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Assistência médica

Na UTI, qualidade de vida é fundamental

Hoje, 80% dos pacientes que passam por UTIs sobrevivem, mas unidades ainda precisam melhorar procedimentos

Médico José Henrique Schettini e a equipe do setor de Terapia Intensiva do Erasto Gaertner: unidade é considerada modelo de humanização | Arquivo
Médico José Henrique Schettini e a equipe do setor de Terapia Intensiva do Erasto Gaertner: unidade é considerada modelo de humanização (Foto: Arquivo)

Os avanços em técnicas e procedimentos alcançados nas últimas décadas permitem que muitos pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) deixem o hospital e voltem a ter uma vida normal. Hoje, de cada 10 pacientes internados em UTIs, oito sobrevivem. Há 15 anos, o índice de mortalidade chegava a 50%. Com perspectivas melhores, a preocupação dos médicos deixou de ser apenas manter o paciente vivo e passou a englobar também formas de preservar a qualidade vida dessas pessoas durante e após a internação.

Para garantir que os pacientes deixem o hospital sem sequelas físicas ou emocionais, é preciso que os hospitais tenham equipes multidisciplinares, equipamentos adequados e estrutura física capazes de oferecer todo o atendimento necessário. O problema é que, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva (Sobrati), 70% das UTIs no Brasil não atendem aos padrões mínimos de humanização. "São UTIs que não atendem nem mesmo premissas básicas, como a presença de um psicólogo e a permissão para que familiares acompanhem o doente", diz o presidente da entidade, Douglas Ferrari.

Em 80% dos casos, os hospitais não permitem que as mães ou algum familiar acompanhem durante 24 horas as crianças internadas, embora esse seja um direito previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente. "Há estudos que comprovam que a presença da família acelera a recuperação do paciente", defende Ferrari. Segundo ele, a permanência dessas pessoas não põe em risco a segurança dos doentes. "Não aumenta o risco de infecção. O que importa são os cuidados de higienização do local. O que acontece é que a equipe médica, às vezes, não gosta da presença da família porque essas pessoas acabam atuando como agentes fiscalizadores do serviço", comenta.

Mobilidade limitada

O tempo médio de permanência na UTI é de seis dias. Pacientes que sofrem traumas neurológicos ou que têm infecções graves acabam ficando mais tempo. Entretanto, estudos mostram que bastam poucos dias para que o corpo já comece e sentir os efeitos da falta de mobilidade. Em uma semana de internamento, um paciente chega a perder 30% da massa muscular e corre o risco de sofrer problemas como retração dos tendões, alterações na circulação e até um tromboembolismo.

Estudos mostram ainda que 25% dos pacientes internados por pelo menos cinco dias com tubos de respiração não conseguem usar seus braços para se levantar e ficar em posição sentada. Em média, depois de sair do hospital, os doentes levam de 6 a 12 meses para retomar as atividades normais. "O fisioterapeuta tem um papel muito importante dentro da UTI, tanto na fisioterapia respiratória como motora. Muitos pacientes precisam aprender a respirar de novo sem o auxílio de aparelhos. É importante, sempre que possível, que o paciente levante, caminhe e troque de posição na cama", explica o médico José Henrique Schettini, coordenador do setor de Terapia Intensiva do Erasto Gaertner, cuja UTI é considerada modelo de humanização. O hospital conta com dez leitos e uma equipe de médicos, enfermeiros e técnicos que ficam 24 horas no local. Além disso há um psicólogo e um fisioterapeuta que passam todos os dias na unidade. Para ele, a tendência é de cada vez mais individualizar o tratamento. "Temos certas regras, mas tentamos tratar cada paciente de acordo com as suas necessidades. Cada caso é um caso. Quando se trata de um paciente em estado terminal, permitimos que entre mais gente da família na UTI, que fiquem mais tempo", explica. Segundo ele, cuidados especiais na rotina do paciente também fazem a diferença. "Procuramos deixa-los o menos tempo possível sem roupas, cuidar da iluminação do quarto, da alimentação de cada um. Deixar o paciente sentar, ver televisão, ouvir rádio ou o que ele quiser para se distrair", diz.

Manter uma rotina que seja o mais próxima possível da vida fora do hospital também ajuda a manter o organismo funcionando corretamente. "É importante que haja um relógio para o paciente se orientar e que a iluminação seja reduzida durante a noite para manter o metabolismo em ordem", diz a médica Nazah Cherif Mohamad Youssef, presidente da regional Paraná da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, supervisora médica da UTI do Hospital de Clínicas e diretora médica da UTI do Hospital das Nações. O silêncio também precisa ser preservado. Segundo ela, depois da dor, a segunda reclamação mais comum entre os pacientes é o barulho. "Os equipamentos emitem muitos sons, isso às vezes incomoda", diz.

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