
Mesmo com as críticas de superlotação, atrasos e desconforto, os ônibus da capital são o principal meio de transporte para 60% dos trabalhadores curitibanos. Levantamento do instituto Paraná Pesquisas, feito com exclusividade para a Gazeta do Povo, mostra que o modal está muito à frente de alternativas como o automóvel e a bicicleta quando o assunto é ir até o local de trabalho.
A pesquisa comprova o que foi sentido na prática na última semana com a greve dos motoristas e cobradores de ônibus de Curitiba: a alta dependência do transporte coletivo pelos curitibanos. Na terça-feira, 2,3 milhões de passageiros deixaram de ser atendidos e, sem os funcionários, empresas, lojas e estabelecimentos por toda a cidade não puderam abrir as portas.
Para o professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ramiro Gonçalez, o que estimula o uso do ônibus em Curitiba não é a qualidade do sistema, mas a falta de opções de transporte principalmente para os trabalhadores que têm de percorrer longas distâncias, como aqueles que vêm da região metropolitana.
"A greve dos ônibus e todos os transtornos que vieram com ela foi um gatilho para as pessoas repensarem a relação de mobilidade que têm com a cidade. Não estamos desenvolvendo alternativas simples, como o transporte solidário e sites colaborativos de caronas", defende o pesquisador.
No levantamento do Paraná Pesquisas, o automóvel surgiu como a principal opção para 25% dos 430 entrevistados. Já outras alternativas, como a bicicleta, o táxi e até o deslocamento a pé, foram citadas por apenas 7% dos trabalhadores.
Apesar de defenderem a prioridade do transporte coletivo sobre o individual, especialistas são contrários à prevalência do ônibus diante de outras opções de modais. Além da saturação, frente à falta de alternativas, o sistema fica na berlinda devido aos altos custos de manutenção e oscilações constantes no valor das tarifas, ligadas a reajustes salariais e variações dos insumos.
"Curitiba já chegou a tal porte que não podemos mais depender apenas dos ônibus. Hoje, uma grande falha da administração pública é a malha cicloviária inacabada. Se essa infraestrutura fosse mais bem desenvolvida, teríamos outro modal que poderia auxiliar o transporte de maneira geral", avalia o urbanista e mestre em Gestão Urbana Rafael Sindelar Barczak.
A ampliação do espaço para os ciclistas, inclusive, é apoiada pela grande maioria da população. Do total de entrevistados pelo Paraná Pesquisas, 96% afirmaram ser favoráveis à criação de faixas exclusivas para bicicletas.
Compras
Por outro lado, o levantamento mostra que os papéis se invertem quando o curitibano sai para fazer compras. Nesse caso, 54% relataram preferir o automóvel. Em segundo lugar aparece o ônibus, que foi citado por 25% dos entrevistados, seguido do deslocamento a pé. Mais uma vez, a bicicleta foi um meio de transporte pouco citado.



