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RELIGIÃO

O amigo brasileiro de João Paulo II

Dom Geraldo Majella, ex-arcebispo de Londrina e Toledo, trabalhou com o pontífice polonês e vai acompanhar a canonização do papa

Dom Geraldo: fé enriquecida nas conversas com o papa | Roberto Custódio/Jornal de Londrina
Dom Geraldo: fé enriquecida nas conversas com o papa (Foto: Roberto Custódio/Jornal de Londrina)

Quando o papa João Paulo II morreu, em abril de 2005, surgiram cartazes na Praça de São Pedro com a inscrição "santo subito" (em italiano, "santo já"). Daqui a um mês, um amigo brasileiro do papa polonês estará presente na cerimônia de canonização. O cardeal dom Geraldo Majella Agnelo, de 80 anos, trabalhou diretamente com Karol Wojtyla, na Santa Sé, de 1991 a 1999.

No Vaticano, em 27 de abril, várias imagens deverão passar pela memória de dom Geraldo. Durante os oito anos em que atuou como secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, ele fazia reuniões frequentes com João Paulo II. "Nunca saí de um encontro com ele sem me enriquecer na fé", lembra o cardeal. Em uma audiência, discutia-se a permissão de mulheres para o serviço no altar. Alguns dos presentes criticaram a medida. Contrariado, o papa subitamente se levantou e disse em tom decidido: "As mulheres devem servir ao altar. Foram elas que salvaram a fé durante o comunismo." O papa polonês lembrou então do papel das mães e avós que celebravam as chamadas "missas secas", sem a presença de padres, nos países do bloco soviético. Era a igreja do silêncio, tantas vezes mencionada por João Paulo II.

Saúde

No final dos anos 1990, a saúde do papa começou a declinar. Durante as audiências, ele falava muito pouco; às vezes se expressava apenas por gestos. "Eu fazia comentários, ele respondia com a cabeça", conta dom Geraldo. Nessas horas, o papa levava seu amigo brasileiro a pensar em São José, pai adotivo de Jesus e padroeiro universal da Igreja. "José impressiona porque faz tudo que é necessário sem dizer uma palavra nos Evangelhos. Não se ouve a voz dele. É o homem da obediência ao plano de Deus."

No domingo em que João Paulo II será canonizado, o amigo poderá pensar que as coisas mais importantes, às vezes, são ditas em silêncio.

Londrina: a cidade dos três arcebispos

Roma hoje a situação inusitada de ter dois pontífices: o papa Francisco e o papa emérito Bento XVI. Londrina, no Norte do Paraná, vive situação semelhante, pois a cidade tem hoje três arcebispos: Dom Orlando Brandes, Dom Albano Cavalin e Dom Geraldo Majella Agnelo. O primeiro é o efetivo; o segundo, emérito; e o terceiro escolheu Londrina para viver após aposentar-se como arcebispo de Salvador (antigo primaz do Brasil). De 1983 a 1991, Dom Geraldo esteve à frente da Arquidiocese de Londrina, cidade em que fez muitos amigos e ordenou muitos padres. O cardeal que conheceu pessoalmente três papas e participou de dois conclaves hoje celebra missas e realiza confissões nas paróquias da região. Além dessas atividades, Dom Geraldo pretende escrever suas memórias.

Data especial

O dia 27 de abril não foi escolhido ao acaso para a canonização de João Paulo II. Trata-se do 2º Domingo de Páscoa, também chamado Domingo da Divina Misericórdia. O papa polonês morreu exatamente um dia antes dessa data, em 2005, após uma longa e sofrida guerra contra o mal de Parkinson. "Até o fim, o papa João Paulo II foi um exemplo de vida e de seguimento de Cristo", diz Dom Geraldo, que também reserva palavras de admiração para Bento XVI ("um intelectual refinado, uma inteligência fabulosa") e Francisco ("uma bênção para a Igreja"). Os cardeais Agnelo e Ratzinger cumprimentavam-se todas as manhãs no Vaticano. Já o papa argentino é tratado amistosamente por Dom Geraldo como "Bergoglio".

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