
Três dias após o acidente entre um biarticulado e um ligeirinho, que deixou pelo menos 40 feridos na tarde de sábado, em Curitiba, a reportagem da Gazeta do Povo flagrou ontem ônibus furando o sinal vermelho na capital. Os motoristas desrespeitaram o sinal vermelho nos cruzamentos da Avenida 7 de Setembro com a Rua Brigadeiro Franco, no Centro, e da Avenida João Gualberto com a Rua Deputado Mário de Barros, no bairro Juvevê.
O desrespeito ao sinal é a principal hipótese levantada por especialistas para o acidente de sábado, ocorrido no cruzamento da Travessa da Lapa com a rua André de Barros, que deixou pelo menos 40 feridos. Os motoristas envolvidos negam que tenham furado o sinal. O laudo definitivo sobre as causas da colisão só deverá ficar pronto dentro de dois meses.
O especialista em tráfego Orlando Pinto Ribeiro, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo, diz que muitas vezes o desrespeito ocorre porque os condutores não costumam parar no semáforo, mas continuam trafegando em baixa velocidade à espera do sinal verde. "Muitas vezes eles conseguem visualizar que o sinal vai abrir e retomam velocidade. Uma prática inadequada que deveria ser coibida", diz. Para Ribeiro, os condutores podem calcular errado e causar acidentes. Uma das causas para isso, segundo o professor, é a pressão em cima dos motoristas para que eles cumpram os horários.
Orientação
O presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba, Anderson Teixeira, diz que praticamente todas as empresas do transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana orientam os motoristas a não parar o veículo no sinal vermelho, mas tomarem uma distância, se movimentarem lentamente e aguardarem a abertura do semáforo. O objetivo seria reduzir os custos com o óleo diesel.
Para o presidente do sindicato, a medida tem um efeito benéfico, ao diminuir a emissão de gás poluente. Por outro lado, segundo Teixeira, essa orientação acumulada a responsabilidades como cumprimento de horário causa estresse aos motoristas.
As empresas negam a afirmação do sindicato. A assessoria de imprensa do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana diz que oferta cursos de boas práticas, de economicidade e direção defensiva e que não há essa orientação.
A empresa Leblon, responsável pelo ligeirinho que se envolveu no acidente de sábado, também nega a prática. "Acho um absurdo isso", diz André Willy Isaak, gerente de recursos humanos. A reportagem tentou entrar em contato com a empresa Glória, responsável pelo biarticulado envolvido no acidente, mas não teve retorno. A assessoria da Urbs, empresa que gerencia o transporte na capital, disse que a prática de não parar o veículo não seria tolerada pela empresa.
Para o professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Garrone Reck, um agravante no acidente de sábado é que não há visibilidade no local da colisão, a esquina da Rua André de Barros com a travessa da Lapa. Para ele, os ligeirinhos deveriam trafegar em vias diferenciadas e os corredores dos biarticulados também podem ser repensados. Reck condena a prática de o motorista se adiantar ao semáforo. "Tem que parar. Não dá para ficar apostando que vai abrir o sinal", afirma.



