Ciro Gomes (PDT), candidato à Presidência, está sendo associado ao movimento Nova Resistência.| Foto: Reprodução/YouTube
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Nas últimas semanas, Ciro Gomes (PDT) despertou certa confusão em direitistas e esquerdistas. O candidato à Presidência disse que jamais apoiará a volta ao poder do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), criticou mais o petista que o presidente Jair Bolsonaro (PL) nas entrevistas e debates, e chamou as pautas identitárias de “baboseiras do esquerdismo”.

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“Ciro Gomes? Nunca critiquei”, disseram alguns influenciadores de direita nas redes sociais, postando vídeos do candidato atacando Lula. “Linha auxiliar do fascismo”, afirmaram alguns esquerdistas, como o ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL). “Ciro Gomes se presta ao ridículo papel de serviçal do Bolsonaro”, disse o jornalista Chico Pinheiro.

A mudança de tom em relação à esquerda foi vista por alguns como mera estratégia eleitoral. Outra hipótese, no entanto, ganhou força nos últimos dias em alguns meios de comunicação: a ideia de que Ciro estaria sendo indiretamente influenciado pelas ideias de um movimento chamado Nova Resistência.

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A desconfiança tem um motivo: o grupo é muito próximo do ex-ministro Aldo Rebelo (PDT), que apoia a candidatura de Ciro e é candidato ao Senado por São Paulo pelo mesmo partido do presidenciável. Entre os políticos brasileiros atuais, Rebelo é a encarnação mais próxima dos ideais do Nova Resistência. Algumas manifestações recentes do movimento em suas redes sociais e em seu site aumentaram o boato sobre o seu envolvimento com o candidato do PDT. “Ciro acordou! Que não durma de novo”, diz o título de um texto recente do site do grupo.

O que é o Nova Resistência?

Definido como fascista por alguns esquerdistas e como comunista por alguns direitistas, o Nova Resistência bagunça as etiquetas mais comuns da atual guerra cultural. Seus adeptos são capazes, por exemplo, de citar com autoridade escritores celebrados pelo conservadorismo como G. K. Chesterton (1874-1936) e Miguel de Unamuno (1864-1936), ao mesmo tempo em que manifestam admiração pelo trabalhismo de Leonel Brizola (1922-2004) e pelo nacionalismo do venezuelano Hugo Chávez (1954-2013).

Eles não se encaixam, contudo, no isentismo daqueles que dizem não querer se posicionar “nem à direita nem à esquerda”, já que apresentam uma visão clara do que pretendem para a sociedade.

Argumentam, por exemplo, que o “resgate das espiritualidades tradicionais” é “fundamental para o combate aos males modernos e pós-modernos”. Definem-se como tradicionalistas e nacionalistas, e são contra o globalismo. Defendem o distributismo, uma teoria econômica inspirada na doutrina social católica e difundida por autores como Chesterton e Hilaire Belloc (1870-1953), cuja principal ideia é a defesa das pequenas propriedades privadas – que deveriam pertencer às famílias – em oposição à concentração fundiária.

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Definem o individualismo como “a maior doença da modernidade e da pós-modernidade”, mas também condenam o coletivismo por sua “massificação das pessoas”. Como alternativa, sugerem o “comunitarismo”, uma perspectiva em que as pessoas não são vistas como meros indivíduos, mas como partes indissociáveis da comunidade, com um “sentido histórico e identitário”. “A família é a menor e mais fundamental das comunidades e, por isso, é a base do Estado e da sociedade”, diz o Nova Resistência.

O movimento diz ter se inspirado em algumas ideias do filósofo russo Aleksandr Dugin, mas não o considera um guru. Faz mais elogios do que críticas ao líder russo Vladimir Putin, mas não o considera uma figura inquestionável. Em um texto de 2020, o grupo rebate alguns rótulos que lhe costumam ser aplicados: “Não somos ‘duginistas’, não somos uma seita análoga aos olavetes (seguidores do reacionário Olavo de Carvalho), com seu culto fanático à figura de um intelectual. Rejeitamos sectarismos e todo guruísmo. Quanto a Alexander Dugin, dialogamos com e nos apropriamos de seu chamamento à construção de uma Quarta Teoria Política (nem liberalismo nem comunismo nem fascismo). De resto, não somos tutelados pelo Movimento Eurasiano de Dugin (ou qualquer outro) e nem lhe devemos qualquer satisfação nem tampouco nos responsabilizamos por quaisquer posicionamentos desse ator político russo. Somos brasileiros e latino-americanos, com nossa própria ‘agenda’ de interesses.”

Nas pautas de costumes, o Nova Resistência é contra algumas das bandeiras ditas “progressistas”. Os adeptos do movimento costumam criticar, por exemplo, o lobby LGBT, grupos como o Black Lives Matter e a ideologia de gênero. Também condenam, no entanto, certas linhas de conservadorismo, apesar de serem tradicionalistas. Um texto recente do site do movimento afirma, por exemplo, que “o conservadorismo burguês” foi “impregnado pela decadência moderna”. “Quando se fala em ‘conservadorismo’, é preciso questionar: o que há para conservar? As noções de família da burguesia corroeram o que de fato pregavam as tradições como o núcleo ou seio familiar. O neoliberalismo engoliu a vida dos clãs e famílias. Homens e mulheres, que outrora tiveram suas funções naturais definidas, hoje são esmagados pela fauna cinzenta das urbes”, diz o artigo.