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Luto

Morre Johnny Alf, um dos pais da bossa nova

Compositor, que influenciou nomes como João Gilberto e Tom Jobim, lutava contra um câncer há três anos

Johnny Alf: a partir de influências do jazz e da música brasileira, compositor plantou a semente da bossa nova | André Porto/Folha Imagem
Johnny Alf: a partir de influências do jazz e da música brasileira, compositor plantou a semente da bossa nova (Foto: André Porto/Folha Imagem)

São Paulo - Morreu ontem aos 80 anos, em Santo André, na Grande São Paulo, o cantor, compositor e pianista carioca Johnny Alf, um dos pioneiros da bossa nova. Alf sofria de câncer de próstata havia três anos e seu quadro se agravou na segunda-feira. Segundo o Hospital Mário Covas, onde ele estava internado, a causa da morte foi uma falência múltipla de órgãos. Seu corpo será velado na Assembleia Legislativa de São Paulo e o enterro será no Cemitério do Morumbi. O músico morava em São Paulo desde 1954 e vivia sozinho.

Alfredo José da Silva nasceu na Vila Isabel, no Rio de Janeiro, no dia 19 de maio de 1929, e se notabilizou por canções como Eu e a Brisa, Ilusão à Toa e Rapaz de Bem. Foi criado pela mãe e uma família que a contratou como empregada doméstica depois da morte do pai. Por volta dos 9 anos, uma amiga dessa família, Geni Borges, o estimulou a aprender piano clássico.

Os estudos de música erudita tiveram pouca influência depois: o que mais teve impacto sobre sua criação artística foram os filmes musicais norte-americanos com trilhas sonoras assinadas por compositores como George Gershwin e Cole Porter. O jazz também o influenciou – uma de suas maiores inspirações foi o trio do também pianista e cantor Nat King Cole. Na música brasileira, os cantores Silvio Caldas, Orlando Silva e Dircinha Batista estavam entre seus prediletos. Ele também tocava Dorival Caymmi e sucessos do repertório de cantores como Lúcio Alves e Dick Farney. Dessa mistura surgiu o embrião da bossa nova.

De cabo a cantor

Até 1952, Alf se revezava nas funções de cabo do Exército e cantor de boate. Na plateia estavam cantores como Nora Ney e Dick Farney. Foi por intermédio deles que iniciou a carreira profissional como pianista na Cantina do César, casa noturna de propriedade do radialista César Alencar. Em seguida foi apresentado à atriz e cantora Mary Gonçalves, a Rainha do Rádio da­­quele ano, que gravou quatro mú­­sicas suas de uma só vez – O Que É Amar, Estamos Sós, Escuta e Podem Falar. A primeira gravação própria de Alf, Falseta, de sua autoria, saiu no lado B de um disco de 78 rotações, que tinha De Cigarro em Ci­­garro, de Luiz Bonfá, no lado A.

O primeiro LP foi lançado em 1961. Rapaz de Bem é considerado o primeiro disco de bossa nova, estilo que havia ganho esse nome em 1958 com Chega de Saudade, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, na voz e no violão de João Gilberto. A revolução silenciosa de Alf já tinha o aval de uma plateia privilegiada desde 1953: João Gilberto, Tom Jobim e Carlos Lyra, entre outros, que o tinham como ídolo. Seu maior êxito foi Eu e a Brisa, de 1967.

Em uma entrevista dada em janeiro do ano passado, o músico dizia estar "satisfeito, porque ainda sou bem conhecido e requisitado. Meus discos estão sendo relançados com sucesso. Estou no caminho que sempre desejei." Seu último show foi em agosto de 2009 no Teatro do Sesi, em São Paulo, ao lado de Alaíde Costa.

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