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Tratamentos contra o câncer, como a quimioterapia, tentam conter a metástase | Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Tratamentos contra o câncer, como a quimioterapia, tentam conter a metástase| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Pesquisa

USP faz remédio contra câncer de pele

O Centro de Nanotecnologia e Engenharia Tecidual Aplicado à Saúde, instalado dentro do campus da Universidade de São Paulo (USP), de Ribeirão Preto, já está produzindo desde 1º de março, embora ainda não tenha sido inaugurado oficialmente.

No laboratório são produzidos medicamentos nanoestruturados (fármacos fotoativos) para o tratamento de câncer de pele com aplicação de laser, além de pele artificial usada para corrigir cicatrizações, queimaduras e perdas de peles em acidentes. E existem outras pesquisas em andamento e uma parceria com a marca francesa Dior está em negociação para produzir cosméticos voltados ao rejuvenescimento.

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Imagine uma faculdade de Agronomia onde só fossem estudadas as características das sementes e ignoradas completamente as propriedades do solo no qual elas devem ser semeadas. Seria um fracasso para a agricultura. Mas é justamente isso que a ciência tem feito com relação ao câncer: olhar apenas para as células tumorais, sem se preocupar com as "condições ambientais" do organismo onde proliferam.

A analogia foi feita em 1889 pelo cirurgião britânico Stephen Paget, em um artigo publicado na revista Lancet – uma das mais importantes na área das ciências médicas. "Ainda assim, passados 120 anos, 99,9% dos laboratórios continuam a pesquisar apenas as sementes", alerta o pesquisador David Lyden, do Weill Cornell Medical College, em Nova Iorque, que esteve em São Paulo na última sexta-feira para dar aula em um curso de pós-graduação no Hospital A. C. Camargo.

Segundo ele, o conhecimento do "solo" é imprescindível para a compreensão da metástase, processo pelo qual tumores malignos se espalham por diferentes tecidos do organismo."Entre 80% e 90% das mortes por câncer ocorrem em função da metástase e não do tumor primário", destacou Lyden, cujo laboratório dedica-se, justamente, a entender os mecanismos biológicos e moleculares que regem essa dispersão da doença. "Todo mundo foca no tumor, mas a verdade é que o câncer é uma doença sistêmica."

Assim como um agrônomo precisa de parâmetros para escolher o melhor solo e o melhor clima para uma determinada cultura, médicos precisam de parâmetros mínimos para tentar prever como, quando e para onde um determinado câncer vai se espalhar pelo organismo. Os resultados de Lyden mostram que não há nada de aleatório nesse processo. E que as células tumorais são mais ardilosas ainda do que se imaginava.

Recrutamento

Médicos e pesquisadores já perceberam faz tempo que determinados tipos de câncer tendem a se espalhar para órgãos específicos. Tumores de mama, por exemplo, costumam produzir metástase no pulmão ou no cérebro. Mas como? E por quê?

"Deve haver uma combinação de fatores que favorece a proliferação do tumor para tecidos específicos", especula Lyden.

Estudos feitos em seu laboratório revelam uma estratégia refinada usada pelas células tumorais para "fertilizar" os tecidos nos quais elas preferem germinar. Segundo Lyden, o tumor primário secreta na corrente sanguínea uma série de fatores (moléculas) que penetram na medula óssea e recrutam células-tronco para trabalhar como "jardineiras", secretando nutrientes e favorecendo a formação de vasos sanguíneos que servirão para alimentar a metástase.

As células-tronco são ideais para o serviço, pois criam nichos "embrionários" dentro do organismo, bastante propícios à proliferação celular – que é o que os tumores gostam de fazer.

"Vemos que as células tumorais e as da medula óssea conversam entre si. É uma via de duas mãos", explica Lyden. Se os cientistas conseguirem interromper essa linha de comunicação, diz ele, talvez seja possível impedir a metástase. Para isso é preciso decifrar a linguagem bioquímica que as células usam para conversar – e os argumentos que as células tumorais utilizam para convencer as células da medula óssea a trabalhar a seu favor.

Testes

Em experimentos com camundongos, animais doentes injetados com anticorpos selecionados para bloquear a mobilização das células da medula não desenvolveram metástase. "Será que podemos fazer o mesmo em seres humanos?", questiona o pesquisador.

"É uma hipótese muito atraente", avalia Emmanuel Dias-Ne­­­to, pesquisador do A. C. Camargo e coordenador da Escola São Paulo de Ciência Translacional. Cerca de 200 alunos do Brasil e do exterior participam do curso, de duas semanas, oferecido pelo hospital e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. "A gente sempre simplifica muito as coisas. O que ele [Lyden] propõe é uma forma mais completa de olhar o problema."

Imagens apresentadas pelo americano mostram células-tronco cooptadas da medula óssea fixando-se aos tecidos-alvo antes mesmo da chegada das primeiras células tumorais, como se preparassem o ambiente para a metástase. "Isso é surpreendente", avalia Dias-Neto. "Muda muito a maneira como vamos encarar o câncer e a metástase daqui para frente."

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