
Descobrir que Papai Noel não existe. Essa pode ser uma das grandes decepções sofridas na infância. Mas passar por ela não livra uma pessoa de viver isso outra vez. Quando chegam os filhos, muitos se perguntam qual seria a melhor forma de contar para as crianças. O certo é dizer a verdade ou deixar que elas descubram sozinhas?
A designer Rafaella Cochack, 21 anos, ficou muito chateada quando descobriu que o bom velhinho era uma fantasia. Aos 9 anos, foi passar o Natal no litoral de Santa Catarina. Na bagagem do carro da mãe estavam os presentes que seriam entregues na noite do dia 24 de dezembro. Rafaella viu os pais descarregarem os presentes de Natal quando chegaram na praia. Desconfiou, mas decidiu ficar quieta e observar. No dia da festa, foi uma tia quem vestiu a tradicional roupa vermelha. "Foi o que bastou para mim. Além de perceber que Papai Noel era uma mulher, ainda tinha o olho azul. Eu lembrava que em todos os outros anos os olhos eram castanhos."
Rafaella acha que seria bem melhor se ela soubesse a verdade pelos pais. Além da decepção de descobrir que Papai Noel não existe, ainda sentiu que eles mentiram. "Eu acreditava piamente no que meus pais diziam. Saber que eles não me disseram a verdade foi muito ruim."
Para o psicólogo Naim Akel Filho, coordenador do curso de Neurociência da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, não há um consenso entre os profissionais sobre a hora certa de contar a verdade para as crianças. "Eu sugiro que elas saibam por volta dos 5 ou 6 anos. É é nesta fase que a criança tem competência para substituir a imaginação pela verdade". Depois dessa idade, o cérebro se transforma e fica pronto para novas aprendizagens, para perceber a realidade.
A psicopedagoga Laura Monte Serrat acredita que com essa idade é normal que a própria criança perceba a verdade e questione os pais. Eles podem tentar prolongar a fantasia, mas o ideal é aceitar e dizer ao filho que ele foi esperto em perceber. "Isso mostra que a criança está crescendo e se desenvolvendo da forma esperada."
Amanda da Rocha de Souza, 5 anos, já tem muitas dúvidas sobre a existência do Papai Noel. A menina quer saber como ele não mistura o presente de todo mundo, como tem dinheiro para comprar tanta coisa e como lembra de todos os pedidos sem anotar nada. "Eu comecei a dizer que éramos eu e o pai dela que comprávamos os presentes e que o Papai Noel apenas entrega e avalia se ela merece ou não", conta a mãe Rosane Medeiros da Rocha de Souza, que pretende sustentar a história por pelo menos mais um ano.
De acordo com Akel Filho, a fantasia faz parte do processo de desenvolvimento humano. É importante permitir que a criança fantasie, pois são mecanismos naturais que revelam que o cérebro está em desenvolvimento. Mas existe um limite para que isso acabe. "Se a fantasia persiste após certa idade, pode gerar algum tipo de psicopatologia. Se a família insiste por muito tempo em continuar com a idéia, acaba sendo uma forma de imbecilizar a criança", explica.
Laura observa que impedir que a criança descubra por si só a realidade pode interferir na aprendizagem escolar. "Ela pode achar que não deve descobrir as coisas, que o certo é aceitar o que os pais dizem."
Tanto o psicólogo quanto a psicopedagoga acreditam que os pais são os mais indicados para contar a verdade aos filhos, ou para confirmar a não existência quando questionados.



