
Cores, neve, Papais Noéis, trenzinhos, pinheiros gigantes. Quando o Natal se aproxima, vários itens de decoração surgem nos shoppings, nas casas e nas ruas da cidade. Mas os símbolos cristãos da festa têm recebido cada vez menos espaço ou, simplesmente, têm sido abandonados. Com o fenômeno de laicização do Natal, a festa perde o aspecto religioso e assume outros papeis dentro da sociedade.
O coordenador do curso de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), César Kuzma, conta que a festa do fim de ano, em sua origem, não é cristã. Segundo ele, no império romano já se cultuava o deus Sol nesse período. A partir do século IV, a mesma festa foi transformada na comemoração cristã do Natal. "Hoje, ela é cristã apenas para quem segue esse tipo de religião, para os outros, tornou-se uma festa do comércio", afirma.
A mudança cultural e o consumismo levaram os símbolos natalinos cristãos a se perderem e serem trocados por figuras distantes da realidade brasileira, entre elas a neve e as renas. "Como a religião não faz mais parte da base da sociedade, ela ganhou um sentido opcional. Com isso, o fenômeno e o espírito natalino não estão tão evidentes", conta Kuzma.
Segundo o professor do departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Pedro Paulo Funari, o processo de laicização do Natal vem ocorrendo há algumas décadas. "A nossa sociedade tem cada vez mais se tornado urbana e sido influenciada pelo capitalismo. A ênfase acaba sendo na troca de presentes, que é uma atividade que reforça os laços sociais", explica.
Ambos concordam que, dessa forma, pessoas de outras religiões também podem participar da festa de fim de ano. "Com os motivos da festa sendo apenas a troca de presente e confraternização, pessoas de outras religiões podem ser incluídas", avalia Funari.
Mas os professores também lembram que a religiosidade é mantida pelas pessoas que são cristãs. "Apesar de ter se tornado uma festa do comércio, existem cultos religiosos nesta data e os cristãos os frequentam", conta Kuzma. "O caráter religioso é mantido nessas comunidades, com pessoas que frequentam a igreja e celebram o Natal como o nascimento de Jesus", acrescenta Funari.
A aposentada Sherley da Rocha França, de 69 anos, segue uma tradição familiar: ela enche sua casa com presépios. "Sou vidrada nessa época natalina. Além de colocar um presépio na decoração externa, tenho vários dentro de casa. Onde vejo um eu compro", conta ela, que decidiu manter os símbolos religiosos em sua casa. "Muita gente se esquece do principal do Natal; eu preservo o sentido. Faço isso para me alegrar e alegrar minha família, meus sobrinhos", diz.
Relembrando o sentido
Na internet, é possível ver campanhas e opiniões contrárias e favoráveis à diminuição da religiosidade na data. Para Kuzma, a polarização pode ser perigosa. "A festa é cristã do ponto de vista dos cristãos; não se pode obrigar as pessoas que não têm a mesma fé a aceitá-la desse modo. A tentativa de impor uma verdade aos outros pode tornar o movimento religioso fundamentalista", afirma ele, que completa. "O aspecto religioso é causador de muita divisão e violência".
Já Funari acha importante relembrar os aspectos de humildade relacionados à origem do Natal. "Enfatizar o caráter religioso mostra que as pessoas estão mais preocupadas com a origem, além da visão consumista. Essa solidariedade que está implícita tem de ser mais importante que a movimentação do comércio", finaliza.
TradiçãoDecoração com Papai Noel e os três Reis Magos
Alguns shoppings ainda mantêm a tradição do presépio em suas decorações. Um dele é o Shopping Mueller, que conta com um presépio instalado no piso subsolo, junto com o Papai Noel.
Segundo a gerente de marketing do shopping, Patrícia Gonçalves, a ideia é resgatar a lembrança do principal sentido do Natal. "Nós vemos que é muito importante para não se perder o sentido da comemoração, como o nascimento de Jesus e a solidariedade entre as pessoas", explica.
Ela também destaca que o shopping é ecumênico, mas que a decoração de Natal tem uma ligação mais religiosa. "O local não é dedicado a uma ou outra religião, mas, historicamente, essa data é marcada pelo ritual cristão", conta.




