
Após a segunda noite de atentados a bases policiais e ônibus do transporte coletivo em Santa Catarina, com ataques em seis cidades, autoridades já reconhecem que as ordens partiram de facções criminosas. A cúpula da segurança, que em princípio relativizou os ataques, falando em "imitação" dos atentados recentes em São Paulo, investiga se as ordens vieram do presídio de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, como retaliação a supostas torturas praticadas na unidade. Uma agente prisional casada com o diretor do presídio, Carlos Alves, foi morta a tiros no mês passado. O governo anunciou ontem que Alves deixará o cargo, mas por motivos pessoais.
Na primeira noite houve seis ataques em três cidades. Já entre a noite de terça e a madrugada de ontem, foram 17 atentados em seis municípios: Florianópolis, Palhoça, Navegantes, Itajaí, Criciúma e Blumenau. Seis ônibus foram incendiados e três unidades policiais, atacadas. Não houve feridos graves.
O reconhecimento da ligação com o sistema prisional levanta suspeita de atuação da facção PGC (Primeiro Grupo Catarinense), que atua nos presídios do estado. "Identificamos a existência do grupo em 2011, após ataques a bases da polícia, mas não tivemos detalhes de quem o comanda", disse o procurador-geral de Justiça, Lio Marin.
Ao todo, 23 pessoas foram presas sob suspeita de participação nos ataques. O governador Raimundo Colombo (PSD) afirmou que as detenções confirmam que as ordens tiveram origem em grupos criminosos e em ações isoladas de vandalismo. "Uma parte dos atentados ocorre por ação de organizações nos presídios e outra parte é de vândalos ou oportunistas que se aproveitam da situação para confrontar o Estado", disse o delegado-geral de Polícia Civil, Aldo Pinheiro.
A empresa de transporte coletivo Canasvieiras, que teve três ônibus incendiados, registrou ontem redução de 50% no movimento das linhas que sofreram ataques. "Não deixo mais minha filha andar sozinha na rua", disse Tayana Kadletz, 36 anos, moradora do Saco dos Limões a delegacia do bairro foi atacada nas duas noites.
Morador de Florianópolis, o ex-tenista Gustavo Kuerten lamentou a onda de violência. "Vivemos total insegurança", escreveu no Twitter.
Vídeo
Um vídeo gravado dentro do presídio de São Pedro de Alcântara mostra dois detentos agradecendo outros presos pela onda de violência na capital catarinense. O vídeo foi divulgado no fim da tarde de ontem pela televisão local. Na gravação, os presos Rodinei do Prado e Adílio Ferreira, conhecido como Cartucho, agradecem os comparsas pelo "apoio e empenho em prol da facção". Em outro trecho, Rodinei informa detalhes de um assalto a um supermercado e sobre a chegada de drogas e armas vindas "de um contato bom lá de cima".
E-mail põe em alerta a polícia do Paraná
Diego Antonelli e Karlos Kolhbach
Forças policiais do Paraná estão em alerta para possíveis ataques de facções criminosas, como as que têm ocorrido em Santa Catarina e São Paulo, desde o início do mês. Um e-mail teria sido enviado aos comandantes da Polícia Militar do estado alertando para eventuais ataques. Procurada pela reportagem, a assessoria da PM não confirmou e nem desmentiu o alerta. "A Polícia Militar informa que é procedimento padrão da profissão estar sempre alerta", disse, em nota.
Ontem, o governador Beto Richa (PSDB) demonstrou preocupação com a onda de violência nos estados vizinhos. "Estamos monitorando essas ações e tomando as medidas necessárias para evitar que isso se instale também no estado do Paraná", disse.
Na semana passada, o secretário de Defesa Social de Londrina, Raul Vidal, afirmou ter informações de que o crime organizado de São Paulo teria ordenado ataques a policiais do Paraná. "A ordem veio por Foz do Iguaçu, de dentro da cadeia", declarou.
Colaborou Fabio Silveira, do Jornal de Londrina




