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GRITO DO IPIRANGA

Misto de improviso e sorte marcaram a Independência

Em seu novo livro, 1822, o jornalista Laurentino Gomes conta como foi o Brasil de dom Pedro I. A obra está à venda a partir de hoje

D. Pedro I: fundador da teoria de que o povo era "só um detalhe". | Wikimedia Commons/Wikimedia Foundation
D. Pedro I: fundador da teoria de que o povo era "só um detalhe". (Foto: Wikimedia Commons/Wikimedia Foundation)

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Apesar de a Independência ter sido declarada em 1822, demorou nove anos para que o Brasil deixasse efetivamente de pertencer aos domínios de Portugal: só em 1831, com a abdicação do imperador dom Pedro I, é que os brasileiros sentiram, na prática, o que significou o grito de independência ou morte. Antes de dom Pedro largar o poder, o país – mesmo em sua suposta liberdade – continuou sendo governado por um imperador que se dividia entre os interesses brasileiros e portugueses. Com a morte do pai dele, dom João VI, em 1826, por exemplo, a Cons­tituição lusitana foi aplicada por aqui também.Dom Pedro quis manter um pé em cada canoa e isso contribuiu para desgastar a figura dele durante o primeiro reinado. Ele ainda estava de olho, ao mesmo tempo, nos futuros tronos de Brasil e Portugal. Tanto que aqui deixou seu filho e lá conseguiu tornar imperadora a filha mais velha, Maria da Glória, que ficou com o título de Maria II. "Dom Pedro rapidamente se converte de herói a vilão. Depois do grito da independência, ele é coroado em 1.º de dezembro. É o grande herói nacional celebrado no país inteiro. Mas sua índole autoritária e seu romance com a amante Marquesa de Santos ajudam a enfraquecer sua imagem", afirma o jornalista Laurentino Gomes, que acaba de lançar o segundo livro sobre a His­tória do Brasil. O novo título é 1822, em que o autor analisa um período de 13 anos, do retorno de dom João VI a Portugal, em 1821, até a morte de dom Pedro I, em 1834.

Seria mesmo dom Pedro capaz de morrer pelo Brasil, como prometeu no dia 7 de setembro? Laurentino acredita que sim, "porque ele era brasileiro de coração". Devido às circunstâncias políticas da época, contudo, ele acaba sendo obrigado a cuidar também dos interesses de Portugal. "É uma opção difícil que o deixa fragilizado diante dos brasileiros. Ele vai a Portugal em 7 de abril de 1831 para enfrentar o irmão mais novo, dom Miguel, que havia dado um golpe para chegar ao poder. Ele recupera o trono e o entrega a sua filha", diz.

A partir da saída de dom Pedro I, o Brasil começa a sua independência com a regência provisória, de 1831 a 1840. Esse período é marcado por rebeliões sangrentas, como a Revolução Farroupilha, a Cabanagem e a Sabinada. Em 1840, dom Pedro II assume a coroa pelo golpe da maioridade (tinha 14 anos na época) e foi o primeiro imperador nascido no Brasil a comandar o país. "Ele é um homem muito diferente do pai. Não era intempestivo, aventureiro e boêmio. Pelo contrário, era estudioso e muito preocupado com a própria imagem", explica. O resto da história deste jovem imperador fica em suspense, por enquanto, porque Laurentino pretende lançar, daqui a três anos, outro livro com o título 1889, que vai falar de dom Pedro II e da Proclamação da República no Brasil.

A Independência

O quadro de Pedro Américo (que ilustra esta página), pintado por encomenda do governo imperial para retratar a Independência, é de fato uma construção mitológica. O Brasil estava às vésperas da Pro­clamação da República e a monarquia estava fragilizada, por isso dom Pedro I precisava aparecer limpo e imponente na pintura para ter uma boa imagem diante da opinião pública. Na verdade, a cena não aconteceu. No lugar do cavalo, ele estava montado em uma mula, que era o jeito correto de fazer uma viagem na época; vestia roupas simples parecidas com a dos tropeiros e estava com dor de barriga porque tinha ingerido alguma comida estragada em Santos. "Essa é a cena verdadeira, é mais brasileira e próxima do que de fato aconteceu. Não por isso, menos importante", cita Lau­rentino.

A notícia ocorrida em território paulista foi espalhada lentamente pelo vasto território brasileiro – em Santa Catarina, por exemplo, demorou dois meses para chegar. Apesar de ter ocorrido em 7 de setembro, o dia da Indepen­dência é comemorado, na Bahia, na data em que houve a expulsão das tropas portuguesas do país, em 2 de julho de 1823.

Ideia imatura

O primeiro caso que influencia os rumos para a Independência é o retorno de dom João a Portugal. Ele vai embora e deixa o país falido, pois havia esvaziado os cofres do Banco do Brasil. Não havia mais exército nem navios. Existia, sim, uma grande chance de o Brasil se dividir em três ou quatro países independentes, como ocorreu na América Espanhola. Mas aconteceu justamente o contrário: com a Indepen­dência, mesmo que não planejada, o Brasil ficou unido. "Digo no livro que a Independência foi uma espécie de combinação da sorte, improvisação do acaso com alguma sabedoria", diz Laurentino.

Há muita improvisação. Dom Pedro I vai a Minas Gerais em março de 1822 para apaziguar a província que ameaçava se separar do Brasil. Depois consegue o mesmo feito em São Paulo e Rio de Janeiro. "Digo que ele assegura a fidelidade [com a promessa de Independência] com o que eu chamo de coração do Brasil", explica.

A sorte foi grande porque o Brasil tinha um destacamento militar português que poderia ter se rebelado, mas aceitou o grito de liberdade. Dom Pedro, porém, tinha apenas 23 anos, era inexperiente e ousado demais, por isso contou com a sabedoria da esposa, Leopoldina de Bragança e Bour­bon, e com o fiel José Bonifácio de An­­drada e Silva. O projeto de Boni­fácio consistia em deixar o poder centralizado na figura de um rei, após a Independência, já que o contrário poderia gerar uma guerra civil com resultados muito mais violentos. E mesmo assim houve combates, como a Confe­­deração do Equador, em 1824, para tornar Pernambuco independente. A insatisfação foi resultado também do fato de o imperador dissolver a Constituinte de 1822 e criar outra em 1824 a seu bel-prazer.

O Brasil nunca teve um projeto concreto de Independência, pois a maioria das forças brasileiras desejava continuar fazendo parte do Reino Unido (Brasil, Portugal e Algarves), porque, do ponto de vista econômico, era mais rentável ter abertura com o mercado europeu. Para Laurentino, esta união, mesmo que entre países independentes, existe simbolicamente até hoje por meio da cultura, da música e da novela. "Todos os anos atravessam o oceano 220 mil portugueses e brasileiros em viagem de turismo ou negócios. O Reino Unido, de certa forma, deu certo."

Serviço:

Livro 1822, de Laurentino Gomes; editora Nova Fronteira; 351 páginas; preço sugerido R$ 44,90. O autor estará nas Livrarias Curitiba do Shopping Estação no dia 16, às 19h30, para um bate-papo e sessão de autógrafos. No dia 17, dará palestra gratuita no Unicuritiba (Rua Chile, 1.678, Rebouças, Curitiba). Inscrições no site www.unicuritiba.edu.br

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História para o feriadão

Neste feriado da Independência os museus da Secretaria de Estado da Cultura, em Curitiba, estarão abertos com uma agenda de exposições para gostos variados. Hoje, amanhã, terça e quarta-feira eles funcionam em horários especiais e na segunda-feira, dia 6, não abrem. Confira abaixo algumas atrações:

Museu Alfredo Andersen

Tem cinco exposições abertas. Homenageando Alfredo Andersen em seus tempos de professor, inaugura as mostras O Precursor do Ensino na Arte do Paraná e Projeto Andersen na Escola. Usando materiais como óleos, acrílicos, lápis e papéis colados sobre tela, Rones Dumke expõe suas obras em A Arte Silenciosa de Rones Dumke. A artista Soraia Savaris apresenta suas peças de cerâmica produzidas nos últimos três anos na exposição Ser Fruto. A outra mostra é Percepção, do artista paraense Osvaldo Gaia. As exposições permanecem no museu até o dia 24 de outubro.

Serviço:

Abre das 10 às 16 horas. Entrada gratuita. Rua Mateus Leme, 336, Centro. (41) 3222-8262.

Casa Andrade Muricy

Está em cartaz o 3º Salão Nacional de Cerâmica, no qual estão expostas 194 obras de 131 artistas selecionados das cinco regiões brasileiras. As obras estão divididas em três categorias: popular, artístico e design. Para entender melhor a divisão de categorias no salão, na cerâmica popular estão artistas sem formação técnica, mas que dão continuidade à tradição familiar ou usam essa arte como meio de sobrevivência. Na categoria de design industrial, o artista trabalha com uma escala de produção maior, focado em objetos utilitários. A cerâmica artística compreende um pouco de cada uma das categorias: o ceramista usa a técnica como expressão para compor obras de arte que podem ou não ser utilitárias. A mostra fica aberta à visitação até o dia 3 de outubro.

Serviço:

Abre das 10 às 16 horas. Entrada gratuita. Alameda Dr. Muricy, 915, Centro. (41) 3321-4798.

Museu do Expedicionário

Tem mostra permanente que conta a história dos brasileiros na Segunda Guerra. Além do farto material histórico, como fotografias, filmes, mapas, livros e ilustrações referentes à participação brasileira por meio da Força Expedicionária Brasileira, Força Aérea Brasileira e Marinha de Guerra do Brasil. Também há outras peças e documentos cedidos pelas diversas nações envolvidas no conflito.

Serviço:

Abre das 13 às 17 horas. Entrada gratuita. Praça do Expedicionário, Alto da XV. (41) 3362-8231.

Museu Paranaense

Em cartaz a exposição Povos Indígenas e Paisagens na Arte dos Irmãos Kozák, que traz 30 trabalhos do artista Vladimir Kozák em pinturas a óleo e aquarelas de grupos indígenas e paisagens paranaenses – especialmente da Serra do Mar. A mostra fica aberta até 11 de novembro.

Serviço:

Abre das 11 às 15 horas. Entrada gratuita. Rua Kellers, 289, Alto São Francisco. (41) 3304-3300.

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