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Rio de Janeiro

Milícia já é principal força nas favelas

Apenas 27 das quase mil comunidades cariocas não estão dominadas por traficantes ou paramilitares, segundo estudo feito por universidade

Entre os membros da Liga da Justiça presos ontem havia  dois policiais militares. Eles vão se juntar a outros milicianos que já estavam detidos | Ernesto Cariço/Ag. O Dia
Entre os membros da Liga da Justiça presos ontem havia dois policiais militares. Eles vão se juntar a outros milicianos que já estavam detidos (Foto: Ernesto Cariço/Ag. O Dia)

Rio de Janeiro - As milícias já dominam mais favelas no Rio do que qualquer das facções de traficantes de drogas. Essa é uma das conclusões do estudo do Núcleo de Pesquisa das Violências (Nupevi) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A coordenadora do levantamento, a antropóloga Alba Zaluar, aponta que a combinação do crescimento dos milicianos com a expansão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) deve levar ao recrudescimento dos confrontos, principalmente no subúrbio e na zona norte do Rio, para onde avançam os grupos paramilitares formados por bombeiros, policiais e agentes penitenciários.

"As milícias aumentaram quase quatro vezes o número de proporção das áreas de favelas dominadas. É um aumento absurdo relacionado com os fracassos das políticas de segurança pública. É de se esperar, com o avanço das milícias e a política do Estado de recuperar territórios dominados pelo tráfico, que ocorram mais confrontos armados", afirmou Alba.

A pesquisa aponta que 41,5% das 965 favelas existentes no ano passado estavam sob o domínio de milicianos até o fim de 2008. Em 2005, esses grupos dominavam apenas 11,2% das favelas na cidade e o Comando Vermelho, 50,1%. Hoje, o CV domina 40,8% das comunidades, seguido pela quadrilha Amigos dos Amigos, com 7,7%, e pelo Terceiro Co­­mando, com 7%. Apenas 3% das favelas são "neutras" ou não estão sob domínio do crime organizado. "Ainda há 27 favelas neutras. Eram cerca de 200 em maio de 2005; em maio deste ano, quando fizemos o levantamento, registramos 27. Quase a totalidade de favelas está dominada por traficantes e milicianos", constata a antropóloga.

Ação violenta

Segundo Alba, a partir de 2002 as milícias descobriram o lucro e hoje atuam de forma tão violenta quanto o tráfico. "Houve uma expansão dos negócios dos milicianos. Negócios altamente lucrativos. A população das favelas passou a ser um mercado disputado pelo oferecimento de gás, do canal pirata de TV, transporte alternativo e pela taxação de todas as transações imobiliárias", apontou Alba.

O estudo aponta que o conjunto de favelas do Complexo do Alemão é o local com maior probabilidade de morte violenta para menores de 15 anos, seguido pelo Complexo da Maré e pela Favela do Jacarezinho (todos na zona norte). Os bairros de Guaratiba e Santa Cruz (zona oeste) aparecem em sétimo, seguidos pela Favela da Rocinha, em São Conrado (zona sul), e a Cidade de Deus, na zona oeste. Já os índices mais baixos de violência estão na Barra da Tijuca (zona oeste) e pontos da zona sul da cidade. A antropóloga afirmou que o relatório, também chamado de Uma perspectiva multidisciplinar para a prevenção de violência entre jovens, foi encaminhado para o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e o prefeito da cidade, Eduardo Paes (PMDB).

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