
Uma saga com todo o sabor de lenda amazônica, sobre uma suposta cidade perdida no interior do Brasil, está para ganhar as telonas pelas mãos do ator Brad Pitt. Ele, que já interpretou um explorador (o austríaco Heinrich Harrer, de Sete anos no Tibet) no cinema, poderia vir à Amazônia para incorporar o inglês Percy Fawcett, que morreu em busca da tal cidade perdida. O que se sabe até agora é que Pitt comprou os direitos autorais sobre a filmagem do livro The lost city of Z A tale of deadly obsession in the Amazon ("A cidade perdida de Z uma história de obsessão mortal na Amazônia"), lançado no início do ano nos Estados Unidos. O enredo será baseado em uma história real, mas cheia de questões até hoje incompreendidas.
Existe na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro um manuscrito, feito em 1753, que despertou a atenção de pesquisadores e aventureiros: ele descreve a cidade perdida no interior do Brasil que teria sido descoberta por bandeirantes que buscavam minas de prata. Seria esse documento e os boatos sobre a tal cidade que fizeram Fawcett se aventurar por terras pouco exploradas e morrer sabe-se lá como.
Percy Fawcett tem mesmo uma história digna de filme. O que se sabe de verdadeiro sobre ele é que Fawcett era um engenheiro da coroa inglesa que demarcou os limites do Peru e da Bolívia e que tinha interesses na área de arqueologia. "Macchu Picchu foi descoberta debaixo da barba dele. Ele deve ter ficado furioso por não ter feito a descoberta, afinal era um explorador. Ao ouvir que no Brasil também existiam ruínas, ele veio em busca dessa cidade perdida: seria a chance de conseguir algo para se tornar famoso", conta o escritor e documentarista Hermes Leal, autor do livro O enigma do Coronel Fawcett.
A primeira expedição de Fawcett ao Brasil ocorreu por volta de 1906. Em 1921, voltou ao país em busca da cidade perdida, que chamou de Z. Como fotografava e escrevia cartas sobre os locais por onde passava, deixou um último registro: um telegrama enviado para sua mulher em 29 de maio de 1925, no qual dizia que estava pronto para explorar um território desconhecido. Ele partiu da Serra do Roncador, no Mato Grosso, junto com o filho mais velho, Jack, e um amigo chamado Raleigh Rimmell. Deveriam ir até o Alto Xingu, na Amazônia, mas nunca mais os três deram notícias.
Em 1946, os indigenistas e irmãos Villas-Bôas (Orlando, Claudio e Leonardo) tiveram contato com os índios kalapalos que, em 1952, apresentaram aos Villas Bôas a possível ossada de Percy Fawcett. "Dizem que ele teria se desentendido com os índios e, por isso, teria levado golpes na cabeça até morrer. Os outros dois tentaram fugir e foram mortos a flechadas. Isto é o que os índios, na época, contaram ao meu pai. Hoje os kalapalos negam tudo, pois não querem ter o mérito da morte de Fawcett", afirma o filho de Orlando, Noel Villas-Bôas.
A suposta ossada do explorador inglês viajou o mundo, foi até Londres, voltou, ficou alguns anos no porão da casa dos irmãos Villas-Bôas e, em 1985, foi encaminhada à Universidade de São Paulo (USP), onde está até hoje. "O filho de Fawcett veio ao Brasil, mas disse que a ossada não guardava semelhanças com a altura do explorador. Ele chegou a confidenciar ao meu pai que não queria trocar o mito (uma morte que não existiu) por meia dúzia de ossos", conta Noel. Médicos da USP chegaram a coletar o DNA mitocondrial para exame, mas há rumores de que a família inglesa nunca aceitou fazer a contraprova.
Hoje, há comunidades no orkut que endeusam Fawcett e algumas seitas religiosas foram criadas em sua homenagem. Existem ainda pessoas que acreditam que o explorador está vivo, tem mais de 100 anos e achou a tal cidade Z, onde vive atualmente. Outros dizem que Fawcett entrou em uma passagem secreta e está do outro lado do mundo. Como a região por onde ele passou, na época, era totalmente inexplorada, não se descarta ainda a hipótese de um fim mais trivial: ele pode ter morrido de fome ou de qualquer doença, como a malária.



