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No Paraná, o casuísmo, a improvisação, o preconceito, a desinformação e interesses pessoais e políticos sempre estiveram à frente do que vem se chamando de políticas de combate às drogas.

Enquanto no Brasil da diversidade étnico-cultural o ponto de partida for o paradigma do "combate às drogas", teremos como resposta o fracasso das tímidas tentativas de políticas públicas; o aumento das violências; o jogo de poder; a deterioração das relações sociais. Isso acaba por referendar o seu oposto: a permissividade compulsória, o descaso com os mecanismos legais de controle social e a liberação das drogas.

O consumo de drogas se confunde com a própria história da humanidade e os conhecimentos produzidos ao longo dos tempos mostram que esse é um tema complexo em um tempo complexo. Falar sobre drogas exige pensá-las no mínimo sobre cinco enfoques. Cada um tem sua especificidade, mas são interligados tão intimamente que a ausência de um provoca a ruptura do outro. Refiro-me às ações em prevenção, intervenção em saúde, redução de danos, repressão e negligência.

No Paraná, o casuísmo, a improvisação, o preconceito, a desinformação e interesses pessoais e políticos sempre estiveram à frente do que vem se chamando de políticas de combate às drogas. Queremos políticas de estudos sobre drogas. No Paraná e no Brasil, a prevenção do abuso de drogas nunca foi prioridade. O tema emerge como um tema social contemporâneo, sem investimentos para sua superação no âmbito da educação. Por isso a cada dia a polícia se faz mais presente na escola.

Crianças e adolescentes, vitimizados por sua situação de vulnerabilidade pessoal e social, não encontram espaço nem lugar para intervenções no âmbito da saúde pública. Se introduzirmos o indicador gênero, as mulheres padecem num caos desconhecido, vítimas da supremacia masculina que a explora e culpabiliza, fazendo aumentar os números de detenção de mulheres por tráfico de drogas.

A redução de danos é desconsiderada na maioria das políticas locais. Levada adiante, geralmente por organizações não governamentais, sofre preconceito e carece de maiores recursos e credibilidade frente à população. A repressão, único viés para se agir sobre as drogas, exige maior investimento em recursos humanos, equipamentos e formação. É preciso olhar primeiro o ser humano, e depois o que ele faz.

Nesse contexto, a negligência é o grande destaque. Improvisamos, enquanto o tráfico é planejado; controlamos gastos vitais, enquanto o tráfico financia ações especiais; geramos desemprego, enquanto o tráfico atrai um contingente enorme de jovens; escolas se calam frente ao bullying, enquanto o tráfico estimula os líderes da violência; os comprometidos com a cidadania mendigam trabalho, enquanto os políticos adotam comissionados; a população vive com um salário de miséria, enquanto o tráfico facilita o enriquecimento ilícito. Na vida regrada somos anônimos, na vida ilícita nos tornamos mandatários.

A política de combate às drogas deu certo: tornamos-nos reféns do medo e impotentes frente aos dados. Aceitaremos no futuro próximo a liberação das drogas e veremos filhos e filhas do mundo morrerem de prazer.

Araci Asinelli da Luz é doutora em Educação e professora do Setor de Educação da UFPR.

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