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Entre os projetos para o Mundial de 2014 em Curitiba está a revitalização da Avenida Cândido de Abreu | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Entre os projetos para o Mundial de 2014 em Curitiba está a revitalização da Avenida Cândido de Abreu| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Fifa pode ter plano B

A escolha por 12 cidades-sede é, de certa maneira, razão de alívio para o Brasil. A Fifa exige apenas oito municípios dispostos a receber a Copa do Mundo em razão do número de grupos da competição, o que cria margem para o corte de quatro cidades. Na África do Sul, serão 9 cidades, mas alterações no planejamento inicial são frequentes. Johannesburgo, por exemplo, construiu dois estádios, garantindo a realização de partidas em ambos os complexos esportivos.

Oficialmente, contudo, não há interesse em diminuir o número de cidades-sede. O Ministro dos Esportes, Orlando Silva, cogitou a possibilidade, mas, em seguida, desmentiu. "Entendo que existe esse risco. A Fifa dá sinal verde para as cidades, mas há coisas que devem ser feitas em prol do maior evento midiático do planeta", afirma José Roberto Bernas­coni, ex-presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consul­­tiva (Sinaenco). Uma das questões prioritárias deve ser a segurança na transmissão de dados. "A luz e a internet, por exemplo, não podem cair jamais", afirma.

Inglaterra

Na semana passada, a revista Veja publicou matéria informando que a Inglaterra seria o "plano B" da Fifa, caso o Brasil não mostrasse capacidade para organizar o evento. A principal razão para o fato está no atraso das obras dos estádios. O prazo para início das intervenções expirou na terça-feira, e apenas 6 dos 12 estádios estão dentro do cronograma. Esse é o segundo prazo indicado pela Fifa para começar as obras. Por esse motivo, o secretário-geral da entidade, Jerome Valcke, declarou essa semana que "o Brasil não está no caminho certo". Até hoje, nenhum país perdeu o direito de sediar a Copa em 18 edições.

Oficialmente, a Fifa nega a possibilidade de transferência da competição. O script, no entanto, se repete, pois, durante a organização da Copa deste ano, a África do Sul também foi ameaçada, só que a Alemanha era o fantasma da época.

  • Veja algumas das principais novidades em mobilidade urbana previstas

Quase um ano após o anúncio oficial das 12 cidades-sede da Copa do Mundo do Brasil, em 2014, apenas 9% dos principais projetos de mobilidade urbana e infraestrutura começaram a ser executados no país e só 5% estão prontos. A maior parte – em torno de 72% – está na etapa de projeto, de acordo com levantamento da Gazeta do Povo em 10 das 12 sedes. Quanto maior a demora para iniciar as obras, menor será o legado deixado pelas intervenções. Legado, aliás, que foi o argumento principal para trazer o Mundial ao país. Ainda não é possível afirmar que o Brasil está atrasado, mas a dificuldade para iniciar as intervenções virou motivo de preocupação.Mesmo invisível à população, a elaboração de um bom projeto é essencial para agilizar as obras – facilita, inclusive, as licitações. "O projeto é a principal parte de uma execução. Se não estiver bem consolidado, a obra pode atrasar. Não se pode queimar essa etapa", diz Susana Lins Affonso da Costa, técnica da assessoria de assuntos da Copa do Mundo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). À exceção dos complexos esportivos, a maior parte dos municípios não elaborou projetos para a Copa do Mundo, apenas pretende antecipar obras de seus planos diretores, aproveitando o interesse de investidores no evento. Ex-presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arqui­­tetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) e atual presidente do Sinaenco paulista, José Roberto Bernasconi alega que o planejamento poderia estar mais avançado justamente pelas reformas serem convencionais. Era evidente, em sua opinião, a escolha por algumas cidades (São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo). "Já é possível afirmar que perdemos tempo para deixar um grande legado", afirma. "A rigor, temos 48 meses, tempo suficiente para construir estádios e melhorar a infraestrutrura, sobretudo portos e aeroportos", acrescenta.

Conselheiro consultivo e ex-presidente do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), Luiz Claudio Mehl considera atrasado o planejamento nacional. "Perdemos tempo para resolver problemas de mobilidade. É preciso apressar os projetos para que sejam discutidos pela sociedade. Qualquer obra da Copa precisa ser considerada legado, pois a sociedade vai conviver com essas intervenções diariamente", afirma Mehl. E a preocupação está em duas limitações comuns aos projetos cumpridos às pressas: a falta da precisão necessária e o elevado custo a ser pago na execução.

A razão para se chegar a esse ponto, na opinião dos consultores, é a falta de cultura brasileira em elaborar projetos de engenharia. "Curitiba é privilegiada nesse aspecto pela existência do Ippuc e por ter partido de plano diretor há 40 anos", lembra Mehl. A mesma preparação, porém, não é observada na maioria das cidades brasileiras. "Fiquei muitos anos sem ir a Manaus. Voltei há pouco tempo, e o crescimento foi explosivo. Sem projeto urbano, exige-se maior e melhor ordenamento da infraestrutura", alerta. Essa cultura, no entanto, vai ser implantada aos poucos, e a organização de eventos como a Copa do Mundo deve acelerar o aprendizado. "Paciência é fundamental, pois essa cultura será implantada aos poucos", diz Susana.

No entanto, o sinal de alerta precisa ser ligado. No ano passado, uma missão da Associação Nacional dos Transportes Públi­­cos (ANTP) visitou a África do Sul e constatou que a postergação do início das obras impediu que um legado maior fosse deixado. A discussão sobre quem deveria fazer e, principalmente, arcar com os custos das obras atrapalhou a organização do evento. Discus­­sões sobre a responsabilidade de investimento também estão a pleno vapor no Brasil.

O secretário-executivo do Comitê Paraná para Assuntos da Copa do Mundo de 2014, Wilson Portes, se mostra tranquilo e diz, contudo, que o legado não será uma ficção. "Os resultados serão positivos em termos de infraestrutura, hotelaria, restaurantes e turismo. A cidade e o estado te­­rão benefícios importantes", diz. Portes avalia como positiva a si­­tuação do Paraná. "Estamos dentro dos prazos e cronogramas na parte estrutural. Creio que 80% estão avançados, precisamos resolver os outros 20%", diz.

Recomendações

As recomendações da Fifa são praticamente exclusivas para os estádios – o prazo para início das intervenções venceu na última segunda-feira, dia 3. Quando o tema é mobilidade urbana, a entidade não institui data limite para início das obras. Em e-mail enviado à Gazeta do Povo, a Fifa frisa a necessidade de que os estádios estejam prontos até 31 de dezembro de 2012, a fim de serem usados e, sobretudo, testados na Copa das Confederações, em 2013. Em tese, portanto, o mesmo deveria se aplicar à infraestrutura.

Colaboraram Isadora Rupp e Bruna Righesso

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