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Em 2006, ficou mais perigoso pegar um ônibus em Curitiba e na região metropolitana: embora o número total de roubos no sistema de transporte tenha caído em relação a 2005, os assaltos às linhas do transporte coletivo no ano passado subiram 26% em comparação com o ano anterior, e passaram a representar 66% do total de 3.054 roubos registrados no sistema de transporte. Ao contrário de 2005, quando a maioria (51%) dos 3.181 assaltos ocorreu em estações-tubo, no ano passado os ônibus que rodam nos municípios próximos à capital foram o alvo preferido dos bandidos.

Segundo um balanço feito pelo setor de Combate e Prevenção a Assalto do Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas empresas de transporte de passageiros de Curitiba e região metropolitana (Sindimoc), das 10 linhas mais assaltadas no ano passado, 8 fazem parte da frota que atua na região metropolitana. Na linha Água Clara, que liga o centro de Pinhais ao bairro de mesmo nome e que ficou em primeiro lugar no ranking do ano passado, o clima é de expectativa três semanas após o último assalto sofrido, quando motorista e cobrador foram forçados por dois homens armados a descer do ônibus, desviado até o bairro Acrópole, em Piraquara. "Eles prometeram que essa seria a última vez", diz o cobrador P.R.S., 47 anos, que passou por 7 roubos em 2 anos e 4 meses de trabalho na linha.

Em 2006, foram registrados em média cinco assaltos por mês no Água Clara. "Fico rezando para ter dinheiro no caixa, senão ameaçam a gente de morte", diz o cobrador. Mesmo com a tranqüilidade aparente, a tensão permanece. "Se alguém entra no ônibus e eu não conheço, já acho que é bandido", diz o motorista Anderson Rosa, 26 anos, que trabalha neste trajeto há cinco meses e já sofreu quatro assaltos. "Eles sempre estão armados, usam mulheres grávidas e até mesmo aparecem de terno e gravata", diz. Segundo cobradores, motoristas e usuários, os bandidos agem sempre armados e, com mais freqüência, à noite durante os dias de semana ou em qualquer horário nos fins de semana.

A operadora de telemarketing Jéssica dos Santos, 24 anos, lembra com medo dos dois roubos que presenciou. Num deles estava em companhia de sua filha, Isabeli, 6 anos. "Tentei disfarçar para que ela não percebesse. Foram uns sete pontos até limparem totalmente o caixa", afirma.

No entanto, não foi em nenhuma das linhas mais assaltadas que ocorreu uma das situações mais trágicas de 2006. Na noite de 10 de dezembro, o soldado da Polícia Militar Marcelino David Kais, 47 anos, morreu durante um assalto na linha Timbu, que segue de Quatro Barras ao centro de Curitiba e passa pela Vila Zumbi, em Colombo. Dois passageiros também foram baleados. O PM estava fardado e ia ao trabalho. De acordo com o Sindimoc, nos últimos quatro anos 23 pessoas morreram durante roubos cometidos nos ônibus.

Redução

O subchefe do setor de Operações Veladas da PM, tenente Lucas Guimarães, ressalta que o número de roubos no sistema de transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana vem caindo nos últimos quatro anos. O grupo atua com policiais à paisana e serviço de inteligência nos ônibus desde 2003, quando o número de assaltos registrados foi de 5.592, segundo o Sindimoc. "Estamos atentos ao problema da região metropolitana e trabalhando para coibir o crime no local", diz. O tenente explica que uma das maiores dificuldades enfrentadas pela polícia é a falta de registro das ocorrências. "Temos de ligar todos os dias para as empresas, que nem sempre fazem o boletim", diz.

É o caso da empresa Redentor, a que mais sofreu assaltos na capital em 2006. De acordo com o gerente de operações, Cláudio Cordeiro Filho, quando os valores roubados ficam abaixo de R$ 50 e não há violência, a polícia não é acionada. "A demora é muito grande. Em benefício ao usuário, preferimos trocar de cobrador e continuar a viagem", diz. Já o diretor executivo do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros no Estado do Paraná (Setransp), Ayrton Amaral, afirma que a prática ocorre em algumas empresas. "O trabalho da polícia é bom, mas o efetivo ainda é pequeno para o tamanho do sistema", diz.

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