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Paciornik em seu apartamento, em 2007. Ele morava no 19º andar e, até há pouco tempo, subia e descia diariamente pelas escadas | Arquivo
Paciornik em seu apartamento, em 2007. Ele morava no 19º andar e, até há pouco tempo, subia e descia diariamente pelas escadas| Foto: Arquivo

Pioneiro, defensor das mulheres e da vida saudável

O paranaense Moysés Paciornik era um médico reconhecido internacionalmente por suas descobertas. Na década de 70 ele percorreu o sul do país e através de estudos científicos descobriu que as índias da tribo caingangue tinham uma constituição física melhor que as mulheres da cidade, mesmo tendo mais filhos. Para ele, o estilo de vida moderno, com o repouso constante em bancos e cadeiras, causava mais envelhecimento e por isso as índias levavam vantagem quando o assunto era musculatura pélvica e boa saúde. Daí surgiu a defesa do parto de cócoras, em 1975.

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Aprenda a Envelhecer sem Ficar Velho

Cheguei, passei dos oitenta.

Culpa minha não foi.

Aconteceu.

Poderia não ter acontecido.

É tudo questão de sorte ou de azar.

Sorte, quando a vida é boa e o camarada tem saúde.

Azar?

Preciso contar?

Tive sorte.

Tomara vá assim, até o fim.

Por quanto tempo?

Tanto faz, o que tiver que ser, será.

Do livro Aprenda a Envelhecer sem Ficar Velho, escrito por Paciornik em 2000.

  • De cócoras: posição que defendia não só para o parto, mas para fortalecimento muscular

Morreu na tarde desta sexta-feira (26), por volta das 17h30, o médico curitibano Moysés Paciornik. Ele estava com 94 anos e teve uma parada cardíaca após passar por uma cirurgia no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O corpo do médico deve chegar a Curitiba na manhã deste sábado e será velado a partir das 20h30 na Associação Médica do Paraná. O enterro ocorrerá no domingo, às 11 horas, no Cemitério Israelita Santa Cândida.

Moysés Paciornik passava as festas de fim de ano na companhia da família em Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro. Na última quarta-feira, o médico sofreu uma queda e quebrou uma das pernas. Levado de helicóptero para São Paulo, passou por uma cirurgia no mesmo dia e, desde então, apresentava um quadro estável. No fim da tarde de ontem, porém, teve uma parada cardíaca e não resistiu.

Segundo Ernani Paciornik, filho mais novo do médico, a família preparava uma grande comemoração de réveillon, mas, na memória de todos os parentes, ficará a festa do ano passado, quando ele ainda estava presente. "Meu pai era mais da cidade de Curitiba do que propriamente da família. Afinal, mais de 60 mil nasceram das mãos dele", afirma.

O advogado Antonio Carlos Bettega conta que seus pais e sogros eram amigos de faculdade de Moysés Paciornik. O sogro dele, inclusive, formou-se junto com o médico na turma de 1938 da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Por causa dessa antiga amizade, há 15 anos, Bettega recebia em casa toda a família de Moysés Paciornik para a ceia de Natal. "Nossa noite do dia 24 foi menos alegre do que deveria ter sido. E está sendo muito mais triste agora", lamenta.

De acordo com Bettega, Moysés Paciornik era um "velhinho da pesada", que não parava nunca, mesmo aos 94 anos de idade. Na opinião dele, o médico não merecia ficar doente, justamente pelo fato de ainda ser tão ativo e continuar atendendo pacientes todas as manhãs. "Foi uma bênção as coisas acontecerem dessa forma, sem que ele tivesse de ficar sofrendo por muito tempo", afirma. "Ele não está mais entre nós, mas deixa apenas boas lembranças e bons exemplos."

Para o presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Paraná (Sogipa), Hélvio Bertolozzi Soares, a morte de Moysés Paciornik representa uma perda irreparável para a medicina paranaense. "O professor Moysés era uma pessoa brilhante, desde o campo médico até as Letras", diz. "Ele sempre deixou uma grande lembrança por onde passou e, por isso, vai fazer muita falta."

Na última aparição pública, no dia 11 de dezembro, Moysés Paciornik foi o segundo paranaense da história a receber o Prêmio "Estado do Paraná", concedido pela Assembléia Legislativa. Demonstrando muita lucidez e vestindo a inseparável gravata borboleta, o médico se lembrou do esforço do pai – um padeiro vindo da Polônia – para que ele pudesse se formar em Medicina na UFPR. Em discurso no plenário, Paciornik se disse um homem de sorte por nascer em Curitiba e fazer parte da história do Paraná. "Ainda me sinto bem para continuar contribuindo com o meu estado", afirmou. "Quem sabe ainda consiga chegar aos 100 anos."

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Velório – Hoje, a partir das 20h30, na Associação Médica do Paraná. Rua Cândido Xavier, 575, Água Verde.

Enterro – Amanhã, 11 horas, no Cemitério Israelita Santa Cândida.

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