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Área devastada pela passagem do tornado em 1959 | Fotos: Silvia Müller/Irma Deitos/Arquivo pessoal
Área devastada pela passagem do tornado em 1959| Foto: Fotos: Silvia Müller/Irma Deitos/Arquivo pessoal

"Quando voltei a si, pedi para o meu irmão (Leodir) me ajudar a levantar. Eu tinha um machucado no braço e a mão estava queimada por causa do ferro de passar. Minha mãe gritava de dor, então tiramos ela dos escombros, colocamos em cima de umas tábuas e saímos procurar as pessoas. Minha irmã estava conosco e não encontrava o filho, de 10 anos. Meu irmão achou o menino morto. Ela ficou muito desesperada, gritava sem parar."

Flora Tonial, sobrevivente. A mãe dela faleceu ao chegar ao hospital.

"Naquele dia, por volta das 22h30, chegou um conhecido em nossa casa pedindo socorro.Lembro que morreram 29 pessoas na sede e mais uma família de obreiros. Para ter ideia do vento, foi encontrado em Novo Horizonte (SC), cerca de 70 km distante, o paletó de um fazendeiro daqui que tinha sua carteira com os documentos no bolso. A fazenda só foi adquirida pela minha mãe 10 anos depois e nunca mais tivemos vendaval como aquele."

Lourdes Carneiro. atual proprietária da Fazenda Fortaleza.

"Encontramos muita gente morta, todos nus. Tive que levar vários cobertores do armazém para cobrir os corpos. Tinha a serraria, que era num campo. E tinha um morro com muitas pedras ao lado. Foi lá onde os corpos caíram. Da sede da fazenda, que era nova, ficou só o soalho. O galpão dos bois teve a cobertura arrancada, mas os animais ficaram no mesmo lugar. Três pessoas foram jogadas em cima de um colchão e se salvaram. Uma delas caiu ao lado e não teve a mesma sorte."

Waldomiro Carneiro. atual proprietário da Fortaleza.

  • Velório dos mortos pelo fenômeno climático: 35 casos fatais
  • Área atual da Fazenda Fortaleza, em Palmas. Tragédia ainda é difícil de ser esquecida

O vento começou a soprar repentinamente naquela sexta-feira, 14 de agosto de 1959, na Fazenda Fortaleza, que fica a cerca de 30 km do centro de Palmas, no Sudoeste do Paraná. Flora Nadir Tonial tirava as roupas do varal, colocava no cesto e prestava atenção em uma enorme formação de nuvens escuras que se aproximava. O barulho era ensurdecedor. "Não eram trovoadas comuns, fazia um barulho estranho, acho que era o furacão que vinha em nossa direção", recorda.

Mais de meio século depois, ainda é difícil para os sobreviventes falarem sobre uma das maiores tragédias naturais que se abateu sobre a região. Por volta das 16h30 daquele dia, a velocidade do vento aumentou. Seguiu-se uma chuva de granizo. Os moradores se esconderam em suas casas. Cerca de duas horas depois, a natureza mostrou toda a sua fúria, com ventos que superaram os 200 km/h. É como se aquele vilarejo tivesse sido varrido.

Até hoje os moradores do local não sabem ao certo o que os atingiu. Suspeitam de que tenha sido um tornado. Casas foram destruídas, pessoas jogadas dezenas de metros longe de suas moradias, árvores arrancadas pelas raízes e rebanhos inteiros de gado foram dizimados.

Na Fazenda Fortaleza foram registradas 35 mortes, mas nas propriedades vizinhas nada aconteceu. Nas terras de José Antônio de Araújo Maciel, o Tuta, havia uma serraria, a Santo Antônio, 12 casas e alguns galpões. As famílias que moravam ali dependiam economicamente do comércio da madeira e foram afetadas pela tragédia.

Lembrança

A tragédia provocou uma forte comoção na região de Palmas. Todas as vítimas foram veladas no ginásio municipal e o cortejo fúnebre reuniu centenas de pessoas. Os principais jornais da época noticiaram o fenômeno. O enviado especial da Gazeta do Povo, Moacyr Mitsuyasu, relatou em matéria publicada no dia 16 de agosto de 1959, que o fenômeno climático havia atingido uma faixa de terras de dois quilômetros. "Dezenas de tábuas estavam espalhas, casas caídas, pinheiros arrancados pelas raízes. Um locomóvel [espécie de trator movido a vapor usado para movimentar cargas pesadas] de uma serraria, pesando cerca de 5 mil quilos, foi deslocado uns 40 metros de distância", observou em trecho da reportagem.

Cinco anos depois da tragédia, celebrações religiosas ainda eram realizadas em memória das vítimas. O jornalista Luiz Carlos Bitencourt, natural de Palmas, diz que cresceu ouvindo histórias sobre a catástrofe. "Sempre se falava da dor dessas famílias, que nunca foi superada", relata.

Sobrevivente relata o desespero da família

Flora Tonial, hoje com 78 anos, conta que estava ao lado da mãe e dos irmãos, passando roupa, quando o tornado finalmente chegou sobre a casa da família.

"A finada mãe me disse: ‘Segure a porta que não vai ser nada’. Ela ficou sentada ao lado do fogão e eu fui fechar a porta. Quando cheguei perto, desceu tudo. Não vi mais nada. Meia hora depois, acordei e vi que a casa do meu irmão tinha vindo em cima da nossa", relembra. Na tragédia, ela perdeu a mãe, um sobrinho e uma tia. O pai estava viajando a trabalho.

Depois da ventania os sobreviventes começaram se reunir, ainda atordoados, para procurar quem tinha desaparecido.

Socorro

"A dona da fazenda (Aparecida Maciel) chegou pedindo socorro. Estava com o piá mais novo e com um enorme ferimento no quadril. Era um desespero só, morreram o outro filho dela e a empregada que cuidava das crianças. Recolhemos também dois rapazes que trabalhavam na serraria, mas não resistiram aos ferimentos", conta Flora.

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