
Enquanto diplomatas e ambientalistas discutem formas de conter o efeito estufa, o mundo está cada vez mais distante de reduzir a emissão de gases poluidores. Dados preliminares de um estudo elaborado pela Agência Internacional de Energia (AIE) indicam um recorde nas emissões globais de dióxido de carbono (CO2) pela queima de combustíveis fósseis. O crescimento foi de 3,2% em 2011, em relação ao ano anterior, chegando a 31,6 milhões de toneladas no mundo. A China, mesmo tendo diminuído a dependência da queima de carvão mineral, é a principal responsável pelo aumento sozinha cresceu 9,3%. O estudo não divulgou dados sobre a poluição causada pelo Brasil.
A boa notícia vem do segundo e terceiro colocados no ranking de lançamento de gases pela queima de combustíveis fósseis. Atrás apenas da China na quantidade de emissões, Estados Unidos e Europa diminuíram o volume de gases lançados na atmosfera no ano passado. A crise econômica, o inverno ameno e a troca de carvão por gás natural no setor industrial ajudaram a derrubar os índices europeus e norte-americanos. A queima de combustíveis fósseis é responsável por mais da metade da emissão de gases do efeito estufa no mundo. No Brasil, o consumo dessas formas de energia representam 12% das emissões.
Sem surpresa
O aumento nos índices de gases poluentes não surpreendem o coordenador do Observatório do Clima da Rede Brasileira de ONGs Ambientais e coordenador de estratégias de conservação da Fundação Boticário, André Ferretti. "Infelizmente já era esperado porque é uma tendência que se mantém há algum tempo." Ele reforça que as nações não se esforçaram o suficiente para atingir metas ambientais. "Tanto os países desenvolvidos, que tinham de ter reduzido, como os países em desenvolvimento, que teriam ao menos de ter estabilizado os números, mas seguem aumentando as emissões", diz. Para o pesquisador, foi feito muito menos do que era necessário. "Ainda não conseguimos crescer de uma forma mais limpa."
Formas de diminuir a emissão de gases poluentes a partir de metas de redução estabelecidas pelos países estão sendo discutidas em Bonn, na Alemanha. O evento da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas termina hoje. Negociadores de mais de 180 países estão reunidos para buscar um novo pacto climático global. O documento será discutido até 2015 e deve entrar em vigor em 2020. É que o Protocolo de Kyoto, que visava a comprometer os governantes com a redução nas emissões de gases do efeito estufa, expira no final deste ano sem que forças mundiais como os Estados Unidos tenham aderido ao acordo.
Na contramão, Brasil estimula venda de carros
O aumento incessante da frota de veículos e a exploração de petróleo no pré-sal colocam o Brasil na lista de países que caminham para o aumento da emissão de gases do efeito estufa. A decisão política de incentivar, com a redução de impostos, a compra de automóveis para garantir o aquecimento da economia também é responsável por esquentar o planeta.
"O governo vai deixar de arrecadar, então é dinheiro público, ou seja, nosso, que a gente vai dar teoricamente para manter empregos, mas sem ganhar nada em troca. No mínimo deveria se exigir da indústria automobilística metas de eficiência dos motores, no gasto de combustível, para justificar esses benefícios fiscais", comenta André Ferretti, pesquisador de mudanças climáticas. Para ele, os indicadores ambientais deveriam pressionar o governo, por exemplo, a desestimular os transportes individuais e impulsionar o transporte coletivo.
O professor Célio Bermann, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), destaca que a simples substituição de combustíveis fósseis pelas chamadas energias renováveis, como o etanol e o biodiesel, não resolve os problemas ambientais. O problema está, segundo ele, no modelo de desenvolvimento. "Esqueçamos o pânico de emissão de gases. A questão não é o aumento de 3% ao ano. O debate precisa ser sobre o padrão de produção e consumo", pondera. Ele também acredita que o país caminha na contramão quando não destina, com todas as forças, as políticas públicas no sentido do transporte coletivo.
Desmatamento
Atualmente não é a queima de combustíveis fósseis que coloca o Brasil entre os maiores poluidores. Em território nacional, o desmatamento é o principal responsável por lançar gases nocivos no ar. Como sexto colocado mundial entre os maiores emissores, o país pode subir para a terceira posição até 2020 somente em função da exploração do petróleo do pré-sal.
Além da exploração de mais uma fonte de energia, a pressão exercida pelo número de veículos em circulação está em evolução. A frota nacional mais do que dobrou na última década. Eram 32 milhões de veículos em 2001 e 70,5 milhões em 2011.



