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Eles ficam: sem terra convencem policiais militares e fincam bandeiras na fazenda São Francisco II, em Ponta Grossa | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
Eles ficam: sem terra convencem policiais militares e fincam bandeiras na fazenda São Francisco II, em Ponta Grossa| Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo

Sem flagrante

PM foi omissa, afirma advogado

Depois de uma longa e nervosa conversa com parentes do ex-coronel da Polícia Militar Valdir Copetti Neves, na área ocupada ontem pelo MST, o comandante da operação, major Marcos Condolo, determinou que eles deixassem a área porque não podia retirar os invasores do local, já que não tinha autorização judicial.

Para o advogado de Neves, Carlos Eduardo Martins Biazetto, a PM foi "conivente e omissa" ao não realizar a prisão em flagrante das lideranças e desocupar imediatamente a área. Das 200 pessoas que tomaram a fazenda, apenas 60 permaneciam ao redor da sede, pois as demais haviam ido buscar lonas para subir os barracos e panelas para montar uma cozinha provisória. "É uma questão política, a PM não peitou os sem-terra, poderia ter os retirado da área", afirmou o defensor.

O major Condolo, por sua vez, disse que sua obrigação era a de preservar a integridade física tanto dos invasores quanto dos parentes de Neves. Agora, Biazetto pedirá a reintegração de posse do local e aguardará a posição judicial.

Pela terceira vez em cinco anos, integrantes do Movimento dos Tra­­balhadores Rurais Sem-Terra (MST) voltaram a invadir área do tenente-coronel da reserva Valdir Copetti Neves na zona rural de Ponta Grossa, nos Campos Gerais. A fazenda está arrendada para o plantio de grãos, mas segundo o movimento, pertence à Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope­­cuária (Embrapa) e foi grilada pelo ex-policial. A Polícia Militar aguarda decisão judicial para retirar os invasores.A ocupação começou às 5 horas de sábado, quando cerca de 200 pessoas do MST, com bandeiras e facões chegaram à sede da propriedade, ocupada por caseiros. Eles deixaram o local enquanto os militantes fincaram bandeiras. Uma hora e meia depois, o coronel da reserva chegou à propriedade acompanhado de oito seguranças. Segundo a militante Vanda de Assis, o grupo disparou tiros para o alto, mas ninguém foi atingido.

PolíciaO caseiro Jair Nogueira afirmou que ninguém do MST estava armado e que não houve violência. Entre os invasores havia crianças de colo e idosos. "Quando a polícia chegou, porque nós a chamamos, os jagunços mocaram as armas", disse Vanda. A polícia informou que recebeu chamados tanto do MST quanto do ex-coronel.

Familiares de Neves e o arrendatário da área, Elmir José Groff, permaneceram no local, a menos de 10 metros dos militantes do MST. Neves se ausentou e negociava com o comando da operação apenas por telefone. Para evitar conflitos, o comandante da operação, major Marcos Lins Condolo, isolou a área. Os parentes do ex-coronel deixaram a área, sob protestos, enquanto os sem-terra fixaram bandeiras nas entradas. "Cadê a Constituição, cadê o Ministério Público que não está vendo isso?", questionava, aos prantos, a filha do ex-policial, Rafaela Abib Neves.

Ela argumentava com a polícia que a área deveria ter sido desocupada imediatamente após a invasão, porque ainda não havia acampamento montado. Já o major informava que, nesse caso, o direito à vida prevalece sobre o direito à propriedade. "A retirada pode gerar um ônus social muito mais importante", explicava.

A área, chamada de São Francisco II, já foi ocupada em agosto de 2005 e em maio de 2007. Nas duas ocasiões, Neves conseguiu a reintegração judicial. Conforme os militantes do MST, a área do São Francisco II foi desocupada irregularmente em 2007, já que a ordem de reintegração se referia à área do São Francisco I, que fica nas proximidades.

Os caseiros tinham visto carrosrondando a região na semana retrasada. Avisaram ao arrendatário, que informou a situação à PM. "Não fizeram nada", lamenta. Groff espera que "a Justiça seja feita" para impedir a perda da produção. Ele tem 200 hectares de área plantada, entre feijão, milho e soja. Vanda de Assis, do MST, afirmou que a intenção não é passar "trator em cima". "Vamos trabalhar a terra para plantar produtos agroecológicos", disse.

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