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Diversão

O primeiro cinema, dentro de um parque

Historiadora conta como a indústria cinematográfica chegou a Curitiba, em uma época que a cidade não tinha mais de 25 mil habitantes

O primeiro cinema da capital funcionava neste prédio, localizado dentro da área do Colyseu | Reprodução
O primeiro cinema da capital funcionava neste prédio, localizado dentro da área do Colyseu (Foto: Reprodução)
Jornais da época comentavam sobre o público que frequentava o parque |

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Jornais da época comentavam sobre o público que frequentava o parque

A novidade atraía uma audiência bem vestida, mas que também era capaz de dar empurrões e pontapés para conseguir um lugar diante da telona |

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A novidade atraía uma audiência bem vestida, mas que também era capaz de dar empurrões e pontapés para conseguir um lugar diante da telona

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A curiosidade por descobrir como o cinema chegou a Curitiba levou a historiadora Angela Brandão ao Colyseu, em 1905: o primeiro parque de diversões da cidade. Foi na Rua Emiliano Perneta, esquina com Voluntários da Pátria, que começou a funcionar o primeiro cinematógrafo fixo da capital paranaense. Antes disso, existiam apenas sessões ambulantes – elas passavam por Curi­tiba e se dirigiam a outras cidades do Brasil.

No meio das galinhas que colocavam ovos de ouro, da barraca de tiro ao alvo, da máquina que imprimia cartões e que lia a sorte e do carrossel mecânico, a população de Curi­tiba sentava para assistir às sessões do cinema. Pri­meiramente não era o enredo do filme que chamava a atenção, mas sim a vontade de saber como funcionava o sistema de projeção. "Percebe-se que Curitiba passava, nesta época, pelo encantamento das máquinas. Nas fábricas, diziam que havia uma espécie de ‘ser mágico’ que transformava ma­deira em papel. No lazer não foi diferente: o carrossel e o cinematógrafo despertavam o interesse mais pelo modo como funcionavam do que pela diversão que proporcionavam", conta Angela, autora do livro A fábrica de ilusão, que narra a modernização na cidade de Curitiba.

As sessões também eram um encontro social: precedidas por um evento promovido pelas autoridades e pela imprensa. "Falava-se das melhorias do cinema, das no­­vas aquisições e da censura. Os cronistas dos jornais eram convidados a participar das sessões, pois assim davam publicidade ao Colyseu nos jornais", conta Angela.

Casamento infantil, Troça de estudantes, Ladrões de igreja e Viva a vida de solteiro eram alguns dos títulos das sessões da época. Mas foi somente quando o cinema começou a exibir imagens das próprias pessoas e da cidade onde elas viviam é que aumentou a preocupação em ver o que estava passando na tela. "Chamo esta fase de ‘espelho de Narciso’. O cinematógrafo deixa de ser uma viagem para outros países e torna-se um espelho da vida das pessoas. A partir daí, elas começam a valorizar mais o enredo em si", diz Angela. Entre as atrações locais estava um filme que apresentava a viagem na estrada de ferro do Paraná e outro que mostrava o desfile dos Volun­tários da Pátria na Rua XV.

O Colyseu foi inaugurado em 1905 e, nos seus primeiros cinco anos, teve como função central ser um parque de diversões. Já por volta de 1910, ele se transformou também em casa de show, no estilo dos atuais music halls, com apresentações de teatros, dançarinas e bandas locais. "Até hoje não se sabe ao certo qual era o público que gostava de frequentar o parque – se era a população mais rica ou a menos favorecida. A verdade é que o preço do bilhete para entrar no cinema era mais barato que o de uma ópera", explica Angela.

Nos jornais da época, que foram pesquisados pela historiadora, falava-se em belas mulheres que frequentavam o parque Co­­lyseu com seus trajes finos; no en­­tanto, os cronistas narravam também as brigas que aconteciam no local, de pessoas que se amontoavam na porta do cinema para conseguir entrar, com direito a empurrões e pontapés. O cinematógrafo da época também não escapou da censura: criticavam-se os filmes sobre adultério, roubo e pilhagem. Um jornal chegou a escrever que o cinematógrafo exibia filmes que abalavam os alicerces sociais; portanto, era uma má escola.

O parque funcionou ininterruptamente até 1915; depois disso, caiu em decadência, principalmente porque passou a ser mal frequentado. Mas a essa altura o bichinho do cinema já havia pegado os curitibanos: logo que o Co­­lyseu fez sucesso, outros locais também começaram a projetar filmes, como o antigo Theatro Guayra, o Hauer, o Éden, o Central Park, o Smart e o Mignon.

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