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Fronteira

O tráfico viaja de ônibus

Sem fiscalização nem aparato de segurança, rodoviária de Foz do Iguaçu vira porta de saída de adolescentes que levam drogas a outras cidades e estados

PM leva cão farejador para localizar drogas em bagagens: cena rara | Fotos: Christian Rizzi/Gazeta do Povo
PM leva cão farejador para localizar drogas em bagagens: cena rara (Foto: Fotos: Christian Rizzi/Gazeta do Povo)
Apreensão de adolescentes diminuiu na capital e aumentou na região de Londrina. Confira |

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Apreensão de adolescentes diminuiu na capital e aumentou na região de Londrina. Confira

Foz do Iguaçu - Por falta de fiscalização, o Terminal Rodoviário de Foz do Iguaçu tornou-se reduto da criminalidade infanto-juvenil. Conforme estimativas do Conselho Tutelar, ao mês cerca de 60 adolescentes de Foz do Iguaçu são surpreendidos em outros municípios brasileiros com drogas após embarcarem em ônibus de linha. É na rodoviária também que a Delegacia do Adolescente (DEA) registra 70% das ocorrências de tráfico envolvendo meninos e meninas de até 18 anos. Apesar de ser uma cidade de fronteira, Foz do Iguaçu não tem policiamento 24 horas na rodoviária e nenhum aparato de segurança, como scanner. Cerca de 40 mil passageiros embarcam ao mês no terminal.

A presidente do Conselho Tutelar de Foz do Iguaçu Ednéia Riquelme diz que todos os dias recebe mais de um telefonema de Conselhos Tutelares de outros municípios informando sobre apreensão de adolescentes que moram em Foz do Iguaçu. O órgão é acionado porque é responsável por avisar a família. Quando o adolescente fica preso na cidade onde ocorreu a apreensão, a prefeitura de Foz do Iguaçu paga a passagem de ida para os pais visitá-lo e a unidade onde ele está preso, a de retorno.

Para Ednéia, há vários fatores que predispõem o envolvimento dos jovens de Foz do Iguaçu com o tráfico. A falta de punição dos aliciadores é um deles. A polícia consegue apreender os meninos e meninas, conhecidos como "mulas", mas dificilmente localiza o responsável por contratá-los e seduzi-los. "O adolescente é punido, mas quem fornece a droga dificilmente é preso", diz. A falta de oportunidade de qualificação profissional também é apontada pela conselheira como uma das causas do envolvimento dos jovens com o tóxico. A Guarda Mirim, que oferece qualificação para os adolescentes e os encaminha para trabalhos na condição de aprendiz, atende hoje 860 jovens, mas tem uma lista de 4 mil inscritos aguardando uma vaga. Em toda a cidade há pelo menos 26 mil jovens de 14 até 18 anos.

Outra condição que se tornou aliada dos traficantes é o somatório entre a falta de fiscalização e a lei. Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), crianças com 12 anos completos podem viajar desacompanhadas dos pais. Em cidades de fronteira onde a fiscalização é um ponto fraco, a situação torna-se complicada. "O problema não é a lei, é a falta de fiscalização e investigação criminal", diz Ednéia.

Destinos

O tráfico juvenil é mais freqüente a partir dos 14 anos. É nessa fase que o adolescente começa a buscar, além de oportunidades de trabalho, que dificilmente encontra, auto-afirmação. Daí nascem desejos presentes na cabeça da maioria da garotada, mas que se tornam realidade para a minoria: ter um tênis de marca que pode custar de R$ 200 a R$ 500 ou uma calça da moda, por exemplo. É nesse momento que os aliciadores ganham força para convencer os adolescentes oriundos de famílias de baixa renda a entrar para o tráfico e conseguir dinheiro.

Conforme relatos que chegam à polícia, os adolescentes levam de 10 a 20 quilos de droga por viagem, em um sistema de tráfico formiguinha – ou seja, em pequenas quantidades –, e recebem cerca de R$ 500. A passagem de ônibus é adquirida por um adulto e a droga transportada em bagagens, presa ao corpo ou escondida dentro de equipamentos eletrônicos. Na maioria das vezes, os traficantes deixam "a encomenda" na rodoviária momentos antes do embarque sem o adolescente saber até mesmo a quantia e o tipo de droga que leva. Em uma das ocorrências, uma garota paraguaia levava crack no sutiã. Outra adolescente presa revelou à polícia que em uma semana conseguiu acumular R$ 1,5 mil com o tráfico formiguinha.

Em Foz do Iguaçu, os jovens são aliciados para levar drogas para todas as partes do Brasil. Os destinos mais visados são cidades do próprio Paraná e dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Mas há também casos registrados em Minas Gerais e Bahia.

Quando não são pegos na rodoviária, meninos e meninas acabam barrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no posto de Santa Terezinha de Itaipu, limite com Foz do Iguaçu, ou em outros destinos, como Londrina. O escrivão da DEA, Edson Antonio Boito, diz que alguns traficantes já trazem os adolescentes para praticar o crime, enquanto outros os recrutam na própria região.

Neste ano, mais de 1,3 mil quilos de maconha foram encontrados com adolescentes em Foz do Iguaçu, superando o total de 750 quilos do ano passado.

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