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Drama no Rio

Número de mortos chega a 212

Dificuldade agora é para identificar os corpos. Garagem de empresa de ônibus está sendo usada como necrotério ao lado do Morro do Bumba

Bombeiros carregam corpos resgatados no Morro do Bumba, em Niterói, onde pelo menos 200 pessoas podem ter sido soterradas na noite de quarta-feira: falta de estrutura e burocracia dificultam identificação dos corpos e enterros | Sérgio Moraes/Reuters
Bombeiros carregam corpos resgatados no Morro do Bumba, em Niterói, onde pelo menos 200 pessoas podem ter sido soterradas na noite de quarta-feira: falta de estrutura e burocracia dificultam identificação dos corpos e enterros (Foto: Sérgio Moraes/Reuters)

Rio de Janeiro - Um levantamento divulgado ontem pela Defesa Civil do Rio de Janeiro deu uma dimensão da tragédia causada pelas chuvas que afetam o estado desde segunda-feira: 212 mortos e pelo menos 50 mil pessoas desalojadas ou desabrigadas. Ontem, 26 corpos foram resgatados no Morro do Bumba, em Niterói, onde houve um deslizamento na noite de quarta-feira, e 16 deles aguardavam reconhecimento para liberação. O Corpo de Bombeiros estima que 150 pessoas ainda estejam soterradas.

Com a tragédia, as autoridades passaram a usar a garagem de uma empresa de ônibus, no pé do morro, como necrotério improvisado. A ideia é acelerar os enterros. "Temos hora para começar, mas não sabemos quando vamos terminar. Funcionaremos em diversos turnos, para que o serviço esteja disponível 24 horas", disse o coordenador-geral da Defensoria Pública do Estado, Petrúcio Malafaia.

Antes da implementação do IML improvisado, os corpos estavam sendo divididos entre os necrotérios de Niterói e do Rio. O corpo do tio do motoboy Alan Silva, por exemplo, foi enviado para a capital. Ele não sabia como iria fazer para reconhecê-lo, já que todos os documentos da família ficaram soterrados na área do desabamento. "Como vou provar que ele é meu tio?", indagava.

Desde a manhã de ontem, uma fila de vítimas do desabamento já se formava no entorno da garagem. Além do reconhecimento dos corpos, o serviço de emissão de segunda via de documentos era um dos mais aguardados.

Para acelerar os sepultamentos, a Polícia Civil enviou dez servidores ao local, entre peritos e papiloscopistas, para trabalhar na liberação dos corpos. Da garagem os corpos seguirão direto para o Cemi­tério de Maruí, onde a prefeitura de Niterói liberou enterros gratuitos para os familiares das vítimas das chuvas. O prédio do IML de Niterói está fechado há dois anos.

A falta de documentos dificulta o reconhecimento de corpos das vítimas. Para dar assistência jurídica às famílias e pedir alvarás para sepultar os corpos que não podem ser identificados, a Defensoria Pública do Rio destacou um plantão de defensores. Eles ficarão durante todo o fim de semana no IML.

Niterói entrou em colapso depois de segunda-feira: o Hospital Azevedo Lima, o único em que o Setor de Emergência funciona, não tem mais leitos disponíveis. No Hospital Universitário Antônio Pedro, o pronto-socorro está fechado há três anos. Moradores do Morro do Céu, próximo do Morro do Bumba e também construído sobre um antigo lixão, disseram que várias casas estão afundando e uma igreja desabou à tarde. Ninguém ficou ferido.

Áreas de risco

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou ontem que, se for preciso, a prefeitura poderá chamar a força policial para retirar as famílias das áreas de risco. "Prefiro uma pessoa com raiva de mim na rua, mas viva, do que uma pessoa feliz porque a prefeitura deixou ela ficar nessa área, mas morta depois por causa de um deslizamento", disse. O governador Sérgio Cabral também defendeu as remoções, mesmo à revelia dos moradores.

Já o Ministério Público (MP) estadual instaurou inquéritos civis para apurar a implementação e a regularidade de plano de identificação, monitoramento e contenção de áreas de risco por parte do poder público nos municípios. O MP quer identificar problemas de drenagem urbana, controle de ocupações e áreas de risco e à destinação do lixo. Também será apurada a responsabilidade dos agentes públicos nos desastres e fiscalizados os contratos e recursos que serão usados na reestruturação dos locais atingidos.

As Forças Armadas auxiliarão no socorro às vítimas das chuvas com homens e dois hospitais de campanha, que serão montados em São Gonçalo para atender os feridos. Militares do Exército e da Marinha também auxiliarão no resgate dos corpos soterrados em morros.

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