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Para o presidente da Associação dos Nativos da Ilha do Mel, Alcione Valentim, a responsabilidade pela administração da ilha deveria ser repartida com a prefeitura de Paranaguá | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Para o presidente da Associação dos Nativos da Ilha do Mel, Alcione Valentim, a responsabilidade pela administração da ilha deveria ser repartida com a prefeitura de Paranaguá| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Projeto é rigoroso com a ocupação do território

Entre as definições do projeto de zoneamento da Ilha do Mel há mudanças na ocupação do território, visando conter ocupações irregulares e especulação imobiliária. Após a aprovação, os detentores das concessões dos terrenos poderão vendê-las somente com a autorização do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Ficará proibida também a locação dos imóveis.

"Um dia os moradores podem querer sair daqui e tê o direito de poder vender", alega Alcione Valentim, presidente da Associação dos Nativos da Ilha do Mel. O presidente explica ainda que a locação de imóveis é uma das únicas fontes de renda para muitos nativos.

É o caso da dona de casa Ana Maria da Silva, 42 anos. Ela possui dois imóveis em um terreno, um deles alugado por R$ 350 durante todo o ano. "Há uma professora que mora na casa. É uma renda importante, pois eu só trabalho durante a temporada." Para o comerciante Evaldo Davi a venda e locação devem ser proibidas. "Muitos, quando conseguiram a concessão de um terreno, disseram que não precisavam de mais nada na vida. E agora querem vender?", questiona. "Mas acho que precisa ser fiscalizado. Não adianta só aprovar", completa Davi.

O projeto do governo encaminhado à Assembléia também tornou mais rigorosa as regras para construção. O tamanho dos recuos das edificações foi ampliado. Na parte frontal deve ser de no mínimo 5 metros, 2 metros de lateral e 3 metros de fundo. O projeto original previa a metade dessas medidas.

Atualmente a Ilha do Mel tem população de 1,1 mil habitantes, que vivem em 600 lotes.

Principais pontos do projeto

* A Ilha será dividida em nove áreas.

* O limite de ocupação será de 5 mil visitantes.

* Turista terá que pagar taxa por dia de permanência na ilha.

* Quem tem casa particular não pode alugar para terceiros.

* As construções devem ser de madeira, com altura máxima de 5,9 metros e recuo de 5 metros de frente.

* Os lotes deverão ter no máximo 500 metros quadrados e não poderão ser desmembradosou divididos.

A Assembléia Legislativa adiou para a próxima semana a votação do projeto que trata das normas de uso e ocupação da Ilha do Mel. O projeto, encaminhado pelo governo do estado, deveria ter sido aprovado nesta quarta-feira (10) em segundo turno, mas recebeu emenda e retornou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para novo parecer.

Um dos pontos aprovados pelo primeiro parecer da CCJ é de que o zoneamento ambiental e as diretrizes para uso e ocupação da ilha ficará a cargo exclusivo do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Dessa forma, aponta o presidente do IAP, Vitor Hugo Burko, as decisões serão tomadas mais facilmente. "O plano de zoneamento visa dar um formato para a Ilha. Hoje há um conjunto de entidades e não há clareza de até onde vai a função de cada órgão", afirma Burko.

Entretanto, o presidente da Associação dos Nativos da Ilha do Mel, Alcione Valentim, 53 anos, defende que o município de Paranaguá (a quem pertence a Ilha do Mel) também participe da administração. "O IAP não tem pessoal para cuidar de tudo. O ideal para a Ilha seria a prefeitura de Paranaguá ser responsável pelas questões urbanas, como liberações de construções, e o IAP se envolver apenas nas questões ambientais", argumenta.

Um exemplo da falta de pessoal está na própria coordenação da ilha, cujo cargo pertence ao IAP. Há 9 meses o cargo está vago. "Estamos preparando outra pessoa para assumir nos próximos dias", afirma Burko.

A comerciante Roseli Valentim, de 46 anos, reclama da ausência do IAP em reuniões com os moradores. "Às vezes precisamos deles, marcamos horários e eles não comparecem."

Para o comerciante Evaldo Davi, 50 anos, há muita preocupação ambiental e quase nenhuma com o bem estar dos moradores. "O projeto quer preservar a ilha, cuidando da ocupação, mas para isso tem que prestar assistência para as pessoas daqui."

Apesar das reclamações dos moradores, o secretário estadual de Meio Ambiente, Rasca Rodrigues, defende a centralidade na administração da ilha. "O domínio completo sobre as decisões da Ilha do Mel – que competem ao estado – cabe ao IAP e não abrimos mão disso", enfatiza. Atualmente, existem quatro cargos de funcionários do IAP para trabalhar na ilha.

Apesar desse posicionamento, o secretário admite a possibilidade do IAP fazer parcerias com outros órgãos, sejam estaduais, municipais ou mesmo privadas. Rasca ressalta que apesar da centralização nas decisões, o IAP não tem a pretensão de fazer tudo sozinho na ilha. "Dentro da ilha há vários órgãos que não interagem e que trabalham separado. Essa interação precisa existir com o objetivo de preservar a Ilha do Mel", conclui.

DinheiroA emenda apresentada nesta quarta-feira diz respeito à taxa arrecadada dos turistas para acesso à ilha – hoje no valor de R$ 2 por dia. O deputado estadual Reinhold Stephanes Júnior (PMDB), autor da emenda, defende que o recurso seja administrado pela prefeitura de Paranaguá. "É uma forma de garantir que os recursos sejam usados só na ilha, que não sejam aplicados em outras áreas, como no Porto de Paranaguá", defende o deputado.

Pelo projeto, a taxa a ser cobrada dos visitantes será correspondente a 4% da Unidade Padrão Fiscal do Paraná (UPF/PR) por pessoa e por dia de permanência. Se a lei estivesse em vigor hoje, cada turista pagaria em torno de R$ 2,17 por dia.

Burko alega que o valor arrecadado será destinado a um fundo de reserva e servirá para aplicação em melhorias na ilha tão logo o projeto seja aprovado. "Antes de aplicar o dinheiro, o IAP precisa definir as prioridades e os moradores participarão deste processo", garante.

Enquanto isso, fica a reclamação dos moradores, que alegam haver pouco investimetno na ilha. "Não há melhoria nenhuma. Precisávamos de banheiros públicos, além de reformar acessos aos pontos turísticos", reclama a comerciante Roseli Valentim.

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