
A infecção hospitalar por micobactérias de crescimento rápido, que pode ser a maior infecção que o Paraná já registrou, continua produzindo efeitos um ano depois de seu surgimento. Ainda há pacientes em tratamento não há um levantamento de quantos são e ações para evitar novos casos ocorrem em todo o estado. Também há possibilidade de até 2009 surgirem notificações, já que a literatura médica aponta que os sintomas podem levar até dois anos para se manifestarem. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) considera que o surto está sob controle, pois os casos detectados são de pacientes submetidos a cirurgias em 2007.
Foram notificados 166 pacientes no Paraná, dos quais 113 confirmados. Em Curitiba, estão sendo investigadas duas mortes, ocorridas em dezembro de 2007 e maio de 2008.
A infecção é causada por micobactérias de crescimento rápido que impedem a cicatrização do corte cirúrgico. Pacientes que passaram por procedimentos como cirurgias feitas com câmeras de vídeo (videocirurgias), preenchimentos estéticos e cirurgias plásticas começaram a notar que o corte não cicatrizava, apresentava secreção e produzia nódulos principais sintomas da infecção.
Descobriu-se que a infecção foi causada por problemas na esterilização e limpeza dos equipamentos cirúrgicos, mas até hoje não se sabe quais são esses problemas, de acordo com a chefe da divisão de controle de doenças emergentes e reemergentes da Sesa, Ivana Maura Kaminski. "Não se achou o microorganismo no equipamento. Sabemos que quando melhorou o processamento diminuiu o surto", afirma. Outra descoberta recente foi que a bactéria que promoveu o surto no país, a massiliense, é de maior gravidade. Ela gruda no equipamento e faz uma proteção de difícil limpeza.
Em Curitiba, onde foram confirmados 104 casos, o último paciente que desenvolveu a infecção foi operado em dezembro de 2007. De lá para cá, não surgiram notificações. Para Ivana, isso é um indicativo de que a doença está controlada.
No interior, os casos são mais recentes. O último paciente que teve a infecção foi operado em abril deste ano. Foram confirmados um caso na região metropolitana de Curitiba, dois em Umuarama, um em Maringá e cinco em Londrina. Das 22 regionais de saúde, nove tiveram casos suspeitos.
Os casos registrados no interior do estado diferem do que foi observado em Curitiba, explica Ivana. Na capital, dos 104 casos, 102 ocorreram em pacientes que se submeteram à videocirurgia (veja mais no quadro). As mais comuns foram cirurgias abdominais, como bariátrica e de vesícula. Já no interior do Paraná, dos casos confirmados, apenas dois foram de videocirurgia. Quatro foram por mesoterapia (feita com seringas para tratar gordura localizada e celulite) e três de cirurgia plástica. "Quando estouraram os casos de videocirurgia, no interior todo mundo começou a tomar cuidado. E se achou que era só com vídeo que surgia a infecção", afirma Ivana.
A diretora da Sesa diz que não pode garantir que só médicos estejam fazendo mesoterapia, o que dificulta o controle. "A população tem que saber que para fazer qualquer procedimento tem que ir a local confiável", afirma.
Concentração
Ivana explica que os casos se concentraram em poucos hospitais. No começo do surto, a Secretaria Municipal de Saúde divulgou o nome dos hospitais. A orientação da Sesa, que monitora os casos do estado, é não divulgar os nomes. Ivana diz que os hospitais que registraram casos adotaram medidas rapidamente, o que foi o principal fator de a infecção ter sido controlada.
No Paraná, nenhum serviço foi fechado, ao contrário do Espírito Santo, onde, em agosto, lipoaspirações foram suspensas em 41 clínicas e hospitais. Segundo Ivana, aqui não foi necessária a medida porque os hospitais colaboraram e em nenhum momento se cogitou fechá-los.
Tratamento
A professora Cibelle Cordeiro foi contaminada pela bactéria e continua em tratamento. Cibelle foi operada em outubro de 2007 de apendicite. Desde que a infecção se manifestou, fez quatro cirurgias para a limpeza do local. "Neste ano não viajei, não trabalhei, não tive lazer", afirma. "Só fiquei em função da doença, tomando remédio, indo para hospital. Nem lembro mais da minha vida normal." Cibelle diz que, por enquanto, não tem boas expectativas de cura.
Um dos desafios atuais da Sesa é fazer com que todos os pacientes recebam tratamento adequado e se curem. Está em vigor uma nota técnica, assinada pelo secretário estadual da saúde, Gilberto Martin, para montar uma equipe interdisciplinar para acompanhar pacientes em tratamento que atualmente não se sabe quantos são.
Além disso, a Sesa vem realizando oficinas para orientar as equipes médicas e prevenir novos casos. O próximo encontro será na segunda e terça-feira, em Foz do Iguaçu, e reunirá equipes da Argentina e do Paraguai.




