorrência da piora no cenário internacional.

No período 1960-80, a economia cresceu a taxas elevadas e as estratégias para estimular o crescimento eram evidentes, com o crescimento médio do PIB brasileiro na ordem de 7,45% ao ano e o do PIB per capita, em 4,66% ao ano. Deve-se destacar as maiores taxas de crescimento alcançadas no período 1968/80, que pode ser decomposto em duas fases: a do Milagre Econômico Brasileiro (1968/73) e a de implantação do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND, 1974/79). Nesse período, verificaram-se alguns fatos marcantes: forte ampliação da participação da indústria de transformação; elevação significativa das taxas de investimento com grande importância do investimento público, em especial nos setores de infraestrutura (transportes, energia, telecomunicações, saneamento básico, entre outros); ganhos de competitividade da indústria nacional com aumento da participação de manufaturados na pauta exportadora e diversificação das exportações; crescimento do sistema financeiro e do processo de intermediação de recursos após a consolidação do sistema financeiro, criação do Sistema Financeiro da Habitação, bancos de investimento, crédito ao consumidor e fortalecimento do BNDES; criação e fortalecimento de instituições voltadas para a pesquisa e desenvolvimento tecnológico: Embrapa, Finep, sistema de pós-graduação, Centro Tecnológico Aeroespacial, entre outros; forte ampliação do emprego e aumento da PEA em função do processo de urbanização.

Essas medidas resultaram em uma forte aceleração do investimento produtivo e significativa elevação da produtividade. Para que a economia volte a apresentar desempenho semelhante, uma condição necessária é que o governo retome uma estratégia de crescimento que seja clara e objetiva. Essa estratégia precisa ter como base: reformas no sistema previdenciário, redução na taxa de juros e controle dos gastos públicos de forma que eles cresçam menos que o PIB para elevar a capacidade de investimento público, sobretudo em infraestrutura; reformas no sistema tributário, reduções da dívida pública e da carga tributária para estimular o investimento privado – inclusive em infraestrutura – e transferência de tecnologia; melhora na qualidade do sistema educacional, principalmente nos níveis fundamental e médio, investimento em cursos técnicos e nos cursos superiores voltados à parte de Exatas e Biológicas, com um foco para elevar a produção e absorção de tecnologia.

Em suma, o país precisa adotar medidas que estimulem o investimento em vez do consumo, e focar no aumento da produtividade, sem esquecer o investimento em capital humano que serve para estimular a própria produtividade e melhorar a distribuição de renda.

Luciano Nakabashi, professor do Departamento de Economia da FEA-RP/USP e pesquisador do CNPq; Rudinei Toneto Júnior, professor do Departamento de Economia da FEA-RP/USP e pesquisador do CNPq; Guilherme Byrro Lopes, mestrando em Economia Aplicada pelo Departamento de Economia da FEA-RP/USP.

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