
As mudanças no sono acompanham as transformações de cada idade: recém-nascidos, crianças, adultos e idosos não dormem da mesma forma. A quantidade de sono diminui à medida que se envelhece e ele fica mais fragmentado. Enquanto um recém-nascido precisa dormir uma média de 16 horas por dia, 6 horas são suficientes para os idosos. Já na comparação com os adultos, um idoso dorme, em geral, duas horas a menos por dia, estima o biomédico Diego Mazzotti, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo. Só que envelhecer não significa dormir mal. "É normal a redução da quantidade de sono, mas a perda da qualidade não é normal", diz o médico Einstein de Camargos, coordenador-chefe do Centro de Medicina do Idoso da Universidade de Brasília. Segundo Camargos, a maioria das pessoas que envelhecem dorme mal por diversas circunstâncias relacionadas a doenças. Esse é o caso de Hissako Tanaka, de 74 anos. As dores causadas pela artrose e pelo problema de vista fazem com que ela demore mais para pegar no sono. "Eu viro para lá e para cá até que eu canso e durmo", diz.A quantidade de horas dormidas está relacionada à qualidade de vida. Estudos mostram que distúrbios do sono levam a mais casos de diabete, depressão, derrame e aumento de pressão em pessoas idosas, observa Camargos. O distúrbio é caracterizado pela sonolência diurna, problemas de memória e sensação de sono insuficiente, e tem de ser tratado.
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Causas
Não se sabe ao certo por que acontece a diminuição do sono na terceira idade. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo com 30 idosos e 15 jovens voluntários procura responder a algumas questões. "Fica uma questão a ser respondida, se o sono diminui por causa das doenças ou se, o sono diminuindo, o idoso passa a ter mais doenças", afirma Diego Mazzotti, coordenador da pesquisa.
Um resultado preliminar do estudo, iniciado há um ano, é que as pessoas acima de 90 anos dormem menos, mas têm um sono mais pesado e de maior qualidade. "É como se as pessoas de mais idade só precisassem de sono profundo essencial e não superficial", explica Mazzotti.
A aposentada Iglé Cavalli Zanello, de 75 anos, por exemplo, dorme profundamente nas primeiras horas da noite. "Eu durmo pouco. Se eu dormir às dez e meia da noite, quando for duas da manhã já estarei acordada, mas durmo bem nessas horas", conta. "Depois eu só dou uma cochilada, escuto rádio e fico assim até de manhã."
O que fazer
Para manter o sono em dia é importante praticar exercícios físicos, aproveitar o dia e criar rotinas para dormir. A aposentada Izaura Shieko Sato, 85 anos, é um exemplo de como boas práticas melhoram o sono. Ela conta que dorme melhor depois que começou a se exercitar regularmente. "A ginástica fez muito bem. Minha saúde melhorou e para dormir ficou bem melhor." Hoje, a única coisa que consegue acordá-la antes da hora é um telefonema tarde da noite.
Medicamentos, só com orientação de médicos
A aposentada Shizue Kawakami, de 81 anos, diz que dorme bem, exceto quando está muito ansiosa. "Às vezes, a ansiedade não deixa dormir, mas isso é comum, não é?" Para não perder noites de sono ela usa um medicamento receitado pelo médico, mas com moderação.
Os benzodiazepínicos, como o Rivotril, são bastante utilizados no tratamento da ansiedade. É preciso tomar cuidado, pois esse tipo de medicação pode gerar dependência, alteração de memória e sedação durante o dia. Nos idosos, existe também o aumento do risco de quedas, responsáveis por várias mortes em pessoas de mais idade, alerta o psiquiatra Renato Soleiman, professor de Medicina na Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Segundo o psiquiatra, todo remédio, quando bem indicado, não traz malefícios. Porém é preciso ter sempre o acompanhamento médico tanto na prescrição quanto no uso contínuo. "Muitos pacientes continuam fazendo uso por longos períodos, sem controle desse uso, e sem modificação de comportamento", afirma.






