
Atravessar um rio no interior do Paraná não é tarefa fácil. Para amenizar a dificuldade das localidades rurais que não são ligadas por pontes, as prefeituras e empresas particulares administram balsas que transportam pessoas, veículos e caminhões leves de uma margem a outra. Mas, como geralmente o serviço é prestado sem segurança, a Capitania Fluvial do Rio Paraná, ligada à Marinha, interditou 28 das 65 balsas existentes no interior. Quem precisa cruzar os rios tem de apelar para botes ou viajar até 80 quilômetros para chegar ao destino que, por meio da balsa, é alcançado em poucos minutos.
Há cerca de um mês, a Capitania intensificou a fiscalização no transporte aquaviário do estado. Segundo a tenente Raquel de Ávila Santos, as interdições ocorreram porque não há balseiros habilitados em curso da Marinha, falta Certificado de Segurança da Navegação ou, em alguns casos, o documento está vencido, e ainda não há condições de segurança para os passageiros ou a carga transportada. Quando falta apenas o título de inscrição da embarcação ou o seguro obrigatório, a balsa pode manter as atividades normais enquanto o responsável regulariza a situação.
Ordem descumprida
Há, no entanto, quem descumpra a interdição. A balsa da Vila Palmira, que liga os municípios de São João do Triunfo a Lapa pelo Rio Iguaçu, foi interditada há cerca de 20 dias, mas a reportagem encontrou marcas recentes de passagem de veículos no acesso à balsa e moradores da região confirmam que o equipamento continua sendo usado. O balseiro interino José Luiz Ferreira disse que são os próprios passageiros que manuseiam a manivela da balsa e que ele ficou responsável apenas pelo transporte de bote entre uma margem e outra.
A prefeitura de São João do Triunfo reconhece que a população necessita da balsa, mas negou que o serviço esteja em atividade. "Nós não temos conhecimento disso", informou o secretário municipal de Obras, Joelson Wenrte. Ele disse também que boia e coletes salva-vidas já foram licitados e que a liberação do equipamento depende da renovação do curso da Marinha do balseiro. A desinterdição pela Capitania depende do cumprimento das exigências, mas tem prazo máximo de até 90 dias.
Estudantes cruzam o rio sem coletes salva-vidas
Sem balsa, o jeito é atravessar de barco mesmo. Essa tem sido a rotina de crianças que moram na Lapa e estudam na Vila Palmira, em São João do Triunfo. Os irmãos Fernanda, 13 anos, e Eduardo Pionoski, 8 anos, em companhia da prima Gabriela, 8 anos, cruzam os cerca de 100 metros de rio na embarcação conduzida por José Ferreira (foto). Eles caminham 300 metros da casa até a margem e, depois de desembarcarem, andam mais uns 500 metros para chegarem até a escola. Sem coletes, dizem que já estão acostumados com a travessia e que nem sentem medo.
Juci Mara Kosloski reclama da paralisação do serviço. "Para fazer qualquer coisa precisa atravessar o rio, sem a balsa fica muito difícil", afirma. Ela mora na Lapa, a 2,5 quilômetros da margem do Iguaçu. Duas vezes por semana, atravessa o rio para ir até São João do Triunfo e levar o filho para fazer fisioterapia. "Com a balsa funcionando, a Kombi da Apae me leva até em casa, mas agora tenho que esperar meu marido me buscar de carro do outro lado do rio ou ir a pé em casa com o meu filho no colo." O filho de Juci, que tem 4 anos, pesa 19 quilos.



