O ex-investigador da polícia civil Ricardo Abilhôa, filho do procurador de justiça e ex-coordenador da Procuradoria de Investigações Criminais (PIC), Dartagnan Cadilhe Abilhôa, se apresentou à Polícia Federal (PF) na noite de quarta-feira (12). Na companhia do pai e do advogado, Cláudio Dalledone Júnior, Ricardo se entregou depois de ficar por nove meses foragido da justiça.
Ricardo é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e usurpação de função pública. Ele deve ser ouvido em juízo já na semana que vem, mas enquanto aguarda a audiência, ele permanece preso na custódia da sede da PF, em Curitiba. Segundo a PF, enquanto esteve foragido Ricardo passou pelo Paraguai e por cidades no interior de São Paulo.
A acusação de corrupção é de 2004 e envolve dois, na época, policiais civis e o traficante internacional Lucio Rueda Bustos, conhecido por "Mexicano". O apelido tem fundamento. Bustos foi integrante do Cartel de Juarez, organização criminosa do México dedicada ao tráfico de entorpecentes e que foi comandada pelo conhecido traficante Amado Carrillo Fuentes. A investigação da PF concluiu que a organização arrecadava por mês cerca de US$ 200 milhões de dólares.
A investigação da PF foi além e desvendou uma grande extorsão, cerca de US$ 1 milhão de dólares, feito por Ricardo Abilhôa e pelo ex-policial civil Carlos Eduardo Carneiro Garcia (Carlinhos), preso no dia 16 de agosto de 2006, em Curitiba, e condenado recentemente a oito anos e 11 meses de prisão e ao pagamento de 510 salários-mínimos.
A investigação foi além. De acordo com o superintendente da PF, Jaber Saadi, "está comprovado que Ricardo e Carlinhos extorquiram Mexicano em cerca de US$ 1 milhão de dólares". E mais. "O trato da extorsão foi feito dentro de uma das salas da PIC", na época coordenado pelo pai de Ricardo. O pagamento, segundo a denúncia do MPF, foi feito em três parcelas - em todos os "encontros", o dinheiro foi levado por uma advogada de Mexicano e entregue em mãos ao Carlinhos.
Além do depoimento da advogada, que comprova o pagamento da extorsão, os promotores do MPF se baseiam no crescente e incompatível patrimônio dos dois policiais. No Imposto de Renda de 2001, declarado por Ricardo, o patrimônio era de 61.666,66. Saltou para R$ 251.134,49 em 2002, para R$ 309.873,37 em 2003 e para pouco mais de R$ 434 mil no ano seguinte. Patrimônio incompatível com o salário de policial civil - R$ 17.539,20 de total de rendimentos tributáveis declarado por Ricardo em 2005.
Mas, segundo a denúncia do MPF, foi a partir do meio do ano de 2004, que Ricardo começou a adquirir bens. Um imóvel, por exemplo, comprado a vista por R$ 240 mil em Balneário Camboriú, em Santa Catarina e sete veículos.
Preso no velório
O MPF e a PF concluiram que Ricardo e Carlinhos teriam descoberto que Mexicano estaria num velório em Curitiba em 18 de junho de 2004. Sabiam também que o traficante era do Cartel de Juarez e que usava um nome falso: Ernesto Plascênia San Vicente. Com a informação, repassada aos policiais por uma amiga da família de Mexicano, Ricardo e Carlinhos - com outros três policiais lotados na PIC - foram até o encontro do traficante. Eles abordaram Mexicano e o levaram para a PIC. Lá, teriam extorquido com a promessa de liberá-lo. De acordo com o MPF, o dinheiro foi dividido entre Ricardo e Carlinhos - os policiais da PIC teriam sido usados. No depoimento, Carlinhos confirma a abordagem ao Mexicano, mas nega a extorsão. Entretanto, na época, Carlinhos estava afastado da função policial por ordem judicial, portanto não poderia participar de nenhuma operação policial. Mexicano também nega que tenha dado dinheiro aos policiais.
Segundo a PF, Mexicano não traficava drogas no Brasil, mas lavava dinheiro no Paraná, onde morava com uma mulher no bairro Vila Hauer. O patrimônio dele só no Brasil, confiscado pela justiça, é avaliado em aproximadamente R$ 18 milhões - de acordo com o Imposto de Renda dele declarado em 2005.
O inquérito que envolve o crime de extorsão está praticamente encerrado, entretanto, a PF ainda investiga a questão financeira dos envolvidos. Sobre o processo de Ricardo, o MPF acredita numa condenação próxima a de Carlinhos - já que os dois respondem basicamente pelos mesmos crimes.
A reportagem da Gazeta do Povo Online procurou o advogado Cláudio Dalledone Júnior mas este não foi encontrado.



