Meninos têm até quatro vezes mais risco do que meninas de desenvolver problemas emocionais, de aprendizagem na escola, de comportamento, além de distúrbios mentais. A constatação foi apresentada neste mês em Londres, em evento sobre educação para crianças com necessidades especiais. Segundo revisão da literatura científica, parte da culpa pelos problemas dos meninos vem da cultura e da sociedade modernas.
"Estamos empurrando nossos meninos para doenças como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou para dificuldades na alfabetização", diz a educadora inglesa Sue Palmer, que há anos pesquisa o desenvolvimento infantil. Autora de dois livros (ainda sem tradução no Brasil) que caracterizam a infância atual de "intoxicada", Sue lança em maio o terceiro, 21st Century Boys (Meninos do Século 21) com os resultados de suas pesquisas sobre diferenças de gênero (veja box com as causas).
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) caracterizado pela desatenção, impulsividade e hiperatividade aparece quatro vezes mais em meninos, segundo a literatura científica. Outras pesquisas indicam que eles têm três vezes mais problemas em leitura e duas vezes mais transtornos emocionais.
Segundo estatísticas do governo do Reino Unido, 10% das crianças do país têm algum tipo de doença mental, 6% têm distúrbios de conduta, que incluem praticar o bullying na infância (atos de violência física ou psicológica contra colegas). Outras 4% têm distúrbios emocionais, como fobias, ansiedade e depressão. Entre as meninas, 8% têm distúrbios mentais, proporção que sobe para 11% entre os meninos. No Brasil, não há índices oficiais, mas pesquisas acadêmicas têm mostrado que a prevalência dessas doenças atinge 12% das crianças.
A pesquisadora da Universidade de Wales, no País de Gales, Amanda Kirby, especialista em distúrbios do desenvolvimento, acrescenta que também há mais dificuldades em identificar problemas em meninas. "Ela, muitas vezes, não age com hiperatividade, mas tem dificuldade de concentração, e isso é visto como algo comum, como uma 'menina sonhadora'", diz.
Os distúrbios mentais são causados por mutações genéticas, mas podem ou não ser desenvolvidos ao longo da vida. Fatores associados à gravidez como fumo ou má nutrição e ao ambiente em que as crianças vivem são cruciais para o aparecimento ou não da doença.
Para Sue, computadores, videogames e televisão desde cedo têm grande influência nisso. Ela acha que a educação nos primeiros anos de vida deve ser focada em músicas, histórias e brincadeiras principalmente em ambientes abertos e com outras crianças.



