
O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado diante de um cenário especialmente preocupante, neste ano. Depois que o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) alertou mais intensamente, em fevereiro, sobre a ameaça do aquecimento global, o mundo está em polvorosa. Nada para comemorar? Para o diretor da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) e autor da coleção Geografia Homem & Espaço (Editora Saraiva), Elian Alabi Lucci, "devemos comemorar, pelo menos, o despertar da consciência ecológica".
Em entrevista à Gazeta do Povo, o geógrafo fala sobre o hotspot termo cunhado para designar as 34 áreas que necessitam de conservação mais urgente no planeta paranaense, com seu índice de apenas 0,8% de matas nativas de araucária.
Como o Paraná se insere no contexto das discussões ambientais sobre o futuro do planeta?
O Paraná e todas as regiões que possuem Mata Atlântica em seus trechos litorâneos estão em uma das principais áreas de risco. No Paraná, o hotspot corresponde à Floresta Tropical Atlântica ou à Mata Atlântica e a um trecho de suas formações litorâneas. A boa notícia é que o Paraná prioriza muito a educação ecológica e, por isso, ainda há bons trechos dessa área de risco muito bem preservados. Agora, o que deixa a desejar em relação aos estados do Sul é a questão da Mata dos Pinhais que se apresenta quase que totalmente devastada.
Quais as conseqüências do desmatamento de araucárias no Paraná?
É uma grande perda para a biodiversidade local. Sua extinção vai refletir no fim de espécies da fauna que são endêmicas (aquelas que só são encontradas na sua área de abrangência), como a gralha.
Como o poder público paranaense pode contribuir para a preservação do futuro do planeta, levando-se em consideração a área de risco do estado?
Ao poder público caberia promover um zoneamento agroecológico para disponibilizar de forma mais equilibrada as áreas de cultivo do estado. Também caberia a promoção de campanhas de esclarecimento sobre o assunto.
O aquecimento global é um risco tão eminente como vem sendo alardeado?
Na minha opinião, o alarde deveria ser maior. Pelo andar da carruagem, o cenário é bastante preocupante. As grandes potências, que são as grandes poluidoras, mostram que ainda estão mais preocupadas com a economia e com o poder global. Nessa altura, nós já deveríamos ter um governo ou uma entidade política de caráter supranacional mantida por todos os países do globo para tentar colocar já um limite aos efeitos que a Terra assiste.
Por que as ações que vêm sendo feitas não são suficientes para preservar o futuro do planeta?
Não são suficientes dada à proporção do limite que já atingimos. Vivemos hoje a sexta grande onda de extinção em massa do planeta não mais provocada por fatores naturais, como as anteriores, mas pela ação antrópica de um homem altamente consumista e hedonista.
Temos alguma coisa para comemorar neste Dia Mundial do Meio Ambiente?
Devemos comemorar o despertar da consciência ecológica, que já atinge algumas camadas da população e que até então não via os reais problemas que enfrentamos hoje em nosso Planeta.
Elian Alabi Lucci, diretor da Associação dos geógrafos brasileiros



