
Responsáveis por estudos nas mais diferentes áreas do tratamento contra a asma até a produção de biscoitos , pesquisadores das universidades paranaenses têm dobrado os esforços para garantir que os projetos desenvolvidos nos laboratórios encontrem respaldo e atenção de investidores fora do ambiente acadêmico. Somente no último ano, o número de pedidos de patentes feito por universidades do Paraná junto ao Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Inpi) aumentou 86%. Foram 125 depósitos de invenções contra 67 em 2011.
A fatia da academia no bolo total de pedidos do estado, porém, ainda é tímida. Apesar de concentrar as cabeças pensantes, cujo trabalho muitas vezes é voltado diretamente para as pesquisas, as universidades foram responsáveis em 2012 por somente 17% dos registros paranaenses solicitados ao Inpi. O restante foi monopolizado pela iniciativa privada, mais atenta, segundo os próprios pesquisadores, à possibilidade de angariar recursos pela exploração de novos produtos e processos.
O balanço das universidades paranaenses foi feito pela Gazeta do Povo, com base em informações repassadas pelas instituições. Considerando os últimos cinco anos, o aumento no número de pedidos com origem na academia chega a 205% (veja gráfico). O "boom" recente, conforme especialistas, é fruto de investimentos das universidades na estruturação e qualificação de incubadoras e agências de inovação, órgãos responsáveis por orientar os pesquisadores e tomar para si o trabalho burocrático junto ao Inpi. Que, no caso das patentes, não é pequeno.
"Para de fato haver inovação, é preciso transformar conhecimento em produto ou serviço e isso chegar na sociedade, para então gerar recursos e desenvolvimento. As universidades ainda não conseguem realizar esse processo de forma plena, mas agora estão começando a se estruturar", avalia o professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e assessor da reitoria para Inovação Tecnológica, Marcelo Farid.
Parceria
Mesmo com o aumento de pedidos de patentes, há consenso de que o potencial de inovação das universidades, tanto no Paraná quanto no país, pode ser muito maior. Principalmente se a academia e o setor produtivo estreitarem os laços, tirando da gaveta dos pesquisadores processos e produtos que poderiam chegar ao "cidadão comum", reforça o gerente do Centro Internacional de Inovação do Fiep, Filipe Cassapo. "As universidades precisam proteger, por meio das patentes, o conhecimento que produzem, mas para que ele seja transferido para as empresas. Se tivermos só patentes depositadas, mas não tivermos diálogo e conversão para processos e negócios, perderemos uma grande oportunidade de gerar inovação", afirma.
InvestimentoPortal compartilhará dados sobre pesquisas
O secretário estadual da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Alípio Leal, considera como "promissor" o cenário de evolução das pesquisas e pedidos de patentes nas universidades. "Está havendo uma mudança de conceitos que encontra consistência nas propostas do governo e do setor produtivo. As universidades estão se abrindo para isso, o que não é muito comum", afirma.
Um dos avanços recentes, que deve promover um ambiente mais favorável para a produção científica na academia e nas empresas, é a criação da Lei da Inovação do Paraná, sancionada em setembro passado. Na próxima semana, a lei será regulamentada e o governo deve declarar 2013 como "o ano da inovação" no Paraná.
Entre as medidas previstas na lei está a concessão de bolsas para que estudantes de mestrado e doutorado façam projetos de pesquisas em empresas. Outra iniciativa planejada é a criação de um portal online que reunirá informações da produção científica das universidades para consulta da iniciativa privada. Na prática, o sistema permitirá que empresas, entidades e universidades consigam acompanhar o que cada um está produzindo de tecnologia (respeitados os casos de sigilo) e possam concentrar esforços.



