
Quinze minutos deve ser o tempo estimado para que uma viatura policial atenda a uma ocorrência de assalto. Na prática, porém, esse tempo pode chegar a horas. Arlete* e Cecília* são moradoras de Curitiba uma vive no bairro Bigorrilho e a outra no Bacacheri. Elas não se conhecem, mas têm em comum o fato de a casa ter sido assaltada recentemente. As duas ligaram para o telefone 190 e marcaram no relógio o tempo de atendimento no local: Arlete esperou 70 minutos e Cecília 50 minutos. "Se um de meus familiares fosse refém, talvez não estaria mais entre nós. Os policiais demoraram muito para chegar", diz Cecília. Dois rapazes armados entraram na casa dela, levaram notebook, televisão de plasma, joias, roupas e o carro da família. "É angustiante, você fica com medo porque os ladrões podem voltar. Sem falar que os bandidos fogem tranquilamente e depois cometem mais crimes. Os mesmos assaltaram outra casa, próxima da minha, poucos dias depois", conta Cecília. Já Arlete teve de insistir para ter o atendimento: ligou três vezes para o serviço de emergência. "Eu tinha uma pessoa que havia testemunhado o crime, porque viu os bandidos saindo da casa. Ela cansou de esperar e foi embora. Achei que os policiais não viriam mais", afirma.
As estatísticas sobre o número de assaltos a residências em Curitiba e no Paraná não são divulgadas, segundo as polícias Civil e Militar, por uma questão de segurança: o ladrão pode se informar, por meio da mídia, onde é mais "fácil" assaltar. "Há ainda outra questão. A polícia deve promover a segurança e não deixar as pessoas inseguras porque determinado número aponta que tal bairro é mais perigoso que o outro", explica o comandante da Academia de Policiamento Militar do Guatupê, coronel Roberson Bondaruk. Mas, então, por que, em alguns casos, a viatura demora tanto tempo para chegar?
Bondaruk explica que são vários os fatores que prejudicam o atendimento policial. "A prioridade é para as ocorrências que envolvem risco à vida. Se o assaltante ainda está no imóvel, a viatura irá atender este caso antes de um outro, que o ladrão já saiu, por exemplo. É claro que a polícia deve atender as duas situações, mas a de maior urgência sempre terá prioridade. Por isso pode ocorrer a demora no segundo caso", diz. Os trotes telefônicos, segundo Bondaruk, ainda hoje são um complicador para a polícia, porque a viatura pode se deslocar para atender a um caso irreal. Há ainda as chamadas indevidas, em que as pessoas ligam para o telefone 190 pedindo para consertar uma tubulação quebrada ou para socorrer alguém que caiu na rua, esse segundo um serviço do Samu (telefone 192). O horário de pico do trânsito, segundo o coronel, é outro complicador para o trabalho das viaturas policiais, principalmente se a ocorrência acontece na região central da cidade.
Os moradores que foram assaltados também questionam se o número de viaturas não continua sendo insuficiente para a crescente demanda. O Bigorrilho, por exemplo, é atendido junto com outros sete bairros por apenas três viaturas; no Bacacheri são oito viaturas para nove bairros de grande extensão territorial os dados foram passados pelos Conselhos de Segurança e não são oficiais. Sobre esse aspecto, a Polícia Militar não se pronuncia porque envolve um dado sigiloso, que pode colocar a segurança das pessoas em risco principalmente se o ladrão souber onde estão as viaturas e quantas são.
É por causa da demora ou da falta de atendimento que algumas pessoas desistiram de chamar a viatura no caso de assaltos. O comerciante Laurentino* tem uma panificadora há três anos, no Pinheirinho, e já foi assaltado 15 vezes. Em uma delas, o ladrão atirou contra ele: a sorte é que a bala bateu no balcão e desviou. "Os policiais demoram entre 30 e 40 minutos para chegar. Nesse tempo, o ladrão já está longe. Já fiz diversos boletins de ocorrência e não adiantou nada. Agora desisti", diz. Para se proteger dos assaltos, Laurentino deixa pouco dinheiro no caixa e procura não reagir. "Quem sabe um dia terei dinheiro para contratar um segurança particular." A comerciante Simone*, dona de uma frutaria no Xaxim, conta que já chamou diversas vezes a polícia após ser assaltada. "Dependendo do dia, a viatura demora mais. Às vezes está longe ou atendendo outra ocorrência e não consegue chegar mais cedo", conta."Mesmo que o atendimento demore, em uma primeira vez, as pessoas não podem desistir de chamar a polícia. Caso contrário, elas permitirão que o ladrão não se sinta intimidado, o que pode provocar uma onda de assaltos", explica Bondaruk.
Outra dúvida recorrente é se a presença da polícia não gera confronto entre assaltantes e policias, o que pode colocar em risco a vida das pessoas. Bondaruk explica que mesmo com a possibilidade de ocorrer troca de tiros, é importante chamar a viatura sempre, o mais rápido possível. "A chegada dos policiais pode gerar esse tipo de problema, mas precisamos que as pessoas chamem prontamente a polícia para evitar que algo maior ocorra. É preciso inibir o delinquente", explica. Ele lembra de casos em que os assaltantes acabam torturando e molestando as vítimas em troca de informações. "Uma vez atendemos a uma situação em que o assaltante machucava os moradores porque queria saber onde estava o cofre. Na verdade, não existia cofre no local." Se o ladrão, com a chegada dos policiais, decidir fazer alguém de refém, Bondaruk afirma que o ideal é sempre seguir as ordens dadas pelo assaltante e ainda tentar manter a calma. "99% dos latrocínios (roubo seguido de morte) têm um final trágico porque houve reação da vítima", diz. É preciso não questionar a "autoridade" do ladrão naquele momento de estresse e nunca tentar fugir ou enganá-lo.
Tempo
O delegado Luiz Carlos de Oliveira, chefe da Delegacia de Furtos e Roubos de Curitiba, explica que o atendimento deve, efetivamente, ser feito dentro da média de 15 minutos após a ligação, dependendo da distância em que se encontra a viatura policial. "Uma hora é um tempo exorbitante, que faz com que o atendimento seja falho. As viaturas da Polícia Civil procuram atender, em média, dentro de 15 minutos", afirma. A questão é que poucas pessoas lembram do telefone 197.
Ao contrário do que se pensa, Oliveira explica que o assaltante de imóveis não costuma agir com frequência, como o ladrão de rua. "Ele é sazonal. Se analisarmos os dados, percebe-se que em um mês há uma quantidade maior de assaltos do que no outro. Isso acontece porque uma quadrilha começa a agir por um determinado tempo e depois é presa. Por isso, nos meses seguintes esse tipo de crime tende a diminuir", afirma.
O atendimento é falho, segundo Oliveira, porque não é feito ao mesmo tempo pelas polícias Civil e Militar. "Ele deveria ser em conjunto, isso porque o boletim de ocorrência (BO) da Polícia Militar (PM) não é adequado para as investigações. Ele facilita a vida do cidadão (que faz o BO no dia do assalto) e complica a nossa. Os boletins da PM ficam on-line passados três dias do fato e daí? Se a pessoa não vir até a delegacia, será difícil achar os ladrões", diz. O problema fica no ar, porque ainda não há uma previsão para que o atendimento aos assaltos seja feito por ambas as polícias.
* As pessoas não são identificadas porque foram assaltadas recentemente e temem passar por isso novamente.
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