A Secretaria de estado da Educação terá de se explicar com a Assembléia Legislativa sobre o teor político-ideológico encontrado em livros didáticos distribuídos à rede pública de ensino do Paraná. O líder da bancada de oposição ao governo, deputado Valdir Rossoni (PSDB), enviou ao secretário Maurício Requião requerimento cobrando quatro informações: os reponsáveis pela escolha dos livros; os critérios usados na escolha do material; as disciplinas que recebem o material didático; o total de escolas que recebem este material e desde quando.
A Gazeta do Povo publicou reportagem no domingo mostrando a preocupação de pais e educadores com o conteúdo ideologizado do Livro Didático Público produzido por professores da rede estadual de ensino e disponibilizado às escolas. As críticas recaem sobre o capítulo 3 do livro da disciplina de Educação Física, que, na avaliação de especialistas em educação, faz uma apologia ao comunismo numa contraposição ao capitalismo.
A reportagem também suscitou opiniões divergentes entre os leitores. O professor Augusto Ferreira, de Curitiba, escreveu suas críticas com base na teoria da conspiração. "Será que a Globo determinou que inclusive as afiliadas nos estados comprem essa briga? Será que essa orquestração é mais ampla e os setores 'de bem', como se auto-proclamam, estão se organizando contra a esquerdização do país? Ou, quem sabe, de toda América Latina, já que o editorial da Gazeta também dirige seus ódios contra Chavez e a revolução bolivariana?"
O professor continua o texto em tom de galhofa "Será que voltarão às ruas as marchas por Deus e pela Família, como em 64? Será que a Hebe, a Ana Maria, a Ivete, a Regina e outros 'cansados' também vão apoiar?" e finaliza com a fina-flor da ironia: "Ai que medo". Com opinião contrária, o consultor Sérgio Augusto Leoni Filho, também de Curitiba, acha "vergonhosa a apologia ao marxismo" nos livros didáticos.
"Os autores deste lixo ideológico deveriam complementar o texto demonstrando como os estados comunistas utilizavam o esporte para demonstrar a 'superioridade socialista', empanturrando as crianças com anabolizantes, hormônios e outros produtos, virilizando as mulheres, criando seios nos homens, entre outras aberrações", diz.
Já o professor Clóvis Rogge, também da capital, acredita que a educação brasileira deveria merecer um mínimo de atenção de pais e educadores, pois acredita que para governantes e legisladores ela é apenas uma fonte de manutenção do poder pela ignorância. "Valorizar Marx e aqueles que distorceram muitas de suas teorias, como Lenin, Stalin, Mao e Fidel, e demonizar Adam Smith e o liberalismo, insurgindo-se contra a economia de mercado, nos coloca no horizonte a triste visão da experiência fúnebre que a Europa do Leste e a franja asiática tentam esquecer. E neste 'circo dos horrores' que se transformou a educação no Brasil, o Paraná contribui de forma substancial para o deprimente espetáculo", conclui Rogge.
Professor de Filosofia e História em Pinhais, Marculino Camargo diz não existir aulas ou textos que não sejam ideológicos, pois são reflexos de quem os produz. "Tudo o que falamos ou escrevemos é sistematizado dentro de uma ideologia". Segundo ele, nos livros de História muitas vezes o próprio título revela a ideologia dominante. "Por exemplo, o 'descobrimento' é uma manifestação do capitalismo mercantilista europeu que desconsiderava a existência de outros povos." Para ele, o ideal seria não existir um livro básico, mas que professores e alunos pesquisassem várias obras confrontando posições antagônicas para cada um ir construindo sua verdade, mesmo a histórica.



